Estes números são os mais elevados desde que o CPJ mantém registos há mais de três décadas, refletindo o aumento dos conflitos internacionais, da agitação política e da criminalidade em todo o mundo.
"Hoje, é o momento mais perigoso para se ser jornalista na história do CPJ", salientou a diretora executiva da organização, Jodie Ginsberg, num comunicado.
Segundo o relatório, o aumento global das mortes dos trabalhadores dos 'media' em 2024, que registou uma subida de 22% em relação ao ano anterior, foi impulsionado principalmente pela guerra na Faixa de Gaza, travada entre Israel e o grupo extremista palestiniano Hamas, na qual morreram 85 jornalistas, 82 dos quais palestinianos, representando 70% das mortes de todos os jornalistas no mundo.
"A guerra em Gaza não tem precedentes no seu impacto sobre os jornalistas e demonstra uma grande deterioração das normas globais de proteção dos jornalistas em zonas de conflito, mas está longe de ser o único lugar onde os jornalistas estão em perigo. Os nossos números mostram que os jornalistas estão a ser atacados em todo o mundo", salientou a representante.
No Sudão, devastado por uma guerra civil que já causou milhares de mortos e milhões de deslocados, foram mortos seis jornalistas em 2024.
De igual modo, no Paquistão, onde não se registavam mortes de trabalhadores dos meios de comunicação social desde 2021, foram mortos seis profissionais, em parte devido à agitação política no país.
"O aumento dos assassinatos de jornalistas faz parte de uma tendência mais ampla do silenciamento dos meios de comunicação social a nível mundial. Esta é uma questão que nos deve preocupar a todos, porque a censura impede-nos de combater a corrupção e a criminalidade e de responsabilizar os mais poderosos", frisou Jodie Ginsberg no mesmo comunicado.
O Médio Oriente e o Norte de África continuaram a ser as zonas onde o maior número de profissionais da comunicação social foi assassinado, representando mais de 78% (97) do total.
Na Síria, que se encontra atualmente num período de transição após a queda do regime do Presidente Bashar al-Assad em 08 de dezembro, foram mortos quatro jornalistas.
O Iraque, que foi palco de uma vaga de assassinatos de jornalistas entre 2003 e 2020, registava uma tendência inversa até 2023, um ano sem mortes. No entanto, em 2024, três jornalistas foram mortos na sequência da escalada da violência resultante da cooperação entre o Iraque e a Turquia em operações contra militantes curdos.
Segundo o CPJ, pelo menos 24 jornalistas em todo o mundo foram deliberadamente mortos por causa de seu trabalho em 2024.
Os jornalistas independentes representam mais de 35% (43) de todos os assassinatos.
Em 2024, 31 dos 'freelancers' mortos eram jornalistas palestinianos que faziam reportagens a partir de Gaza, onde os meios de comunicação social internacionais continuam a ser impedidos de trabalhar, exceto em raras viagens, organizadas pelo exército israelita.
Na América Latina e nas Caraíbas, o México registou cinco assassinatos em 2024, mantendo a sua posição como um dos países mais perigosos do mundo para os jornalistas.
No Haiti, onde o poder foi tomado por grupos criminosos e onde milhões de haitianos vivem atualmente em condições de guerra, os gangues reivindicaram a morte de dois jornalistas.
Ainda no âmbito do relatório hoje divulgado, o CPJ fez várias recomendações no sentido de melhorar a segurança dos jornalistas e o processo de responsabilização por estas mortes, incluindo o estabelecimento de um grupo de trabalho internacional de investigação centrado nos crimes contra jornalistas.
Em 2025, os assassinatos dos profissionais da comunicação social continuam a um ritmo acelerado, com pelo menos seis jornalistas e trabalhadores dos 'media' a serem mortos nas primeiras semanas do ano, alertou ainda o CPJ.
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