A ONU quer ação. A jurista italiana Elisa Morgera propõe criminalizar a desinformação sobre combustíveis fósseis, proibir a sua publicidade e acabar com o lobby político da indústria fóssil. A razão? A manipulação da verdade científica está a atrasar medidas urgentes e a pôr em risco direitos fundamentais como o acesso à saúde, à água e à vida.

Hoje falamos de um dos maiores obstáculos à ação eficaz contra as alterações climáticas: a desinformação. Seja através de publicidade enganosa, do lobby da indústria fóssil ou de discursos populistas, a verdade científica tem sido distorcida, abafada ou posta em causa.

Uma das vozes que recentemente se destacou nesta denúncia é a da jurista italiana Elisa Morgera, perita das Nações Unidas para os Direitos Humanos e as Alterações Climáticas. E as suas propostas são claras e contundentes.

No seu mais recente relatório à ONU, Elisa Morgera propõe que a desinformação sobre combustíveis fósseis seja tratada como crime. Defende ainda a proibição da publicidade a combustíveis fósseis e o fim do lobby político por parte dessa indústria. Para ela, esta é uma questão de justiça ambiental e de proteção de direitos fundamentais como o direito à saúde, à água e à vida.

Mas quais são os fundamentos para considerar isto um crime? A base está no impacto humano direto que a desinformação climática tem provocado. Durante décadas, grandes empresas de combustíveis fósseis esconderam ou manipularam dados científicos sobre os riscos das alterações climáticas. Esse atraso na resposta global teve consequências graves: milhões de pessoas, sobretudo nas regiões mais vulneráveis, já enfrentam secas, fome, doenças e perda de território.

E esta preocupação não se limita ao contexto internacional. Também na Europa, o problema é reconhecido. Um relatório recente do EU DisinfoLab mostra que a desinformação climática é um obstáculo real à formulação de políticas eficazes. Esta desinformação alimenta a polarização, desacredita soluções com base científica e promove a ideia falsa de que as políticas climáticas são uma imposição das elites contra o povo.

Na prática, isto tem efeitos muito concretos. A desinformação enfraquece a confiança nas instituições, confunde os cidadãos e dá espaço para o adiamento das decisões difíceis. Torna-se mais difícil aprovar medidas ambiciosas quando há uma campanha constante a lançar dúvidas sobre o consenso científico. E isso favorece, acima de tudo, quem lucra com o atraso da ação climática.

Que soluções são propostas então por Elisa Morgera e outros especialistas?

Para além da criminalização da desinformação climática e da proibição de publicidade e lobby pela indústria fóssil, a proposta inclui também o reforço da literacia climática, a proteção de jornalistas e cientistas e a responsabilização das empresas que promovem campanhas de greenwashing, ou de pintar de verde. Em suma, criar um ambiente onde a informação verdadeira seja protegida, valorizada e amplificada.

E nós, enquanto cidadãos, temos um papel essencial. Devemos verificar sempre as fontes de informação, denunciar campanhas de desinformação e apoiar os meios de comunicação que fazem jornalismo responsável. Como o jornal Aponte, que conta com profissionais qualificados e com a carteira de jornalista. É também fundamental pressionar os decisores políticos para que adotem medidas ambiciosas e transparentes.

A luta contra a crise climática também se trava no campo da informação. E, para terminar, fica uma pergunta fundamental: será possível travar esta guerra contra a desinformação?

A resposta é sim. Mas isso exige coragem política, regulação eficaz e envolvimento ativo da sociedade. Temos de passar da tolerância à responsabilização. Se tratarmos a desinformação como uma simples liberdade de expressão, estaremos a comprometer um bem maior: a liberdade de viver com dignidade num planeta habitável.

Conselho ambiental: esteja atento à desinformação. Confie nos meios de comunicação social que fazem verificação rigorosa das informações, como o jornal Aponte. E partilhe apenas o que vem de fontes fidedignas. Com boa informação, também estamos a proteger o ambiente.

Até à próxima. E lembre-se de ajudar a preservar o ambiente!