A um mês da cerimónia dos prémios Emmy, para os quais "Adolescência" recebeu 13 nomeações, o criador da minissérie explicou a uma audiência em Los Angeles que a intenção era incentivar as famílias a ver e a discutir a violência adolescente em conjunto.

“Acreditei que era uma história que podíamos contar e que o formato de filmagem contínua iria agarrar e envolver a audiência", afirmou Stephen Graham, criador da minissérie da Netflix e ator que interpreta Eddie Miller, o pai de um adolescente acusado de homicídio.

“Queríamos que as famílias vissem a série juntas. Que largassem o telemóvel e assistissem em coletivo", frisou o criador, durante um painel da primeira edição da conferência Televerse, em Los Angeles.

A história foi escrita em parceria por Stephen Graham e Jack Thorne, colaboradores de longa data. Tudo começou porque Graham queria expor um tema que ganhou particular relevância no Reino Unido durante os últimos anos. “Porque é que estamos a ver rapazes a atacar raparigas, tantos crimes com facas?", apontou Jack Thorne. “Isso iniciou a nossa investigação e esta série é o resultado”, acrescentou.

"Adolescência" tornou-se um fenómeno de popularidade na Netflix, sendo a segunda série em inglês mais vista de sempre da plataforma (atrás apenas de “Wednesday”), com 141,2 milhões de exibições, e gerou amplas discussões no espaço público, incluindo no parlamento britânico.

Owen Cooper pode tornar-se no mais jovem de sempre a receber um Emmy

Owen Cooper, que interpreta o adolescente Jamie Miller, poderá tornar-se no ator mais jovem de sempre a ser distinguido pelos Emmys, depois de a Academia de Televisão o ter nomeado para a categoria de Melhor Ator Secundário em série limitada ou de antologia.

“A loucura começou a acalmar agora”, afirmou o ator de 15 anos, que esteve presente no painel em Los Angeles. “Estava em filmagens quando a série se estreou, por isso não tive de me preocupar tanto com o lado público”, recordou.

Cooper, que tinha 14 anos quando o processo começou, foi escolhido entre mais de 500 adolescentes que fizeram audições para o papel. O seu interesse pela história foi exacerbado por aquilo que estava a ver à sua volta na vida real.

“O que acontece na série, crimes com facas, estava a acontecer o tempo todo em Manchester, de onde sou”, revelou o ator. “Acontecia tanto que eu tinha noção disso desde os nove anos. Não me meti em problemas desses, mas via-os à minha volta”, disse.

Para Stephen Graham, era importante que o personagem não tivesse um histórico de problemas familiares. A ideia era mostrar como mesmo numa família convencional, sem drama, álcool, divórcio ou violência, seria possível enfrentar um problema desta gravidade: um adolescente tímido, influenciado por vozes misóginas ‘online’, que mata uma rapariga à facada.

“A audiência é levada a perceber ao mesmo tempo que a família aquilo que o filho fez”, disse Graham.

A filmagem contínua, sem cortes nem paragens, foi conseguida depois de semanas intensas de preparação e ensaios, algo que Graham disse que quase nunca acontece em cinema ou televisão.

“Tivemos tempo para analisar o texto, perceber porque dizemos o que dizemos”, explicou Graham. “Nem pensávamos, dizíamos o que era para dizer porque estávamos presentes no momento”, afirmou.

Além de nomeações de representação para Stephen Graham, Owen Cooper, Erin Doherty, Christine Tremarco e Ashley Walters, "Adolescência" também poderá vencer na categoria de Melhor Série Limitada ou de Antologia e dar a Philip Barantini o Emmy de Melhor Realização pelo formato invulgar com que filmou.

A cerimónia dos Emmys está marcada para 14 de setembro, em Los Angeles.