Familiares de presos políticos denunciaram na segunda-feira a suspensão de todas as visitas aos detidos e a proibição da entrega de encomendas em vários centros prisionais da Venezuela.

"A minha irmã Margareth chegou a El Rodeo I [prisão], cumprindo todos os protocolos, mas foi informada de que as visitas estavam suspensas por tempo indeterminado, sem explicação nem razão", denunciou Andreína Baduel, uma das familiares afetadas, na rede social X.

"A suspensão das visitas e a detenção em regime de incomunicabilidade ratificam o que temos vindo a denunciar: que Josnars foi e continua a ser vítima de tortura, que o seu estado de saúde e as suas condições se deterioram todos os dias por falta de assistência médica", explicou.

De acordo com a ativista e jornalista Andreína Baduel, "negar o contacto com a família, restringir a entrega de material médico e mantê-lo nestas condições é uma tortura, tanto para ele como para a sua família".

"E isto não está a acontecer apenas com Josnars: Na Venezuela, milhares de famílias de presos políticos sofrem a mesma realidade (...) não é justo que nenhuma família venezuelana tenha de viver nesta situação", sublinhou.

Nas redes sociais, vários outros familiares queixaram-se da situação e instaram as autoridades a libertarem todos os presos políticos.

Em 05 de agosto, a organização não-governamental Comité Pela Liberdade dos Presos Políticos (Clippve) denunciou que as autoridades venezuelanas estão a impor restrições à entrega de alimentos levados por familiares aos presos políticos.

As restrições afetam, segundo o Clippve, os presos políticos de El Helicoide (Caracas), onde funciona uma das sedes do Serviço Bolivariano de Inteligência Nacional (serviços de informações) e acontecem numa altura em que há queixas sobre a alimentação dos detidos nas prisões do país.

"Apelamos urgentemente à comunidade internacional, às organizações de direitos humanos e às autoridades nacionais competentes para que intervenham imediatamente. Esta situação constitui uma violação do direito à alimentação, à integridade pessoal e a um processo justo, e reflete o enraizamento de um padrão de tratamento cruel e desumano", explicou o Clippve na rede social X.

O Clippve ouviu queixas de familiares dos presos políticos, dizendo que "só poderão levar alimentos às sextas-feiras, suspendendo a possibilidade de o fazerem diariamente".

De acordo com o Clippve, "esta decisão agrava ainda mais a situação dos detidos que, em muitos casos, foram privados de [receber] visitas durante um ano, não podendo comunicar por telefone e estando completamente isolados das suas famílias (...), além do confinamento e do isolamento prolongado, a ingestão de alimentos é limitada e a entrega de encomendas é reduzida a uma vez por semana", sublinhou a organização.

O Observatório Venezuelano de Prisões (OVP) tem denunciado que há detidos de várias cadeias venezuelanas que recebem apenas uma refeição por dia e que, por vezes, passam vários dias sem alimentos fornecidos pelo Estado.

Em muitas prisões, ainda segundo o OVP, os familiares têm de levar comida aos reclusos, porque a que é fornecida pela instituição é insuficiente ou inexistente.

A ONG Foro Penal (FP) contabilizou, em 04 de agosto, na Venezuela, 807 pessoas detidas por motivos políticos, 712 homens e 95 mulheres.

Do total de presos políticos, 638 são civis e 169 militares, 803 adultos e quatro adolescentes.