
O Governo de Viktor Orbán declarou-se esta quinta-feira disposto a acolher eventuais negociações de paz sobre a Ucrânia, com a Hungria a ser o único país europeu com boas relações com Donald Trump e Vladimir Putin.
"Se precisarem de nós, estamos disponíveis (...) e proporcionaremos as condições adequadas, equitativas e seguras para tais negociações", afirmou o ministro dos Negócios Estrangeiros, Peter Szijjarto, durante um programa transmitido nas redes sociais.
"Não conheço nenhum político europeu hoje, além de Viktor Orbán, que possa conversar de igual para igual" com os presidentes dos Estados Unidos e da Rússia, acrescentou, citado pela agência de notícias France-Presse (AFP).
O chefe da diplomacia húngara reagia a notícias da imprensa que mencionavam Budapeste como possível local para uma cimeira tripartida, uma opção deixada em aberto por Washington.
O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, mostrou-se relutante em relação a Budapeste em declarações divulgadas esta quinta-feira.
Zelensky considerou ser difícil realizar conversações de paz em Budapeste dadas as relações entre a Hungria e a Rússia, e disse preferir "um encontro numa Europa neutra", como a Suíça ou a Áustria.
O líder ucraniano também citou a Turquia, onde foram realizadas as últimas discussões bilaterais entre a Rússia e a Ucrânia.
As relações entre Kiev e Budapeste estão extremamente tensas, dado que o ultranacionalista Orbán se opõe a qualquer ajuda militar à Ucrânia e à entrada na União Europeia (UE).
Orbán tem afirmado que a adesão da Ucrânia arruinaria a UE, ao mesmo tempo que acusa o país vizinho de violar os direitos da minoria húngara.
O primeiro-ministro húngaro organizou uma consulta nacional para se opor à adesão da Ucrânia e mandou afixar cartazes por todo o país a ridicularizar Zelensky.
A capital húngara também continua associada a um episódio doloroso para a Ucrânia.
Foi lá que a antiga república da União Soviética assinou em 1994 um acordo conhecido como Memorando de Budapeste, pelo qual aceitou entregar à Rússia as armas nucleares soviéticas armazenadas no território ucraniano.
Zelensky considera que a Ucrânia entregou as armas "sem receber nada em troca".
"Devíamos tê-las trocado pela adesão à NATO", afirmou em outubro.
Quem também recordou o Memorando de Budapeste foi o primeiro-ministro polaco, Donald Tusk, para recusar a hipótese de a capital da Hungria acolher negociações de paz sobre a Ucrânia.
"Budapeste? Nem todos se lembram disso, mas em 1994 a Ucrânia recebeu garantias de integridade territorial dos EUA, da Rússia e do Reino Unido. Em Budapeste. Talvez eu seja supersticioso, mas desta vez tentaria encontrar outro local", escreveu Tusk na quarta-feira nas redes sociais.