
O dérbi da segunda circular tem muita popularidade e tradição em Portugal. Já nem se falando do ponto de vista sentimental para adeptos de águias e leões, costuma-se dizer que um duelo entre o Benfica e o Sporting ultrapassa Lisboa e ultrapassa o país. Cá dentro, fruto de durante muito tempo terem sido os dois emblemas com mais adeptos (ainda hoje, são os dois clubes com mais massa associativa), o jogo entre encarnados e verde-e-brancos divide o país ao meio. Um momento que faz parar Lisboa, o país e algumas partes do mundo com emigrantes portugueses, seja nas suas casas, nos cafés e outros locais de convívio. O dérbi é o dérbi, independentemente dos lugares que as duas equipas ocupem no momento, um Benfica-Sporting (ou Sporting- Benfica) é sempre um jogo especialíssimo.
Entre os anos 1940 e princípios dos anos 1980, o dérbi da segunda circular era o jogo cabeça de cartaz do campeonato nacional português. Durante este período, com a exceção de alguns anos, em que um dos emblemas se encontrava com resultados abaixo da expetativa, quase que se podia dizer que quem vencesse o duelo entre Benfica e Sporting, na Luz ou em Alvalade, estava mais perto de alcançar o título de campeão nacional. Tal era a superioridade das duas equipas em relação a todas as outras.
A partir dos anos 80 até aos dias de hoje, apesar de em muitos anos, ambos os emblemas terem perdido muito terreno e protagonismo para o rival a norte (vestido de azul e branco), a intensidade do “velhinho” dérbi não perdeu a mesma popularidade e tradição. Um triunfo sobre o rival de a poucos quilómetros, dá vida e dá alento à sua temporada. Embora durante o mesmo período, o dérbi já não tivesse (na maioria das vezes) o caráter ultradecisivo que teve no passado, a verdade é que foram sempre surgindo, ao longo da história mais recente, dérbis que ditaram decisivamente o destino das duas equipas no campeonato nacional a poucos meses (às vezes, semanas) do fim.
Para o Campeonato Nacional, realizaram-se 21 dérbis (de todos os dérbis) no novo Estádio da Luz e dos quais, oito foram realizados na segunda volta. No total, o histórico de 21 anos favorece claramente as águias com onze triunfos, seis terminaram empatados e quatro foram ganhos pelos verde-e-brancos. No entanto, a balança pende esmagadoramente a favor dos encarnados quando o dérbi da segunda circular é disputado na segunda volta. Em oito jogos, por seis vezes, o Benfica manteve os três pontos na sua catedral, um terminou em empate e apenas por uma vez, o Sporting saiu vencedor.
No que diz respeito aos golos, o registo acompanha o anterior, embora com menos fosso. Nos 21 jogos entre águias e leões realizados no novo Estádio do Luz, as equipas do Benfica apontaram 31 golos, os jogadores do Sporting somente 24. Dos 31 tentos apontados pelos encarnados, 15 reportam apenas aos dérbis da segunda volta. Quanto aos leões, das 24 bolas que colocaram nas redes encarnadas, apenas oito foram nos jogos da segunda ronda do campeonato.
Contudo, desde a inauguração dos novos estádios, já existiram dois embates entre Benfica e Sporting na nova Luz e que acabaram por não ter qualquer influência nas contas finais do campeonato. Em ambos, as águias venceram.
O primeiro foi o último jogo da época 2019/20. Em pleno Covid-19, a última jornada jogou-se em finais de julho. O Benfica já não aspirava a objetivo nenhum em termos de campeonato (em contrapartida era finalista da Taça de Portugal), pois quedou-se num segundo lugar dececionante, após ter desperdiçado uma liderança pontual confortável (sete pontos) muito antes da pandemia. O campeonato acabara ganho pelo FC Porto.
Já o Sporting era terceiro e precisava de pontuar na Luz, caso o SC Braga (concorrente direto pelo terceiro posto) vencesse o campeão nacional na Pedreira. Os leões (já) de Rúben Amorim só se podiam dar ao luxo de perder e manter-se em terceiro, caso o FC Porto pontuasse em Braga.
A equipa de Nélson Veríssimo venceu por 2-1 (golos encarnados por Seferovic e Vinícius, Sporar pelos leões), mas sem qualquer diferença e impacto nas contas finais benfiquistas. Mas com o triunfo dos arsenalistas sobre os azuis e brancos, o Sporting acabou por perder igualmente o terceiro posto e finalizou 2019/20, na quarta posição.
O segundo foi em 2020/21, com o cenário ainda de pandemia, mas já diferente em termos desportivos. O Sporting era líder e já campeão, com oito pontos de avanço do segundo (FC Porto). O Benfica era terceiro já sem possibilidades de conquistar qualquer título. As águias estavam a 12 pontos dos leões campeões e a quatro dos portistas.
Os encarnados de Jorge Jesus venceram por 4-3 (marcaram Seferovic (bis, um de penálti), Pizzi e Lucas Veríssimo pelo Benfica; marcaram Pote (bis, um de penálti) e Nuno Santos), mas novamente com pouca diferença e impacto nas contas finais. O simbolismo do jogo, foi o Benfica ter tirado a invencibilidade aos leões na Liga e mantê-la, praticamente seria o único objetivo da equipa de Rúben Amorim para este jogo (além de vencer) O Sporting já era campeão e foi-o com cinco pontos de vantagem do FC Porto (segundo) e nove sobre o Benfica, cuja vitória só serviu para cumprir calendário e encurtar a desvantagem para os rivais.
No entanto, nos outros seis clássicos da segunda volta houve sempre algo mais ou menos relevante em jogo. Todos os duelos mexeram com o ambiente do campeonato que estava em disputa e muitos foram altamente decisivos para o desfecho final da Liga.
6.
Benfica 2-0 Sporting – 2012/13 – A cinco jornadas do fim do campeonato, o Benfica liderava com quatro pontos de vantagem sobre o segundo (FC Porto). Com um trajeto quase perfeito até então (líder sem derrotas e com melhor ataque, finalista da Taça de Portugal e semifinalista da Europa League), com exibições com “nota artística” e apesar de ainda restar a ida ao Dragão na penúltima jornada, o dérbi lisboeta era o grande desafio para o coletivo de Jorge Jesus antes da deslocação à invicta. Se os encarnados vencessem todos os jogos até ao fim (Sporting, Estoril e Moreirense em casa e Marítimo fora), exceto contra os dragões, o título já não escapava.
O Sporting estava precisamente no polo oposto. Os leões já iam no quarto treinador (Jesualdo Ferreira, após Sá Pinto, Oceano e Franky Vercauteren) e viviam não só uma das suas piores épocas (era nono na tabela classificativa, já tinha estado um ponto acima da linha de descida de divisão e fora eliminado na primeira fase da Europa League, Taça da Liga e Taça de Portugal), como dos piores momentos da sua história (crise financeira e contestação interna que levara à mudança de direção, Godinho Lopes saiu e entrara Bruno de Carvalho). No entanto, a distância para o quinto lugar (ocupado pelo Estoril de Marco Silva) que dava acesso à Europa, era de apenas dois pontos e estava alcançável até ao fim. Uma boa exibição e resultado na casa do eterno rival, era a chave para ainda salvar a honra do convento de Alvalade após uma época dececionante.
Por razões distintas, o dérbi era decisivo para ambos os lados da barricada.
Pelas águias, o onze foi: Artur Moraes, Maxi Pereira, Luisão (c), Garay, Melgarejo, Matic, Enzo Pérez, Salvio, Gaitán, Lima e Cardozo.
De leão ao peito, os titulares foram: Rui Patrício, Miguel Lopes, Tiago Ilori, Marcos Rojo, Joãozinho, Rinaudo (c), Eric Dier, André Martins, Bruma, Diego Capel, Van Wolfswinkel.
O jogo acabou por não ser brilhante e nem teve grande história. Em termos de futebol jogado, tudo acabou por acontecer naturalmente. A equipa de Jorge Jesus foi superior e a ter as melhores ocasiões de golo, acabou por vencer indiscutivelmente. Quando já tinha algum domínio sobre os leões, Salvio abriu o marcador aos 36 minutos. O extremo argentino respondeu a um passe longo e certeiro de Nico Gaitán, com um remate esquerdino potentíssimo e que deixou Rui Patrício sem resposta. Mais tarde, aos 75 minutos, veio a obra-prima do jogo. Numa jogada que teve início do meio-campo sportinguista e foi até à entrada da área, Gaitán juntou habilidades individuais e uma tabelinha com Salvio, para colocar no fim em Lima que fez o 2-0. Um tiki-taka rápido e delicioso de se ver e recordar.
Já os homens de Jesualdo Ferreira, além de alguma organização (muito ausente em Alvalade esse ano), algum perigo e dificuldades causadas ao Benfica, em termos de deixar jogar, pouco mais conseguiu fazer. A disparidade de qualidade individual e coletiva entre encarnados e verde-e-brancos, era evidente. No entanto, não se pode falar deste jogo sem falar na prestação do árbitro nomeado: João Capela. O árbitro lisboeta acabou por assumir o protagonismo do encontro, pela sua desastrosa exibição. Ainda hoje marcado pelos adeptos leoninos como o “jogo da Capelada”, o Sporting queixou-se (no mínimo) de três grandes penalidades não assinaladas e duas expulsões não sancionadas. Opinião contrária tinha o treinador encarnado que classificou o triunfo como: “limpinho, limpinho”.
Apesar de ter cumprido o seu dever neste dia, o Benfica acabaria por não chegar ao 33º campeonato. Os encarnados empatariam em casa com o Estoril (1-1), duas semanas mais tarde e perderiam a liderança no Estádio do Dragão (derrota por 1-2). Já o Sporting, além da derrota neste jogo, ainda perderia na capital do móvel contra a equipa que finalizaria a Liga no terceiro lugar e seria a revelação da época (Paços de Ferreira de Paulo Fonseca). Assim, nunca alcançaria a Europa do futebol e finalizava num dececionante sétimo lugar. Ainda hoje, a pior época da sua história.
5.
Benfica 1-3 Sporting – 2005/06 – Disputado ainda no início da segunda volta (finais de janeiro), este dérbi ia decidir o rumo das duas equipas na mesma. Após uma primeira volta sofrível nos primeiros três meses (três derrotas e quatro empates), o Benfica vivia o seu melhor período na Liga, vinha de sete vitórias consecutivas e disputava a liderança com o FC Porto (líder com três pontos de vantagem). Uma vitória encarnada no dérbi não só mantinha esse rumo, como deixava o Sporting a nove pontos de distância.
Já o Sporting vinha de uma primeira metade da época ainda mais conturbada a todos os níveis. José Peseiro tinha saído em outubro, dando lugar ao jovem Paulo Bento e entre setembro e janeiro, os leões tinham perdido imensos pontos (cinco derrotas e quatro empates) e ocupavam a quinta posição antes da deslocação à Luz. Se ainda quisesse voltar a ter uma chance pelos lugares de acesso à Champions League e uma hipótese (ainda que remota) de ainda lutar pelo título, a vitória era o ideal. Um empate ou uma derrota para o rival da segunda circular, podia significar o adeus aos dois objetivos.
Pelas águias jogaram: Moretto, Nélson, Luisão, Anderson, Alcides, Petit, Beto, Giovanni, Simão Sabrosa (c), Nuno Gomes e Manduca.
Do lado verde e branco, os titulares foram: Ricardo, Abel, Tonel, Polga, Caneira, Custódio, João Moutinho, Carlos Martins, Sá Pinto (c), Liedson e Deivid.
O jogo acabou por ser uma das melhores exibições, de que há memória, do Sporting no terreno do eterno rival. A equipa de Paulo Bento criou uma avalanche de oportunidades de golo e um domínio absolutamente avassalador. Nem quando Simão colocou o Benfica em vantagem após ter convertido uma grande penalidade (a castigar mão na bola de Custódio), os jogadores verde-e-brancos baixaram a guarda. Apesar das tentativas constantes e do espírito de sacrifício, a equipa leonina só chegaria ao golo pelos 64 minutos. Em contraste com a exibição da equipa de Ronald Koeman, que além do penálti, criou pouco perigo e não teve qualquer ocasião de golo. Castigando um pontapé de Beto em Liedson na grande área encarnada, o capitão Sá Pinto foi chamado a converter e não perdoou. O tento do “coração de leão” funcionou como “abertura do ketchup” e Liedson foi o grande protagonista. Aos 73 minutos e após um pontapé em profundidade de Ricardo, o guarda-redes leonino descobriu o avançado brasileiro no ataque e num duelo com Luisão, o “levezinho” vence-o e remate certeiro sem hipótese para Moretto. Nove minutos mais tarde, novo contra-ataque do Sporting e após Alcides ter intercetado a bola, Sá Pinto mete novamente em Liedson e o avançado sportinguista, mais rápido a chegar a bola que o guardião benfiquista, vence novo duelo e mete no fundo das redes.
Uma exibição de gala que colocou o coletivo verde-e-branco na rota dos primeiros lugares e um triunfo que foi o primeiro de dez consecutivos. Uma dezena que muito contribuiu para ter lutado pelo título com o FC Porto até quatro jornadas do fim e ainda ter chegado à Champions League. Já para o Benfica, este seria o primeiro de mais sete jogos em que perderia pontos (teve mais três derrotas e três empates) e com o passar do tempo, ia caindo para terceiro e era onde terminaria a época. Embora nenhum dos emblemas lisboetas tenha chegado a campeão, a verdade é que este foi um dérbi que deu alento a uma equipa e o tirou à outra.
4.
Benfica 2-0 Sporting – 2009/10 – A cinco jornadas do fim, o fosso entre os dois eternos rivais era por demais evidente. O Benfica era líder do campeonato, com seis pontos de vantagem sobre o segundo classificado (SC Braga) e a praticar o melhor futebol a nível nacional. O Sporting estava a ter uma época para esquecer, já fora de todas as competições e era quarto na tabela classificativa (o máximo a ambicionar, era mantê-lo), a 12 pontos de distância do terceiro (FC Porto). 23 pontos separavam os dois emblemas da segunda circular. Os encarnados tinham de vencer para não terem obstáculos no percurso para 32º campeonato ambicionado e no qual dependiam apenas de si mesmos. Já os leões apenas procuravam manter a margem para os adversários atrás de si e jogavam o seu prestígio, tentando dificultar a vida às águias.
Pelas águias, o onze foi: Quim, Rúben Amorim, Luisão (c), David Luiz, Fábio Coentrão, Javi García, Carlos Martins, Ramires, Di María, Éder Luís (escolhido para colmatar a ausência do lesionado Saviola) e Cardozo.
Pelos leões alinharam: Rui Patrício, Abel, Tonel, Daniel Carriço, Grimi, Pedro Mendes, Miguel Veloso, João Moutinho (c), João Pereira, Yannick Djaló e Liedson.
Nos primeiros 45 minutos, embora algo divididos, os leões foram ligeiramente superiores e causaram mais perigo. Um desempenho também fruto da sua superioridade numérica (do lado benfiquista, Éder Luís foi um elemento a menos em campo). Nos segundos, não só a equipa de Jorge Jesus não deixou o Sporting voltar a acreditar, como fez ao intervalo a substituição que tudo mudaria: Entra Pablo Aimar para o lugar de Éder Luís. O jogo foi outro e domínio absoluto da equipa benfiquista. Aos 68 minutos, após jogada pela direita e cruzamento de Amorim não aproveitado por Aimar (vencido nas alturas por Abel), a bola veio para a esquerda e Fábio Coentrão recoloca na pequena área onde aparece… Tacuara Cardozo e não perdoa. Onze minutos mais tarde, num lance divido a meio-campo sportinguista, a bola sobrou para Ramires e num toque deixou Aimar isolado frente a Rui Patrício, que o torneia e faz o segundo.
Uma vitória indiscutível e importante para o Benfica que acabou mesmo por chegar ao título de campeão, um mês depois desta vitória e cinco anos depois da última conquista. Já o Sporting manteve o quarto posto até ao fim e sem brilho. Um jogo que apesar das falhas da equipa de arbitragem (liderada por João Ferreira) para ambos os lados, acabou por não denegrir o desfecho do mesmo.
3.
Benfica 2-0 Sporting – 2013/14 – O dérbi que começou com um adiamento. No domingo (9 de fevereiro de 2014) antes do jogo, choveu sobre o relvado da catedral benfiquista um conjunto de lixo e partes da cobertura do estádio. O jogo era adiado para 24 horas depois.
Em termos futebolísticos, dois pontos separavam as duas equipas e jogava-se na terceira jornada da segunda volta. Após uma primeira volta competitiva entre os três grandes, o Benfica isolara-se na tabela três jornadas antes, após uma vitória (2-0) sobre o FC Porto na Luz e aproveitando um empate do Sporting na Amoreira (0-0 frente ao Estoril de Marco Silva). A equipa de Jorge Jesus já tinha ultrapassado a (alguma) instabilidade dos primeiros meses da temporada, relacionada ainda com o fim da época anterior e com o defeso, mas já se encontrava na sua fase de melhor rendimento e em crescendo. Uma vitória das águias deixava os leões a cinco pontos e mantinham os dragões a quatro.
O Sporting já se encontrava num novo projeto desportivo, com Leonardo Jardim no comando técnico e com jogadores interessantes que começavam a despertar atenção. Mas já se encontrava fora da Taça de Portugal (eliminado pelo Benfica na quarta eliminatória) e da Taça da Liga (caiu na fase de grupos após uma diferença de golos marcados e sofridos inferior à do FC Porto). Para os leões fazerem um brilharete em 2013/14, restava o campeonato nacional e o qual já tinham estado na liderança. Para regressar ao topo da tabela, os sportinguistas tinham de vencer na Luz.
Pelas águias, jogaram: Oblak, Maxi Pereira, Luisão (c), Garay, Siqueira, Fejsa, Enzo Pérez, Markovic, Gaitán, Lima e Rodrigo
Pelos leões, o onze foi: Rui Patrício (c), Cédric Soares, Maurício, Marcos Rojo, Iván Piris, Eric Dier, André Martins, Adrien Silva, Fredy Montero, Heldon e Slimani.
Jorge Jesus optou pelo onze tradicional, só Fejsa passou à titularidade devido à recente saída de Matic para o Chelsea. Quem tentava surpreender era Leonardo Jardim, que colocava, pela primeira vez, Montero e Slimani em conluio no ataque, com a companhia do recém-contratado extremo Heldon (Carrillo, Capel e Wilson Eduardo ficaram de fora do onze, todos mais utilizados até então). A questão é que o que foi surpresa no domingo à noite, terça à noite já não era. Coincidência ou não, a verdade é que o Sporting não causou qualquer surpresa à equipa do Benfica e por vezes parecia uma equipa previsível e frágil. Mesmo com as ausências de Jefferson (lesão) e William Carvalho (castigo), a exibição leonina foi muito apagada para um coletivo que ambicionava voltar à liderança.
Os encarnados foram donos e senhores do jogo, com total segurança, domínio e quase todas as ocasiões de golo. Aos 27 minutos, num cruzamento pela direita do ataque benfiquista, Maxi Pereira serviu Nico Gaitán para o primeiro golo. O extremo argentino aproveitou a falta de marcação do setor defensivo leonino e aproveitou a oportunidade para cabecear. Aos 76 minutos e após um pequeno desentendimento na saída para o ataque da equipa leonina, Enzo Pérez aproveitou e recuperou a bola, chutando com habilidade para o fundo das redes de Patrício na cabeça da área. Estava resolvido um jogo sem grande história e ganho com toda a justiça pelos homens da casa. O jogo em que quase tudo acabou por ficar decidido.
A equipa de Jesus alargou a vantagem para os rivais da segunda circular e deu início a uma sequência de onze vitórias consecutivas, que dariam, dois meses depois, à conquista do 33.º campeonato (novamente na Luz e por 2-0, mas frente ao Olhanense). Já o Sporting, embora não recuperasse nunca da desvantagem, faria um percurso competente e regular até ao fim e que lhe daria o segundo lugar do campeonato, tal como acesso direto à Champions League.
2.
Benfica 1-1 Sporting – 2006/07 – Faltavam quatro jogos para o fim da época 2006/07 e o dérbi da Luz era o último clássico da temporada. Embora a tabela classificativa fosse liderada desde o início pelo FC Porto, Sporting e Benfica ainda lutavam pelo título. Os rivais de Lisboa já tinham perdido muitos pontos na primeira volta, mas tinham recuperado e beneficiado da sofrida segunda volta dos dragões e estavam a quatro e cinco pontos da liderança (Sporting e Benfica respetivamente). Na véspera, o Boavista tinha vencido o FC Porto no Bessa. Um empate entre águias e leões deixava tudo em aberto. Se algum vencesse, praticamente seria o principal adversário dos portistas até ao fim. Embora o segundo posto fosse prestigiante pelo acesso direto à Champions League, interessava a ambos vencer para ainda chagar ao topo da tabela.
Pelos encarnados jogaram: Quim, Nélson, Anderson, David Luiz, Léo, Petit, Katsouranis, Karagounis, Rui Costa, Miccoli e Nuno Gomes (c).
Já os titulares sportinguistas foram: Ricardo (c), Abel, Caneira, Polga, Rodrigo Tello, Miguel Veloso, João Moutinho, Nani, Romagnoli, Yannick Djaló e Liedson.
O Sporting cedo inaugurou o marcador. Aos três minutos, numa jogada pela direita do ataque e após cruzamento de Abel, Liedson cabeceou para o fundo das redes de Quim. A partir do golo, para o lado verde-e-branco, o filme foi sempre o mesmo. A equipa de Paulo Bento embora fosse algo mais segura defensivamente e tivesse mais iniciativa ofensiva, não conseguia fazer mais do que o que já tinha feito. Até ao fim do jogo, o Sporting criou pouco perigo na área do Benfica e só fez mais um remate à baliza (ainda na primeira parte), após, só uma sucessão de remates desenquadrados ou evitados pelo setor defensivo encarnado.
Já o Benfica, embora não conseguisse de todo desmontar um Sporting muito organizado, teve as melhores oportunidades de concretização. Pouco depois do “levezinho” ter marcado, Petit já tinha ameaçado Ricardo com um pontapé de meia distância e que obrigou o “labreca” a defesa apertada. Aos 23 minutos, veio a resposta definitiva dos jogadores de Fernando Santos. Após mais uma defesa de Ricardo a um remate de Katsouranis (a cruzamento de Karagounis), na direita do ataque encarnado, a defesa leonina falha completamente o alívio e a bola ficou com Miccoli. Daquela posição, o italiano não perdoa e empata o jogo. O avançado ainda podia ter bisado na segunda parte, após uma cabaçada certeira a um cruzamento de Nélson, mas Ricardo voltou a estar atento.
O resultado não se alteraria e os rivais repartiam pontos. Após o dérbi da Luz, Benfica e Sporting ganhariam todos os jogos até ao fim e apesar de terem encurtado a distância para o FC Porto ainda mais uma vez (empata em Paços de Ferreira na 29.ª jornada), o FC Porto de Jesualdo Ferreira seguraria a vantagem até ao fim. Os dragões eram bicampeões e Sporting e Benfica lamentavam-se pelo resultado da Luz, que se tivesse sido diferente, os festejos teriam outra cor e cenário.
1.
Benfica 1-0 Sporting – 2004/05 – Neste século, o dérbi mais decisivo no desfecho de um campeonato e um dos mais polémicos (senão o mais). Na penúltima jornada da Liga Portuguesa, Sporting e Benfica dividiam a liderança em igualdade pontual, com vantagem para os verde-e-brancos pelo confronto direto (2-1 em Alvalade na primeira volta) e média de golos marcados e sofridos (64-31 e 49-30, respetivamente). Dois meses antes, a equipa de Giovanni Trapattoni era líder com seis pontos de vantagem, mas no passar do tempo, tinha deixado os leões de José Peseiro aproximarem-se, devido a derrotas em Vila do Conde (0-1) e Penafiel (0-1) e um empate caseiro com a União de Leiria (1-1).
14 de maio de 2005, era o dia do tudo ou nada para os dois emblemas da capital. O Benfica além de procurar uma putativa dobradinha (era finalista da Taça de Portugal frente co Vitória de Setúbal), buscava sobretudo pôr fim a onze anos de jejum sem ganhar o campeonato. Já o Sporting, além de buscar a Liga que lhe fugia há quase três anos, procurava juntar o prémio máximo do futebol nacional ao que ia tentar alcançar quatro dias depois (Taça UEFA) … em Alvalade frente ao CSKA de Moscovo. O elenco verde-e-branco estava marcado pela ausência por castigo do máximo goleador da Liga: Liedson.
Pelo Benfica, o onze foi: Quim, MIguel, Luisão, Ricardo Rocha, Dos Santos, Petit, Manuel Fernandes, Nuno Assis, Giovanni, Simão Sabrosa (c), Nuno Gomes.
Pelo Sporting alinharam: Ricardo, Miguel Garcia, Beto, Polga, Rui Jorge, Custódio, Rochemback, João Moutinho, Pedro Barbosa (c), Sá Pinto e Douala.
Até aos 83 minutos de jogo, o Benfica foi mais ofensivo e arriscou mais. No primeiro tempo, teve duas chances por Manuel Fernandes. (ambas fora da área). Também durante a primeira parte, o Sporting teve mais dificuldades em ter posse e aproximar-se da baliza encarnada, apesar de ainda ter tido duas oportunidades perigosas por João Moutinho e Douala. No segundo tempo, o jogo foi ficando mais partido e com ambas as equipas a arriscarem. Pelo Benfica, Simão desperdiçou duas oportunidades frente a um Ricardo confiante e a um setor defensivo leonino cada vez mais amanteigado. O Sporting embora com mais posse e ataque, não conseguiu oportunidades além das conseguidas fora da área (perigosas) por Rochemback e Hugo Viana, que Quim correspondeu em pleno.
Até que aos 83 minutos, Paulo Paraty castiga Pinilla por falta sobre Ricardo Rocha. Após livre direto marcado por Petit, na pequena área, a bola entra na baliza leonina após um lance dividido entre Luisão e Ricardo. A Luz vibra de alegria juntamente com os jogadores benfiquistas que comemoram efusivamente, enquanto os jogadores do Sporting reclamam golo ilegal. Apesar de ser um lance que ainda hoje divide muitas opiniões, a verdade é que o árbitro portuense validou o golo e colocou o Benfica próximo do título e o Sporting fora da rota do primeiro lugar.
Este jogo decisivo acabou mesmo por decidir o campeão nacional. Uma semana depois, o Benfica seria mesmo campeão na cidade invicta, após um empate no Estádio do Bessa frente ao Boavista (1-1). Assim, ficaram para trás onze anos de escuridão. Deixando para trás o FC Porto, que empatara na última ronda no seu estádio frente à Académica (1-1) e terminava no segundo posto.
Já o Sporting terminou a época em pesadelo, com três derrotas consecutivas. Quatro dias depois da derrota na Luz, perdeu a final da Taça UEFA em casa, frente ao CSKA por 1-3 (estava a vencer 1-0 ao intervalo). Na última ronda, enquanto Benfica e Porto lutavam na invicta pela conquista do primeiro lugar, o Sporting tinha a chance de ficar sem segundo lugar (acesso direto à Champions League) se vencesse o Nacional em Alvalade e o FC Porto não ganhasse aos estudantes de Coimbra (o que acabou por acontecer). O Nacional goleou em Alvalade o Sporting, por 4-2.