No final de uma reunião de três dias realizada na ilha italiana de Capri, os ministros dos Negócios Estrangeiros do grupo formado por Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido, mais a União Europeia (UE), reconhecem também "o papel crucial desempenhado pelas agências da ONU e por outros atores humanitários na prestação de assistência", defendendo que deve ser permitido à UNRWA (agência das Nações Unidas para os refugiados palestinianos) desempenhar o seu "papel vital" na resposta humanitária.

Reiterando a forte condenação dos "ataques terroristas perpetrados pelo Hamas e outros grupos terroristas contra Israel" em outubro passado, os ministros do G7 sublinharam que "ao exercer o seu direito de se defender, Israel deve respeitar plenamente o direito internacional, incluindo o direito humanitário internacional".

"Deploramos todas as perdas de vidas civis e registamos com grande preocupação o número inaceitável de civis, incluindo milhares de mulheres, crianças e pessoas em situações vulneráveis, que foram mortos em Gaza. Apelamos a uma ação urgente para resolver a crise humanitária devastadora e crescente em Gaza, em especial a situação dos civis em todo o território", lê-se no comunicado.

Opondo-se a uma operação militar em grande escala em Rafah, que teria consequências catastróficas para a população civil", os chefes de diplomacia do G7 voltam a apelar a "um plano credível e exequível para proteger a população civil e dar resposta às suas necessidades humanitárias".

Defenderam "medidas específicas, concretas e mensuráveis para aumentar significativamente o fluxo de ajuda para Gaza, tendo em conta o risco iminente de fome para a maioria da população", pedindo ao Governo israelita que honre o seu "compromisso de alargar o fluxo de ajuda através dos atuais pontos de passagem terrestres, abrindo novos pontos de passagem terrestres e facilitando a ajuda ao norte de Gaza, onde as necessidades humanitárias são mais prementes, nomeadamente através da abertura de mais rotas para Gaza".

Reforçando que "a garantia de um acesso humanitário pleno, rápido, seguro e sem entraves, sob todas as suas formas, continua a ser uma prioridade absoluta", o G7 apela a Telavive para "que faça mais para garantir a proteção dos trabalhadores humanitários internacionais e locais, dos jornalistas e dos civis palestinianos", e destaca então "o papel crucial desempenhado pelas agências da ONU e por outros atores humanitários na prestação de assistência".

"A UNRWA tem um papel vital na resposta humanitária em Gaza. Congratulamo-nos com a rápida decisão do secretário-geral das Nações Unidas [António Guterres] de dar início a uma investigação imediata sobre a UNRWA, a fim de assegurar a plena transparência das graves alegações contra o seu pessoal e de nomear um grupo de análise independente", salientaram.

"Concordámos que é fundamental que a UNRWA e as redes de distribuição de outras organizações e agências da ONU estejam plenamente aptas a prestar ajuda àqueles que dela mais necessitam, cumprindo eficazmente o seu mandato", lê-se ainda no texto acordado.

A UNWRA protagoniza uma polémica desde que Israel acusou 12 dos seus trabalhadores, no final de janeiro, de envolvimento no ataque mortal do Hamas em solo israelita e, na sequência das acusações, cerca de 15 países, incluindo os Estados Unidos, suspenderam o equivalente a mais de metade dos fundos recebidos pela agência em 2023, mas desde então vários países já retomaram os seus pagamentos.

O conflito em curso entre Israel e o movimento islamita palestiniano Hamas foi desencadeado pelo ataque de 07 de outubro de 2023, que provocou a morte de cerca de 1.200 israelitas, a maioria dos quais civis, e levou ao sequestro de cerca de 240 civis, dos quais mais de 100 permanecem como reféns em Gaza.

Israel, que prometeu destruir o movimento islamita palestiniano, tem bombardeado a Faixa de Gaza, onde, segundo o governo local liderado pelo Hamas, já foram mortas quase 34.000 pessoas, a maioria das quais eram também civis.

A ofensiva israelita também tem destruído a maioria das infraestruturas de Gaza e perto de dois milhões de pessoas foram forçadas a abandonar as suas casas, a quase totalidade dos 2,3 milhões de habitantes do enclave.

A população da Faixa de Gaza também se confronta com uma crise humanitária sem precedentes, devido ao colapso dos hospitais, o surto de epidemias e escassez de água potável, alimentos, medicamentos e eletricidade.

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