José Sócrates regressa esta terça-feira ao julgamento da Operação Marquês com a prova de que demitiu o administrador da RAVE (Rede de Alta Velocidade), quando estava no governo, o que pode ajudar a contrariar a tese de que Luís Ribeiro dos Santos e o ex-primeiro-ministro estiveram envolvidos num ato de corrupção para favorecer o grupo Lena no negócio do TGV.

"Em nenhum sítio da acusação se refere que o meu governo, logo que teve oportunidade, demitiu o dr. Ribeiro dos Santos em dezembro de 2005.Vou entregar a prova de que isso aconteceu."

O tema do TGV está ligado ao capítulo relacionado com a construtora de Leiria (Lena) e já tinha sido falado em julho. Após as férias judiciais, Sócrates quis voltar ao tema e trouxe novas críticas para o Ministério Público.

“Isto é um absurdo! Um perfeito disparate”, disse o ex-primeiro-ministro, acabando repreendido pela juíza.
“Já lhe pedi que não fizesse adjetivações pejorativas”, apelou Susana Seca.
“Estou proibido de dizer disparate?”, questionou José Sócrates.
“’Absurdo’ sim, 'disparate’ não.”
“Enfim… é estapafúrdio.”

A juíza acabou mesmo por desafiar José Sócrates para apresentar uma nova recusa de juiz.

"O tribunal não tem azedumes, não tem sentimentos, nunca teve nem terá. Está aqui para fazer o seu trabalho. Se tiver duvida em relação a objetividade e imparcialidade deste tribunal, tem os meios para apresentar os incidentes que entender. O tribunal não vai é admitir que o senhor faça considerações sucessivas sobre a objetividade e imparcialidade deste tribunal. A s perguntas que o tribunal faz destinam-se a contraditar e não mostrar azedume ou desconfiança. O tribunal não pode nem vai faze-lo. Caso entenda, apresente a recusa de juiz. Estamos entendidos?"

Em resposta, José Sócrates disse que já fez um pedido de recusa e a juíza Susana Seca desafiou-o a faze-lo novamente: "Pode apresentar outra vez!"

“Silêncio do tribunal causa-me um esgar de repulsa”

José Sócrates quis ainda fazer uma nota prévia para se referir ao estatuto de maior acompanhado atribuído a Ricardo Salgado devido à doença de Alzheimer. A defesa do antigo banqueiro pediu a extinção do processo devido a esse novo estatuto, mas o tribunal ainda não se pronunciou.

"Encaro este julgamento como algo que me provoca, para citar um dos maiores filósofos do século XX, um esgar de repulsa ao constatar que um tribunal está a julgar cobardemente alguém que não se pode defender. Acho que um tribunal democrático que desconsidere o facto de alguém que está a ser perseguido penalmente não tem condições p se defender, não merece o título de democrático."