
O mais recente OECD-FAO Agricultural Outlook, publicado a 15 de julho, projeta um crescimento robusto da produção e do consumo globais de produtos agrícolas e das pescas até 2034.
A produção deverá aumentar 14% e o consumo 13%. O motor deste crescimento serão sobretudo os países de baixo e médio rendimento: nos primeiros, o aumento advém do crescimento populacional; nos segundos, resulta, sobretudo, da melhoria do consumo per capita. No entanto, segundo o relatório, este crescimento será acompanhado de maiores pressões ambientais, volatilidade de preços e desigualdades no acesso a tecnologia e a mercados.
Os cereais e oleaginosas continuarão a ser a base da dieta e da segurança alimentar mundial. O desafio será produzir mais em condições de maior escassez hídrica, maior variabilidade climática e pressão sobre os solos. A oportunidade está na intensificação sustentável: sementes resistentes, agricultura de precisão, uso eficiente da água e práticas regenerativas. Ao mesmo tempo, os mercados vão exigir estabilidade no abastecimento, o que reforça a importância do comércio internacional para amortecer choques regionais.
O setor das frutas e legumes, cada vez mais central para responder à procura por dietas mais saudáveis, enfrenta uma dupla pressão. Por um lado, segundo as estimativas, a procura irá aumentar, em especial em países de rendimento médio, onde o consumo per capita de frutas tropicais e legumes frescos cresce de forma consistente. Por outro, são culturas altamente vulneráveis a fenómenos climáticos extremos, à escassez de água e a pragas emergentes. As oportunidades surgirão na diferenciação: frutas tropicais, pequenos frutos e hortícolas frescos ganharão valor em cadeias de exportação quando aliados à certificação de qualidade e à rastreabilidade. A logística — armazéns frigoríficos, transporte rápido, embalagens sustentáveis — será tão estratégica quanto a produção.
O consumo global de carne deverá aumentar quase 48 milhões de toneladas até 2034, mas o comércio crescerá muito menos do que na última década. O desafio é enorme: reduzir emissões de gases com efeito de estufa, melhorar o bem-estar animal e dar resposta a consumidores cada vez mais exigentes em termos ambientais e sociais. A boa notícia é que a produtividade continua a crescer — melhores raças, melhores conversões alimentares, tecnologias digitais de monitorização. A oportunidade está na diferenciação de produto e na comunicação de sustentabilidade, sem perder competitividade.
A produção mundial de leite cresce a um ritmo de 1,8% ao ano, sustentada na realidade da Índia e do Paquistão, mas as exportações continuam muito concentradas na UE, EUA e Nova Zelândia. Aqui, o desafio está em equilibrar crescimento com impactos ambientais — em particular metano e gestão de efluentes — e em adaptar-se a consumidores que procuram cada vez mais produtos alternativos ou de maior valor acrescentado. A aposta em inovação, como ingredientes funcionais e queijos especiais, será uma oportunidade decisiva.
O comércio internacional de pescado deverá aumentar 7,1% até 2034, mas com uma forte concentração na Ásia, que dominará tanto a produção como o consumo. A China continuará a absorver mais de metade das importações de farinha de peixe. O grande desafio é a sustentabilidade dos recursos marinhos, numa altura em que as “capturas selvagens” estão perto do limite. A oportunidade está na aquacultura, mas só se esta evoluir para modelos mais circulares: rações alternativas, uso eficiente da energia, e monitorização ambiental em tempo real.
Em todas estas fileiras, o pano de fundo é semelhante: preços internacionais em ligeira descida, maior exposição a choques climáticos e geopolíticos, e uma urgência global em reduzir a intensidade das emissões.
O relatório é claro: com 15% de aumento de produtividade e adoção de tecnologias de mitigação, seria possível reduzir emissões em 7% e eliminar a subnutrição global até 2034.
Oportunidades não faltam, mas exigem ação coordenada. Para produtores, empresas e governos, a próxima década exige visão estratégica e capacidade de execução. As tecnologias digitais, a biotecnologia, as energias renováveis e novas formas de organização das cadeias de valor serão os fatores críticos que permitirão potenciar as oportunidades.
A chave estará em quem conseguir produzir mais e melhor, com menos recursos e menor impacto ambiental, num mercado cada vez mais exigente e competitivo. O futuro não será simpático para os produtores que não respondam positivamente a esta tendência. A década de 2025-2034 será a década dos produtores eficientes, inovadores e sustentáveis. A vantagem estará em quem souber conjugar produtividade, sustentabilidade e mercado. É aqui que estão os desafios, mas também as oportunidades mais promissoras.
Em Portugal, haverá espaço em nichos de elevado valor, se formos consequentes: investir em regadio e em mais eficiência hídrica, apostar na integração digital ao longo da cadeia, bem como em certificação e rastreabilidade, e garantir uma capacidade logística que nos permita aproveitar a oportunidade dos mercados. O “jogo” vai decidir-se na capacidade de execução. Veremos como, na prática, vamos encarar a próxima década.
Engenheiro agrónomo e diretor-geral da Consulai