
O Irão diz ter lançado um ataque sobre a base aérea norte-americana de Al Udeid, no Catar, equivalente, ou pelo menos com o mesmo número de mísseis, ao que os Estados Unidos desencadearam este domingo sobre três das principais centrais nucleares da República Islâmica.
Mas o Catar, que condenou o ataque e diz ter o direito a responder, já veio garantir que as defesas aéreas conseguiram repelir por completo esta tentativa iraniana de retaliação que, de resto, foi anunciada previamente às autoridades em Doha, segundo três iranianos familiarizados com os planos de Teerão. “Três responsáveis iranianos afirmaram que o Irão avisou com antecedência que os ataques estavam a caminho, de forma a minimizar as possíveis baixas”, escreve o “New York Times”, acrescentando que o Irão “precisava de ser visto a retaliar os Estados Unidos, mas de uma forma que permitisse a todas as partes uma saída”. Aconteceu em 2020 também, quando os Estados Unidos assassinaram Qassem Suleimani, no Iraque. Antes do ataque para vingar o general, o Irão avisou que iria disparar mísseis balísticos.
O Irão afirmou ter disparado também mísseis contra uma base militar norte-americana no Iraque, segundo noticiou a agência noticiosa estatal iraniana Tasnim, porém os Estados Unidos negam ter informação de qualquer ataque fora do Catar. O Departamento de Estado dos Estados Unidos concedeu que houve uma “resposta retaliatória aos ataques dos EUA no fim de semana”, mas “amplamente simbólica”, escreve “The Guardian”. O enviado do presidente Donald Trump para o Médio Oriente, Steve Witkoff, tem mantido contacto com autoridades iranianas desde os ataques dos EUA às instalações nucleares iranianas no fim de semana, segundo duas fontes familiarizadas com o assunto, citadas pela CNN.
Muhanad Seloom, professor assistente de Estudos de Segurança no Instituto de Doha,disse à Al Jazeera que o ataque, apesar de contido, pode ser lido como um sinal de escalada entre o Irão e os EUA, salientando que “é a primeira vez que o Irão ataca bases americanas fora do Iraque”, onde os confrontos, mais ou menos graves, estão “normalizados”.
O confronto pode agora seguir dois caminhos. Num primeiro cenário, explica o especialista, “o Irão pode alegar que agora é tempo de negociações”, num outro, o mais perigoso, “os Estados Unidos podem responder a um ataque que foi dirigido às suas tropas”.
A base terá sido evacuada, e a maioria dos aviões foram também deslocados, o que mostra alguma antecipação do ataque. Ainda assim, Al Udeid não é ocupada apenas por tropas norte-americanas, há também soldados do Catar na base, o que terá levado à reação mais robusta por parte das autoridades em Doha. O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Catar, Majed al-Ansari, disse que o Estado do Catar condena “veementemente” o ataque e considera-o “uma violação flagrante da soberania do Estado do Catar, do seu espaço aéreo, do direito internacional e da Carta das Nações Unidas”. Por isso, reserva-se o direito “de responder diretamente de forma equivalente à natureza e à escala desta agressão descarada, em conformidade com o direito internacional”.
A Guarda Revolucionária do Irão já disse estar preparada para voltar a agir “se provocada”, o que pode ser mais uma pista que indica um caminho de apaziguamento por parte de Teerão, pelo menos para já.
Numa declaração divulgada pela agência de notícias oficial Tasnim, a Guarda advertiu que “quaisquer novos atos de agressão serão respondidos com força”, acrescentado que as bases militares dos EUA na região são agora pontos de “vulnerabilidade” e que o tempo em que os ataques “toca e foge” era levados a cabo sem consequências “acabou”.
No mesmo comunicado ficou prometida “resistência contínua” até que a “entidade sionista” seja desmantelada.
O Irão dificilmente poderia ter optado por uma reação mais musculada do que aquela que teve dado o anel de fogo que tem à sua volta do outro lado do mar. Os Estados Unidos têm bases bem equipadas quase à porta da República Islâmica: Bahrein, Kuwait, Catar, Arábia Saudita, Omã estão no Golfo Pérsico e há muitas outras espalhadas pelo Médio Oriente, na Jordânia, Síria, Egito, Iraque, Turquia. Ao todo são 19, oito delas permanentes. No total, há entre 40 a 50 mil soldados posicionados nesta zona e só na base que o Irão diz ter atingido estão pelo menos 100 caças em prontidão de ataque.
Várias bases militares dos EUA estão ao alcance das armas de curto alcance do Irão, de acordo com estimativas do Projeto de Defesa Antimísseis do Centro Internacional de Estudos Estratégicos (CSIS),publicado no “New York Times”, mas o regresso do correio seria demasiado explosivo.