No fundo, não é isso que todos procuramos? Relações que nos façam sentir maiores do que somos sozinhos, melhores versões de nós próprios. Conhecidos, familiares, amigos ou colegas, que nos acrescentam, que nos fazem olhar para dentro e perceber que, com elas, conseguimos ser uma versão mais inteira de nós mesmos.
Há pouco tempo, ao ler um livro de Shiva Ryu, escritor sul-coreano de quem gosto muito, deparei-me com uma história que me marcou. Uma cientista, no âmbito da sua tese de doutoramento, passou um ano com uma comunidade de índios Navajo, no Sul dos Estados Unidos. Foi para observar, para estudar. Mas, no meio das diferenças de língua, de cultura e de idade, encontrou algo que não estava nos planos, uma amizade improvável.
Com o tempo, a convivência aproximou-a sobretudo da matriarca da família. Não falavam a mesma língua, mas encontraram uma forma de se compreender, feita de gestos, de olhares e de pequenas atenções. Uma linguagem simples, mas carregada de significado.
Quando chegou a hora da despedida, a dor era recíproca. A investigadora sabia que estava a deixar para trás muito mais do que um objeto de estudo. E, naquele instante, a avó, no esforço de se fazer entender, disse-lhe no seu melhor inglês: “Gosto mais de mim quando estou contigo.”
Poucas frases conseguem traduzir tão bem o impacto que uma relação pode ter na vida de alguém. Ali não havia interesses, contratos ou obrigações. Havia presença, cuidado e um reconhecimento silencioso de que, juntos, eram melhores.
Talvez devêssemos procurar mais este tipo de encontros. Relações que, mesmo nas diferenças, nos tocam tão fundo. Que nos lembram que ser humano é, acima de tudo, ser capaz de criar laços que transformam. Porque, no fim, não é isso que realmente nos marca e dá sentido às nossas vidas?
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