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Empresas de media: um verdadeiro SNAFU!

O mundo mudou — mas as empresas de media continuam a operar como se estivéssemos em 2001. Um típico exemplo do que se entende por "Situation Normal, All Fucked Up".
Empresas de media: um verdadeiro SNAFU!
DALL-E

O mundo mudou — mas as empresas de media continuam a operar como se estivéssemos em 2001. Apesar de toda a disrupção trazida pela revolução digital, muitas destas empresas continuam presas a modelos de gestão tradicionais, com estruturas pesadas e com uma crença quase religiosa na forma como sempre fizeram as coisas. É aqui que entra o termo SNAFU.

Para quem não conhece, SNAFU é um acrónimo nascido no jargão militar norte-americano durante a Segunda Guerra Mundial: Situation Normal, All Fucked Up. Era usado para descrever situações em que o caos era tal... que já nem surpreendia ninguém. Ou seja: estava tudo errado, mas dentro da normalidade operacional.

Infelizmente, é uma descrição demasiado certeira para o estado atual de grande parte da indústria dos media.

Audiências? Só se for bola ou tragédia

Os comportamentos de consumo mudaram radicalmente. Hoje, o único conteúdo capaz de reunir verdadeiras mass-audiences são eventos desportivos ou fenómenos informativos muito específicos — como guerras, pandemias ou eleições polarizadas. Tudo o resto fragmentou-se.

E ainda assim, vemos televisões generalistas a insistirem em blocos publicitários de dez, 15, 20 minutos — num cenário em que basta um segundo de espera para alguém mudar de canal, abrir o TikTok ou receber uma notificação no smartphone. O resultado? Uma fuga contínua da atenção. E, com ela, de receita.

Gráfico
Gráfico créditos: Dados estimados com base em tendências globais (Pew, Reuters Institute, eMarketer)

O papel (in)útil

Na imprensa, o panorama não é melhor. Se excluirmos os nostálgicos e os jornalistas que ainda sonham com a tinta nas mãos, há poucas razões para continuar a insistir no papel.

Ambientalmente é insustentável. Logisticamente é dispendioso. E, mais importante, não responde aos hábitos reais de consumo. A esmagadora maioria das pessoas lê notícias no telemóvel. As publicações deviam encarar a verdade: manter edições em papel, hoje, é quase sempre uma decisão emocional ou institucional — e raramente racional.

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Gráfico créditos: ERC, INE, estimativas editoriais

Digital: os conservadores da revolução

Seria de esperar que, no digital, as coisas estivessem mais alinhadas com o futuro. Mas não estão.

A verdade é que há um conservadorismo surpreendente nas redações online. Enquanto a televisão dedica até 30% do tempo de visualização a publicidade (sem pudores), os sites de informação vivem com menos de 10% de tempo monetizável por utilizador — e mesmo esse é frequentemente subaproveitado.

Resultado? Modelos de negócio frágeis, dependência excessiva de subsídios ou de mecenas, e uma fragilidade crescente perante plataformas e algoritmos.

SNAFU… e depois?

Está tudo normal. E está tudo fod&%&$. A indústria precisa de um wake-up call. De um abanão sério. Porque a situação pode ser “normal”, mas está longe de estar controlada.

É tempo de:
- repensar formatos de monetização,
- abandonar tradições obsoletas,
- perceber que o valor está na atenção, não no suporte,
- e sobretudo agir com a urgência que a situação exige.

Ou, então, que se assuma de vez: é mesmo um SNAFU. E o fim, esse, será também previsivelmente “normal”.

Fernando Parreira é Chief-Revenue-Officer da InsurAds

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