Com as aulas já a decorrer, alguns estudantes ligados ao acampamento tentavam evitar que os seus pertences fossem para o lixo e não quiseram falar à Lusa, remetendo para os comunicados oficiais. O ambiente era de evidente desilusão.

Junto ao Royce Hall, trabalhadores protegidos pela polícia e grades limpavam tendas, roupas, cadeiras de praia, garrafas de água e todo o tipo de itens que foram usados durante a ocupação, que durou uma semana.

Para a ocupante Lisa Cooper, que não foi detida pela polícia e permanecia na UCLA a recolher itens deixados para trás, a UCLA -- uma universidade pública -- não deveria ter ordenado a desmobilização, uma vez que se trata de terreno público de livre acesso, ao contrário da USC, que é uma universidade privada.

"Não quero formar a opinião de ninguém, mas pedia às pessoas que lessem e vissem o que está documentado em órgãos legítimos antes de tomarem posição sobre quem são os agressores e agitadores", afirmou. "Não há necessidade de retaliação", disse ainda, referindo-se a potenciais ações da UCLA contra os estudantes que participaram no acampamento.

Mais de 200 manifestantes foram presos pela polícia de Los Angeles durante o desmantelamento do acampamento pró-Palestina que ocupou uma porção do 'campus' na última semana.

A operação, que levou cerca de quatro horas durante a madrugada, retirou os ocupantes à força e incluiu o uso de balas de borracha e sinalizadores de fumo, com os agentes envergando armaduras corporais, capacetes e escudos contra os estudantes.

"A CHP [patrulha das autoestradas na Califórnia] formou a primeira linha quando se deram os confrontos com sionistas no acampamento", disse Lisa Cooper.

"Chegaram primeiro porque têm jurisdição em todo o lado e podem fazer perseguições na autoestrada, mas não são obrigados a usar câmaras no corpo", afirmou a manifestante.

O chanceler da UCLA Gene Block determinou que o acampamento era ilegal, apesar de uma carta assinada por 250 professores que pediam à Universidade para deixar os estudantes continuarem a sua ação de desobediência civil.

Foi aí que um grupo de contra-manifestantes ligados à defesa de Israel atacou o acampamento e a violência que se seguiu durou horas antes de ser parada pela polícia.

"A CHP escoltou os sionistas para fora sem fazer detenções", relatou Lisa Cooper, dizendo que os contra-manifestantes tinham usado spray tóxico e carregavam itens que podiam ser usados para ataques físicos.

Depois de suster a violência e repetir os pedidos de desmobilização voluntária, a CHP e a LAPD avançaram para forçar o fim da ocupação, na madrugada de quinta-feira.

Nas janelas do histórico Royce Hall, polícias armados monitorizavam a operação de desmantelamento, com os estudantes a virarem holofotes para eles e a desafiarem-nos a descer. Os eventos foram captados por telemóveis e transmitidos nas redes sociais, onde o movimento Students for Justice in Palestine UCLA tem mobilizado apoio.

"O acampamento na UCLA foi desmantelado pela polícia", publicou o movimento. "As pessoas começam a ser libertadas no centro de receção de detidos. Por favor vão para lá o mais depressa possível e tragam cobertores, comida, carregadores de telemóvel e carregadores portáteis", pediu o movimento.

O fim do acampamento na UCLA segue-se a operações policiais semelhantes na USC (Universidade do Sul da Califórnia), também em Los Angeles, e na Universidade Politécnica Estadual da Califórnia em Humboldt, no norte. Os estudantes protestam contra a situação em Gaza, onde há uma catástrofe humanitária a acontecer e morreram cerca de 34 mil palestinianos na guerra de retaliação após um ataque terrorista do Hamas contra Israel a 07 de outubro de 2023.

A mayor Karen Bass emitiu um comunicado depois de passar pelo Posto de Comando de Incidentes na UCLA durante a madrugada. Bass caracterizou a violência como "deplorável" e anunciou uma investigação sobre o sucedido.

"A liberdade de opinião vai ser protegida. A violência e intolerância não" garantiu a mayor, que disse ter recebido o apoio do governador da Califórnia, Gavin Newsom.

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