
Os 69 jacarandás previstos para o troço de cerca de 500 metros em que a Av. 5 de Outubro se estende do edifício Marconi às Forças Armadas, em Lisboa, são apenas parte dos planos para tornar aquela movimentada artéria da cidade num sítio para passear e desfrutar. Na solução final negociada por Carlos Moedas para o parque subterrâneo que ali vai nascer, no âmbito do projeto para Entrecampos — que tem o centro nos antigos terrenos da Feira Popular e que o anterior executivo municipal, liderado por Fernando Medina, conseguiu, após duas tentativas goradas, adjudicar —, aquela área promete tornar-se num novo e apetecível espaço verde da cidade.
O projeto original previa a remoção de todas as árvores no percurso, mas a negociação com a Direção Municipal de Ambiente, Estrutura Verde, Clima e Energia resultou na preservação de todas as que estão saudáveis: um terço delas serão conservadas para voltar a casa após a obra, outras tantas replantadas em áreas próximas, sendo abatidas as 25 que, segundo o relatório daquela estrutura, apresentam "lesões" extensas ou profundas, "cavidades", "esgaçamento" ou sinais de "podridão". Apesar de a notícia ter já gerado protestos e uma petição contra a remoção dos jacarandás da Av. 5 de Outubro — alegando falta de justificação para a remoção das árvores e falta de informação aos moradores da cidade —, conforme está bem explícito nos documentos tornados públicos pela autarquia, não só as árvores retiradas serão todas substituídas como ali serão colocados novos jacarandás e pereiras de jardim, duplicando o número de árvores naquele troço da avenida.
No espaço intervencionado vai mesmo nascer um passeio central a ligar a Av. 5 de Outubro à Av. das Forças Armadas, haverá bancos de jardim e áreas de sombra, arbustos decorativos e espaços verdes, com as árvores que hoje apenas intervalam lugares de estacionamento a passar a dominar a área que divide os dois sentidos de rodagem e passeios alargados junto às fachadas. Com o estacionamento remetido para debaixo do solo (estão previstas apenas zonas específicas de carga e descarga junto aos edifícios), será possível usar toda essa área disponível para criar uma mancha verde não apenas com os amados jacarandás que todas as primaveras encantam lisboetas e turistas ao pintar a cidade de roxo (só esses, serão 64) mas também outras árvores que já se encontram pela cidade, como plátanos e pereiras de jardim.

Com as previsões, no plano aprovado pela CML, a indicar que a obra esteja pronta em 2027, o parqueamento público subterrâneo terá lugar para 400 viaturas (15% serão avenças para moradores) e 100 bicicletas e incluirá 20 postos de carregamento elétrico nos três pisos de subsolo, o que permitirá acomodar o estacionamento necessário ao projeto previsto para Entrecampos, libertando a superfície. Um terço da avenida, hoje ocupado por parqueamento, será daqui a dois anos uma nova área verde na cidade, à semelhança do que tem acontecido nas Avenidas Novas.
Em todo o eixo intervencionado no âmbito do projeto disponibilizado pela Fidelidade Properties (que se estende também à Av. da República e Rua Cordeiro de Sousa), o número de árvores irá duplicar para mais de 250 exemplares que, de acordo com os especialistas da Greehill (consultora que se foca em tornar as cidades mais verdes), poderão capturar mais de 5 mil toneladas de CO2 e produzir 14 mil toneladas de oxigénio para a cidade por ano.

Ao fim de dez anos, um jardim na avenida
Há que recuar a 2018 para chegar ao projeto inicial para a zona de Entrecampos, aprovado em hasta pública no âmbito da Operação Integrada de Entrecampos, lançada ainda pelo executivo de Fernando Medina e com projetos do à data vereador Manuel Salgado, num investimento a rondar os 800 milhões de euros (um em cada oito imputados ao município). Os planos originais previam já a construção de um parque de estacionamento público subterrâneo na Av. 5 de Outubro, de forma a acolher o novo movimento e moradores trazidos pela adjudicação do projeto dos antigos terrenos da Feira Popular e vias adjacentes que, entre construção nova, parte em rendas acessíveis, e reabilitação, perfaziam perto de mil fogos para a zona, além de um centro de escritórios, creche, uma unidade de cuidados continuados e espaços comerciais.
Porém, ao contrário do que aconteceu na requalificação da Avenida Fontes Pereira de Melo, por exemplo, aqui o executivo socialista previa o abate de todas as árvores naquele troço da avenida. Já liderada por Carlos Moedas, a autarquia quis rever as condições do projeto de forma a preservar e até aumentar a mancha verde naquela artéria de Lisboa, em coerência com a cidade mais virada para as pessoas. Assinando em julho de 2022 com a Fidelidade Property, promotora o projeto de Entrecampos, o Acordo Endoprocedimental permitiu então encontrar as "soluções mais adequadas para conciliar o desenvolvimento das operações urbanísticas previstas na Hasta Pública aprovada em 2018/2019, com a preservação e o reforço da estrutura arbórea existente". O objetivo: manter todas as árvores que fosse possível, transplantar as espécies saudáveis que não pudessem ficar no local para zonas próximas, dentro das Avenidas Novas, e abater as que não se encontrassem em boa condição, substituindo-as e aumentando a mancha verde.

Resultado da análise ao terreno, movida pela CML, Direção Municipal de Ambiente e equipa projetista, foi então possível garantir a "redução significativa da largura do parque de estacionamento para a dimensão mínima", garantindo a transplantação de metade das 38 árvores no Alinhamento Nascente para zonas envolventes ("a maioria a menos de 3km do ponto de origem", lê-se nos documentos oficiais), acrescentando 33 novas; e a manutenção de 30 das 37 do Alinhamento Poente, sendo uma transplantada (as outras, que apresentam lesões ou problemas, serão substituídas em igual número).
Naquela área da Av. 5 de Outubro, em lugar de desaparecerem as árvores, irão então viver 89 jacarandás e pereiras de jardim. A estas vão ainda somar-se outras 59, novas árvores a plantar nos passeios laterais da 5 de Outubro e da Rua da Cruz Vermelha, num total de 148, praticamente o dobro das que hoje enfeitam aquelas ruas (veja aqui o documento completo).