
Nuno Wahnon Martins é consultor em assuntos europeus, com carreira em Bruxelas e está inscrito no registo de transparência do Parlamento Europeu, o que lhe garante acesso às instituições. Foi assessor de um eurodeputado italiano do PPE - a maior família política de centro-direita.
O consultor português foi esta quinta-feira detido em França e terá agora de ser extraditado para a Bélgica para ser ouvido pelo juiz de instrução, que tem em mãos o processo de alegada corrupção a envolver o Parlamento Europeu e a Huawei.
Fonte do Ministério Público belga explica que o processo de extradição pode levar entre 10 dias, se o suspeito não levantar obstáculos, e 40 dias. A partir do momento em que entra na Bélgica, Nuno Wahnon Martinstem 48 horas para ser ouvido e conhecer as medidas de coação.
Em Portugal, as autoridades belgas, em colaboração com a Polícia Judiciária e o Ministério Público, fizeram buscas a uma casa de Wahnon e a dois outros locais relacionados com o consultor.
Há suspeitas de que uma empresa sediada em Portugal esteja envolvida num esquema de corrupção para beneficiar na Europa a empresa chinesa Huawei.
O nome de Nuno Wahnon Martins surge ainda associado a um escritório de advogados em Lisboa. Contactada pela SIC, a Latin Legal Advisores afirma ter tido conhecimento da possibilidade do seu consultor externo ter sido visado, mas garante que o escritório não está relacionado com a investigação, nem foi alvo das buscas.
Na Bélgica, foram realizadas mais de 20 buscas, com suspeitos detidos para interrogatório. No Parlamento Europeu, dois gabinetes foram judicialmente selados esta quinta-feira: um pertence a um assistente de um outro eurodeputado italiano do PPE e o segundo é de um assistente de um eurodeputado da Bulgária pertencente à família dos liberais.
De acordo com o que a SIC apurou, as suspeitas podem estar relacionadas com o trabalho que estes assistentes fizeram para outros deputados no passado, já que Falcone e Minchev são novos no Parlamento.
Segundo a imprensa belga, estão a ser investigados 15 atuais e antigos eurodeputados.
É o segundo escândalo de corrupção a envolver eurodeputados nos últimos dois anos, depois do Qatargate. O Parlamento Europeu pouco comenta, mas garante que está disponível para colaborar com a investigação.
As autoridades acreditam que lobistas da chinesa Huawei possam ter subornado membros do Parlamento Europeu para benefício dos interesses comerciais da empresa.
Há suspeitas de lavagem de dinheiro, falsificação de documentos e de corrupção através de transferências monetárias e de ofertas de telemóveis e bilhetes para jogos de futebol.
O código de conduta dos eurodeputados é claro: qualquer presente oferecido num valor superior a 150 euros tem de ser declarado e inscrito publicamente no registo de ofertas.