Os chefes da diplomacia da Alemanha e da União Europeia apelaram ontem a Israel para que trave o novo plano de colonatos entre Jerusalém Oriental e a Cisjordânia ocupada, considerando-o uma violação do direito internacional.

A Administração Civil israelita na Cisjordânia, órgão governamental no território ocupado, aprovou um plano de construção num vasto terreno a leste de Jerusalém, conhecido como E1, que contribuirá para isolar a cidade dos territórios palestinianos e favorecer a colonização do enclave.

A diplomacia alemã, liderada por Johann Wadephul, reagiu ao anúncio israelita manifestando oposição "firme" ao plano e apelando ao governo israelita para "cessar a construção de colonatos" no território palestiniano.

Berlim "rejeita firmemente os anúncios do Governo israelita sobre a aprovação de milhares de novas habitações nos colonatos israelitas na Cisjordânia", afirmou o ministério em comunicado.

Está prevista para a próxima semana a ratificação do plano, que além da construção de mais três mil habitações entre Jerusalém e o colonato judaico de Ma'ale Adumim prevê uma nova estrada para separar o tráfego palestiniano do israelita, ligando Belém a Ramallah sem passar por Jerusalém.

Durante vários anos, as autoridades israelitas evitaram a implementação do projeto de construção E1, devido à pressão da comunidade internacional, que teme que a expansão dos colonatos impeça o estabelecimento de um Estado palestiniano contíguo a Jerusalém Oriental.

Tal como Berlim, a alta representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, Kaja Kallas, apelou a Israel para "desistir" do novo plano de colonatos, apoiado pelo ministro das Finanças de extrema-direita de Israel, Bezalel Smotrich.

"A decisão das autoridades israelitas de avançar com o plano do colonato E1 enfraquece ainda mais a solução de dois Estados e constitui uma violação do direito internacional", disse Kallas em comunicado.

"A UE insta Israel a desistir de avançar com esta decisão, observando as suas implicações de longo alcance", adiantou.

Também o secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu hoje a suspensão do novo plano de colonatos, alertando que resultará na separação do norte do sul do território palestiniano da Cisjordânia.

O porta-voz do secretário-geral, Stéphane Dujarric, afirmou que estes planos foram exacerbados por uma declaração do ministro das Finanças israelita, que os interpretou como "enterrar a ideia de um Estado palestiniano" e "prosseguir um dos muitos passos" a ser dados "no terreno como parte do plano para a soberania de facto" sobre a Cisjordânia.

No ano passado, o principal tribunal da ONU, o Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), declarou que a presença de Israel nos territórios ocupados palestinianos "é ilegal" e pediu a suspensão imediata da construção de colonatos, condenando o controlo de Israel sobre as terras que conquistou há quase 60 anos.

Egito, Jordânia e Qatar consideraram que os planos do Governo israelita "incentivam a violência" e condenaram os "planos expansionistas" de Israel.

Os três países rejeitaram categoricamente "planos e declarações extremistas" do ministro das Finanças israelita, que perspetivam o isolamento da parte oriental de Jerusalém do resto da Cisjordânia, ambos territórios ocupados por Israel desde 1967.

O Qatar, que está a mediar, em conjunto com o Egito e os Estados Unidos, uma trégua em Gaza, apelou para que "a comunidade internacional se una para obrigar a ocupação israelita a travar os planos de colonização".

A Liga Árabe, composta por 22 países, considerou que a criação de um Estado palestiniano na Cisjordânia ocupada e em Gaza, com capital em Jerusalém Oriental, é a única solução para o conflito no Médio Oriente.

O anúncio israelita acontece poucas semanas antes da Assembleia-geral da ONU, em que vários países, como França, Canadá, Austrália e Portugal, devem reconhecer oficialmente o Estado palestiniano.