Entre eles está Masoud Ibrahim Harb Warshega, que fugiu de Beit Lahia, no norte da Faixa de Gaza, com os filhos. "Mudámo-nos ontem [segunda-feira] por causa dos bombardeamentos e dos projéteis", disse à agência espanhola EFE junto de uma tenda.

O homem mostra os sulcos nas palmas das mãos, ferimentos que sofreu ao resgatar os filhos. "Hoje voltei para casa só para recuperar o pouco que sobrou", descreveu. Ele não tem para onde ir. Como diz, em Gaza já "não há outro lugar".

"Do porto dizem-nos para ir para o sul. Amanhã voltarão a dizer-nos. Sul, sul... mas para onde vamos?", questionou Muhammad al-Attar, pai de quatro filhos, também deslocado de Beit Lahia.

Depois fez um apelo: "Estamos a implorar. Israel, vocês têm um problema com o [grupo islamita] Hamas, não connosco. Qual é a nossa culpa? E dos nossos filhos? Todos os dias nos dão uma nova ordem. Não nos deixam viver".

A sensação de insegurança é constante. "Disseram-nos que esta era uma área segura, mas não é", disse à EFE Majed Mohammed Sukkar, que já teve de se mudar 15 vezes, perdendo todos os pertences e poupanças pelo caminho. "Aqui também não há segurança. Podem atacar-nos a qualquer momento. Não há lugar seguro na Palestina".

Colchões, sacos de lixo cheios de pertences, frascos e garrafas de água vazios, carrinhos de bebé e botijas de gás acumulam-se ao longo da costa. Tendas feitas de lonas, plástico e lençóis são montadas na areia.

De acordo com Abu Wael Abu Al-Kas, um homem de 80 anos do bairro de Shuja'iyya, na Cidade de Gaza, estão pelo menos mais 800 famílias no porto.

"O porto está cheio. Há mais de 1,5 milhões de pessoas aqui. Israel está a avançar de todas as frentes: Al-Tuwam, do sul, do norte. Estão a empurrar-nos, a encurralar-nos", contou o idoso à EFE.

A ONU anunciou hoje ter recebido autorização das autoridades israelitas para permitir a entrada até 100 camiões de ajuda humanitária na Faixa de Gaza, depois de ter divulgado apenas nove no dia anterior, após um bloqueio de 11 semanas.

No entanto, os interlocutores da EFE no porto estão de acordo: estes camiões, que muitos nunca viram, não chegam para nada.

"Há exatamente 20 dias que só comemos arroz e lentilhas. É tudo o que tenho. O rapazinho acorda-me de manhã e diz: 'Pai, quero pão'." Onde lhe compro pão? Onde? Não há nenhum!", exclamou al-Attar.

"Cada pessoa precisaria de um camião inteiro para sobreviver", disse Masoud, enquanto Abu Wael acrescentou: "Estes não chegam nem para uma rua em Shuja'iyya. Para uma só rua, precisamos de cinquenta camiões. Não há comida. Não há água. Nem sequer dá para lavar a roupa".

Majed afirmou que "a cidade precisa de 500 a mil camiões por dia para cobrir o mínimo", lamentando a pequena ajuda para as necessidades.

"Esta não é apenas a pior deslocação que já vivemos... é o pior da história da humanidade", considerou.

Cerca de 14 mil bebés poderão morrer na Faixa de Gaza nas próximas 48 horas se os mantimentos não chegarem imediatamente ao enclave palestiniano, alertou hoje o subsecretário-geral da ONU para os Assuntos Humanitários, Tom Fletcher.

***Ahmad Awad, agência de notícias EFE***

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