A Europa está a assistir ao nascimento de uma nova força de trabalho, que não se encontra nos escritórios das grandes empresas, nem nas fábricas. Está a emergir, sim, nas cozinhas dos bairros e nos ecrãs dos nossos telemóveis. Esta força de trabalho é feita de empreendedores independentes, fundadores a solo e pequenos empresários – pessoas que estão a construir os seus próprios caminhos, muitas vezes com pouco capital, mas com uma visão clara: viver do seu talento e da sua autonomia.

Esta tendência não é um acaso. É o resultado de três outras forças que atuam em simultâneo: a democratização da tecnologia, a procura por significado no trabalho e a desilusão com os modelos tradicionais de emprego. Vale a pena dizer também que, do que me parece, não será uma moda passageira; os seus fundamentos são estruturais. É o novo tecido económico da Europa.

No centro desta mudança está uma ideia simples, mas poderosa: a verdadeira soberania começa com a autonomia financeira. Quando um empreendedor no Porto ou um padeiro nos Açores consegue aceder a ferramentas que lhe dão visibilidade e o tornam competitivo, não estamos apenas a construir mais uma empresa, estamos a construir resiliência económica.

Numa altura em que se discute a necessidade de alguma soberania europeia, o que sei é que esta não será edificada apenas com regulação ou estratégias macroeconómicas. Constrói-se quando cada cidadão, em qualquer canto do continente, tem a capacidade de ser dono do seu próprio destino económico. Começa com acesso: a ferramentas simples, intuitivas e eficazes; a capital; a redes; a conhecimento; e a um sistema que confia nas pessoas que querem criar algo seu. Na Rauva, vemos isso todos os dias: pessoas a lançar negócios com impacto, muitas vezes sem experiência prévia, mas com coragem, criatividade e urgência. A abrir empresas, a gerir finanças, a emitir faturas, a cobrar, a pagar salários. E tudo com o mesmo objetivo: construir algo que seja seu.

A Europa não precisa apenas de mais startups com milhões em capital de risco. Precisa de capacitar o bolo-rei vendido por uma empreendedora em Viseu, a loja online de um jovem em Málaga, o consultor que decide abrir a sua própria empresa em Berlim ou a costureira que monta um atelier em Marselha. Estes são os novos protagonistas da economia europeia. São eles que estão a tornar o tecido económico mais resiliente, mais diverso e mais ligado às realidades locais.

Se queremos uma Europa soberana, precisamos de uma Europa com menos fricção para quem quer criar. Menos burocracia. Menos barreiras fiscais. Menos distância entre a ideia e a execução. E mais ferramentas ao serviço da autonomia.

O futuro da força de trabalho europeia será plural, digital, criativo e, cada vez mais, empreendedor. Não é uma ameaça – é uma enorme oportunidade.

Cofundador e CEO da Rauva