A Alemanha realiza este domingo as eleições legislativas antecipadas, depois da queda do governo de coligação liderado pelo social-democrata Olaf Scholz, com as migrações, a recessão económica e a subida da extrema-direita a dominarem os debates.

Eis algumas perguntas e respostas sobre as eleições para o Bundestag, câmara baixa do Parlamento alemão:

Quantos eleitores

Cerca de 59,2 milhões de eleitores com 18 anos ou mais podem votar nestas eleições, numa população total de cerca de 83,6 milhões de pessoas, segundo o Gabinete Federal de Estatística (Destatis).

Como são organizadas as eleições legislativas

As eleições para o Bundestag realizam-se normalmente a cada quatro anos. O ato eleitoral do próximo dia 23 foi antecipado em sete meses - estava previsto para 28 de setembro -, devido ao colapso do executivo liderado por Olaf Scholz (Partido Social-Democrata, SPD), em coligação com os liberais do FPD e os Verdes.

Como se processa o voto

Cada eleitor vota duas vezes: o primeiro voto é para eleger diretamente os deputados do Bundestag em 299 círculos eleitorais.

O segundo é para escolher um partido político num dos 16 estados em que o eleitor vive. Uma reforma eleitoral recente determinou uma redução dos 733 eleitos do Parlamento cessante para um total de 630 lugares.

Como é que os partidos são eleitos

Em princípio, cada partido deve obter pelo menos cinco por cento dos segundos votos em todo o país para estar representado no Bundestag. Se a quota dos segundos votos de um partido for inferior a cinco por cento, ele pode, no entanto, entrar no Bundestag e receber o número de assentos que reflete a sua quota dos segundos votos, se tiver conquistado pelo menos três assentos eleitorais.

Este princípio é conhecido como 'Grundmandatsklausel', a cláusula relativa ao número mínimo de mandatos necessários para a representação dos partidos no Parlamento.

Quantos partidos concorrem a estas eleições

A autoridade eleitoral da Alemanha autorizou a participação de 29 partidos nas eleições gerais de 23 de fevereiro. A União Democrata-Cristã, que concorre em coligação com a sua congénere bávara CSU, candidata Friedrich Merz ao lugar de chanceler e é a favorita, nas sondagens, com as intenções de voto a rondar os 30%.

O partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD), que avança com Alice Weidel, uma das suas co-líderes, poderá ter uma votação entre 20% e 22%, segundo os estudos de opinião.

O SPD de Scholz está em terceiro lugar (cerca de 16%), mas sondagens mais recentes mostram que os Verdes, que candidatam o vice-chanceler e ministro das Finanças do governo cessante, Robert Habeck, podem competir também pela terceira posição. A Esquerda deverá manter-se no Bundestag, com uma votação de 6%.

O partido liberal (FDP), até há pouco no governo, poderá sair do Parlamento, uma vez que as sondagens não lhe dão mais que 4% dos votos. Também a Aliança Sahra Wagenknecht (esquerda populista), criada em janeiro de 2024, poderá não alcançar a marca dos 5%.

Outros partidos que concorrem incluem formações que estão atualmente presentes em pelo menos um Parlamento regional, como os Eleitores Livres, parceiros governamentais do governo bávaro liderado por Markus Söder, a União Social Cristã (CSU), a "irmã bávara" da CDU, e a Aliança Alemã -- que tem atualmente um deputado no Bundestag, Uwe Witt, após a saída do político da AfD.

Uma cisão da CDU concorre sob o nome União dos Valores, liderada por Hans-Georg Maassen, antigo chefe dos serviços de informação do Ministério do Interior, que foi recentemente investigado pela mesma instituição pelo seu radicalismo de direita.

Partidos regionalistas ou pró-independência, como o Partido da Baviera, também se candidatam, bem como o MERA25, apoiado pelo antigo ministro das Finanças grego Yanis Varoufakis, o tradicional Partido Pirata alemão, o Partido Humanista, o Partido do Progresso, o Partido Marxista-Leninista, o Partido Socialista da Igualdade, a Quarta Internacional, o Partido Democrata Ecológico-Mundo Humano ou o Partido da Investigação sobre o Rejuvenescimento.

As cores dos partidos

Sean Gallup

Vermelho

Partido Social-Democrata (SPD) - É o mais antigo da Alemanha. As suas origens remontam ao movimento socialista e operário, que tomou forma na década de 1860. Com a rosa vermelha como símbolo, mantém-se próximo dos sindicatos, empenhado num Estado social forte e no objetivo da justiça social.

Preto

União Democrata-Cristã (CDU) - O partido conservador alemão, liderado pelo antigo advogado Friedrich Merz, está empenhado na disciplina fiscal e na economia de mercado, na lei e na ordem e nos "valores familiares" tradicionais.

Merz levou o partido mais à direita do que o caminho centrista da antiga chanceler Angela Merkel (2005-2021), em particular ao endurecer a sua posição contra a imigração ilegal. A CDU formou uma aliança permanente com a União Social Cristã (CSU), o partido conservador do sul da Baviera, liderado por Markus Söder.

Amarelo

Partido Democrático Livre (FDP) - O FDP, que defende o liberalismo económico e social, é desde há muito o principal "terceiro partido" da Alemanha, tendo desempenhado um papel fundamental na formação e no colapso de várias coligações desde a década de 1980.

O seu líder, o antigo ministro das Finanças Christian Lindner, provocou a crise governamental e foi demitido por Scholz no início de novembro.

Provocador, chocou recentemente o mundo ao declarar que "uma pitada de Milei e Musk faria bem à Alemanha", uma referência ao presidente ultraliberal argentino, Javier Milei, e ao bilionário do setor tecnológico Elon Musk, próximo do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e apoiante da extrema-direita alemã.

Verde

Os Verdes - Os Verdes nasceram do movimento de protesto ambientalista e anti-nuclear dos anos 1970 e 1980, mas progressivamente deixaram os 'slogans' pacifistas e aderiram a várias coligações regionais e nacionais, nas quais defendem fortemente a ideia europeia.

Após a reunificação, juntaram-se a grupos de ativistas na antiga Alemanha de Leste comunista. O vice-chanceler e ministro da Economia, Robert Habeck, é o principal candidato dos Verdes às eleições, juntamente com a ministra dos Negócios Estrangeiros, Annalena Baerbock.

Azul

Alternativa para a Alemanha (AfD) - Este partido de extrema-direita, fundado há dez anos com uma orientação eurocética, adotou desde então um programa virulento anti-imigração e anti-Islão, bem como posições pró-russas e céticas em relação ao clima.

Tem-se insurgido contra a política de Angela Merkel, de 2015, de aceitar refugiados quando os migrantes da Síria e do Afeganistão fugiram da guerra. Alguns líderes do AfD utilizam por vezes expressões da era nazi e os serviços secretos nacionais colocaram os elementos mais radicais do partido sob vigilância.

Liderado por Alice Weidel, o AfD tem uma presença particularmente forte na antiga Alemanha de Leste. Os outros partidos afirmam manter um "cordão sanitário" em torno do AfD, recusando qualquer aliança com o partido, mas a CDU recebeu recentemente o apoio deste partido em propostas para endurecer a migração.

Violeta

Aliança Sahra Wagenknecht (BSW) - Formado há menos de um ano, o partido BSW está a ganhar popularidade sob o impulso da sua líder Sahra Wagenknecht, uma antiga figura do partido de extrema-esquerda A Esquerda. Sahra Wagenknecht, apresentadora de programas de televisão sem experiência governativa, cresceu na antiga RDA comunista e defende posições anti-capitalistas.

Também se opõe à NATO e às bases norte-americanas na Alemanha e quer acabar com o fornecimento de armas à Ucrânia. Defende uma linha dura contra a imigração, o que lhe valeu o rótulo de "conservadora de esquerda". Graças ao seu sucesso eleitoral inicial, juntou-se às coligações governamentais em dois estados regionais do Leste do país -- Turíngia e Brandenburg.