
Uma grande investigação da BBC revela que milhares de norte-coreanos estão a ser enviados para a Rússia para trabalhar em condições precárias, semelhante à escravidão escreve mesmo o canal britânico, devido à falta de mão de obra no país.
A dependência de Pyongyang não se estende, assim, apenas ao envio de material de combate - como mísseis e granadas de artilharia - mas também à utilização de trabalhadores norte-coreanos para preencher lacunas numa altura em que muitos russos fugiram ou estão presos em combate.
"Acordar era assustador"
O canal britânico falou com seis trabalhadores norte-coreanos que conseguiram fugir e relataram ter sido submetidos a condições “abomináveis” e de total controlo das autoridades norte-coreanas. Um dos testemunhos, que não é identificado no texto, conta que quando chegou à Rússia foi acompanhado até ao local de trabalho sem poder falar ou olhar para ninguém. “O mundo exterior é nosso inimigo”, disse-lhe o agente.
Foi colocado imediatamente a trabalhar numa construção de apartamentos por mais de 18 horas por dia. Uma situação também relatada pelos outros trabalhadores: acordavam às 6:00 e trabalhavam até as 2:00. Apenas tinham duas folgas por ano.
"Acordar era assustador, perceber que tinha que repetir o mesmo dia várias vezes" , disse outro dos trabalhadores ouvidos.
Ficavam ‘presos’ nos locais de trabalho, sendo constantemente vigiados por agentes do departamento de segurança estatal da Coreia do Norte; E dormiam ou em contentores sujos e sobrelotados, cheios de insetos ou no meio das obras inacabadas.
No ano passado, foram enviados para a Rússia pelo menos 10 mil trabalhadores
Dados citados pela BBC mostram que dezenas de milhares de norte-coreanos trabalhavam na Rússia, gerando um grande lucro ao governo de Kim Jong-un. Mas em 2019 a ONU proibiu o uso desses trabalhadores numa tentativa de cortar os fundos para impedir Pyongyang de construir armas nucleares.
No entanto, no ano passado, mais de 10 mil trabalhadores foram enviados para a Rússia, com a previsão, disseram fontes à BBC, de serem enviados mais cinco mil. Dados do governo de Putin mostram que no ano passado, mais de 13 mil norte-coreanos entraram no país, um aumento 12 vezes superior ao registado em 2023.