"Não há nenhuma surpresa. (...) Trata-se de dois memorandos absolutamente opostos. Mas as negociações são organizadas e conduzidas precisamente com o objetivo de encontrar pontos em comum", sublinhou Putin numa conferência de imprensa à margem da cimeira regional da União Económica Euro-Asiática (UEE), em Minsk, na Bielorrússia.

Putin referiu que os negociadores russos e ucranianos estão "em contacto permanente", nomeadamente para chegar a acordo sobre um local e uma data para uma terceira ronda de negociações diretas, após as reuniões realizadas a 16 de maio e 02 de junho na Turquia.

Essas discussões, as primeiras diretas entre Moscovo e Kiev sobre o desfecho do conflito desde a primavera de 2022, não resultaram em avanços significativos, mas cada parte apresentou, no início de junho, um memorando, uma espécie de plano ideal para chegar a um acordo de paz após mais de três anos de ofensiva russa em grande escala.

A Ucrânia continua a exigir que o exército russo se retire das cinco regiões que ocupa parcial ou totalmente, enquanto a Rússia quer que Kiev renuncie a aderir à Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) e reconheça o seu controlo sobre esses territórios, condições que Kiev considera inaceitáveis.

Assim, nas últimas semanas, apenas ocorreram trocas de prisioneiros e de corpos de pessoas mortas na frente de batalha, principalmente soldados.

"Concordámos em prosseguir os nossos contactos após (...) a devolução dos corpos dos nossos militares falecidos", disse Putin à imprensa.

"Assim que esta etapa estiver concluída, realizaremos uma terceira série de negociações. Estamos prontos para isso", assegurou, precisando que Istambul poderá ser novamente o local escolhido para tal encontro.

Putin recordou que a Rússia já entregou a Kiev mais de 6.000 corpos e está pronta para entregar outros cerca de 3.000.

"Cabe agora à parte ucraniana aceitar os corpos dos seus soldados mortos", indicou.

Além disso, o líder do Kremlin reconheceu, numa rara admissão, que a explosão das despesas com a defesa, que atingem "6,3% do Produto Interno Bruto (PIB)" este ano, era responsável pela inflação na Rússia, que continua a rondar os 10%.

Este nível de despesas militares "é muito", admitiu.

"Pagámos isso com a inflação, mas estamos atualmente a lutar contra o aumento dos preços", assumiu.

Por fim, o Presidente russo disse ter "um profundo respeito" pelo homólogo norte-americano, Donald Trump, que descreveu como "corajoso", garantindo "apreciar" que o inquilino da Casa Branca "deseje sinceramente encontrar uma solução" para o conflito na Ucrânia.

"Graças ao Presidente Trump, as relações entre a Rússia e os Estados Unidos começam a equilibrar-se em alguns pontos. Nem tudo está resolvido no domínio das relações diplomáticas, mas os primeiros passos foram dados", congratulou-se.

"Em geral, estamos prontos para isso", afirmou, argumentando que a componente humanitária "é importante, pois cria as condições para, como dizem os diplomatas, debater em profundidade a essência do problema".

Atualmente, a União Económica Euro-asiática conta com cinco membros permanentes (Rússia, Bielorrússia, Arménia, Cazaquistão e Quirguistão) e quatro países observadores (Moldova, Uzbequistão, Cuba e Irão), que, juntos, representam um quinto da população mundial.

A ofensiva militar russa no território ucraniano, lançada a 24 de fevereiro de 2022, mergulhou a Europa naquela que é considerada a crise de segurança mais grave desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

 

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