Nascido em 1936, em Angola, Rogério de Carvalho chegou a Portugal nos anos 50 do século XX. Encontrou um refúgio no teatro e nunca deixou de trabalhar. No ano passado encenou “Music-Hall”, uma peça de Jean-Luc Lagarce, sobre uma cantora em decadência (protagonizada por Teresa Gafeira). Um espetáculo que estreou na Companhia de Teatro de Almada, de que era colaborador regular. No ano anterior tinha tido um “reencontro” com Fassbinder, ao encenar “O Medo Devora a Alma”.

Tímido, avesso a falar sobre si próprio, Rogério de Carvalho foi também importante como pedagogo, tendo tido um importante papel na renovação teatral. Em 1980 recebeu o Prémio da Crítica para melhor encenação, pelo espectáculo «Tio Vânia», de Tchecov; e em 2001 com o Prémio Almada, pelo Ministério da Cultura.

Antigo professor de liceu e do Conservatório de Teatro, dirigiu espectáculos nos principais palcos portugueses, com diversas companhias independentes.

Num comunicado da Companhia de Teatro de Almada, recorda-se que a profícua colaboração de quase duas dezenas de peças, iniciada em 1986 com «A menina Júlia», de Strindberg. Aí também “Fedra”, de Racine; “O Pelicano”, de Strindberg; “Se isto é um homem”, de Primo Levi.

Rogério de Carvalho foi homenageado pela Câmara Municipal de Almada e pela Companhia de Teatro de Almada em Julho de 2015, durante a 32.ª edição do Festival de Almada. No comunicado que dá conta da sua morta escreve-se: “No artigo escrito a propósito dessa homenagem, Maria João Brilhante atribuiu-lhe o epíteto de “nómada fiel”, aludindo ao seu método de ‘eterno retorno’ ao estricto conjunto de companhias de teatro com que construiu a sua longeva carreira.”

António Pires, do Teatro do Bairro Alto, que foi seu aluno, dedicou-lhe a tragédia “Pentesileia” de Heinrich von Kleist, em 2023.

Não cortou raízes com o país onde nasceu, tendo sido orientador do Núcleo de Teatro da Fundação Sindika Dikolo, em Luanda - Angola, criado com o objectivo a formação de Actores e Criação de Espectáculos de Teatro.