Cansados e com ar abatido, alguns com almofadas debaixo dos braços, como constatou hoje a Lusa no local, estes imigrantes improvisam listas e aguardam no jardim em frente àquele serviço do Ministério dos Negócios Estrangeiros, que tem atendido cerca de 60 pessoas por dia.

Trazem papéis para validar, no âmbito do processo de legalização, que exige agora o registo criminal para a renovação da autorização de residência e a permanência em Portugal.

Faustino, um angolano de 49 anos que vive em Portugal desde 2024, precisa de ter os documentos validados até terça-feira, segundo notificação da AIMA, que recebeu na semana passada.

É o terceiro dia que vai ao Largo das Necessidades e, ao deparar-se com dezenas de pessoas à espera, disse recear não ser hoje atendido.

Deixou Angola para "melhorar a vida" e escolheu Portugal para trabalhar, o que até conseguiu com facilidade, numa fábrica. À Lusa contou que esperava que fosse mais fácil, principalmente ao nível da habitação.

Do mesmo se queixa Azarias, um imigrante angolano de 25 anos que conseguiu um emprego algumas semanas após chegar a Portugal, no ano passado.

Na parte final da fila de espera, contou que já é o segundo dia que ali vai tentar validar o registo criminal, mas mantém a esperança, por ainda ter alguns dias para o fazer.

Apesar de o sonho de ter casa própria se revelar cada vez mais distante, disse que o futuro passa por continuar a viver em Portugal.

As dificuldades não afastam Rosalina, 54 anos, do propósito de continuar a viver em Portugal, nem de esperar ser atendida, o que a levou a dormir no chão, em cima de uma caixa de cartão, nas últimas duas noites.

Veio de fora, de Portalegre, tal como outros imigrantes que vivem em várias partes do país e ali aguardam por ser atendidos.

Esta angolana vive há dois anos em Portugal, onde também moram as duas filhas menores. "Os angolanos gostam de trabalhar, por isso conseguem trabalho", disse.

Milena, 26 anos, está em Portugal há um ano para estudar, mas nos seus planos está o regresso a Angola, o seu país. Os estudos estão a correr bem mas, tal como outros compatriotas, queixa-se das dificuldades no alojamento. Hoje as reclamações são mesmo da burocracia para a revalidação da autorização de residência e da espera que a aguarda, já que, antes do almoço, tinha 141 pessoas à frente.

Pelo terceiro dia, Núria, 34 anos, espera por ser atendida, mas hoje congratula-se com o facto de o atendimento estar mais rápido, para o que terá contribuído o reforço do pessoal.

E também com a compreensão do patrão, o que não acontece com muitos dos que ali têm de ficar horas e dias, fora do local de trabalho.

A angolana também se queixa do preço das casas, mas o seu projeto de vida passa por continuar em Portugal.

Estes imigrantes junto à Direção Geral dos Assuntos Consulares são maioritariamente angolanos porque os serviços consulares angolanos em Portugal não disponibilizam este serviço, ao contrário do que acontece com outras representações diplomáticas.

Uma das razões da fila de espera engrossar substancialmente nos últimos dias é a transição para o dia seguinte dos que não conseguem ser atendidos.

Muitas pessoas com crianças pequenas ou outros motivos prioritários também vão passando à frente, deixando imóvel a fila por vários períodos.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros alargou o horário de atendimento na terça-feira, que desde então encerra às 16:00 e não às 15:00, além de ter reforçado o serviço com mais meios humanos no atendimento.

SMM // ANP

Lusa/Fim