
O parlamento grego aprovou hoje a criação de uma comissão para investigar a eventual responsabilidade do deputado conservador Kostas Karamanlis num acidente ferroviário ocorrido em 2023 que causou a morte de 57 pessoas, a maioria jovens.
Kostas Karamanlis era ministro dos Transportes à data dos acontecimentos.
A comissão foi proposta pelo Nova Democracia (ND), partido do primeiro-ministro Kyriakos Mitsotakis, ao qual Karamanlis também pertence.
A maioria parlamentar do ND bloqueou a proposta do principal partido da oposição, o social-democrata Pasok, que pedia uma investigação contra Karamanlis, seu antecessor no comando dos Transportes, o esquerdista Christos Spirtzis, e outros cinco vice-ministros pelo crime de "perturbação da segurança dos transportes".
Em 28 de fevereiro de 2023, pouco antes da meia-noite, um comboio de passageiros colidiu frontalmente com um comboio de carga perto de Larisa, acidente que causou a morte a 57 pessoas, a maioria jovens, e é considerado "um trauma nacional" na Grécia.
O Governo de Mitsotakis foi acusado de uma gestão desastrosa do acidente que chocou todo o país, apesar de o primeiro-ministro ter garantido que "nunca houve uma ordem para ocultar" responsabilidades políticas.
A comissão hoje aprovada vai investigar se Karamanlis, que renunciou ao cargo pouco depois do acidente, cometeu o crime de negligência no cumprimento do dever.
Uma proposta das famílias das vítimas para investigar Mitsotakis e Karamanlis por "homicídio doloso", entre outros crimes graves, também foi rejeitada.
"Sei que sou inocente e aguardo a decisão do tribunal para que toda a Grécia saiba", disse Karamanlis ao parlamento.
Em 2024, o Ministério Público da União Europeia (UE) enviou uma carta ao parlamento grego, na qual apontava que a sua investigação "levantava suspeitas sobre supostos crimes cometidos" por Karamanlis e Spirtzis na execução de contratos para a modernização das ferrovias gregas, cofinanciados pela UE.
Em novembro do mesmo ano, o partido de Mitsotakis rejeitou a proposta do Pasok de investigar os dois ex-ministros para verificar se havia provas suficientes para levar seus casos à justiça.
Na Grécia, ministros e ex-ministros gozam de imunidade que só pode ser levantada se uma comissão parlamentar de inquérito decidir remetê-los aos tribunais comuns.