A Urgência de Repensar a Gestão Florestal e os Sistemas de Proteção em Portugal

Mais uma vez os incêndios assolam o nosso país. Este círculo vicioso de fogo parece não ter fim, e a questão central permanece: estamos realmente a fazer o suficiente para proteger o que é nosso. A resposta, infelizmente, continua a ser preocupantemente negativa, sobretudo quando olhamos para as ações das empresas que operam na floresta e para os mecanismos de apoio disponíveis aos proprietários e produtores.

Nos últimos dias em consequência da Situação de Alerta em todo o território continental, assistimos a uma suspensão quase total das atividades nas nossas florestas. Madeireiros, agricultores e demais operadores estão paralisados, incapazes de atuar devido às restrições e ao risco. Essa paralisação, embora compreensível em face do perigo, revela uma fragilidade estrutural na nossa gestão florestal e na preparação para estes eventos. Ainda que os meios de combate estejam totalmente empenhados e dedicados, tudo dependerá das condições meteorológicas que, por sua vez, parecem estar a tornar-se cada vez mais imprevisíveis e extremas devido às alterações climáticas.

Nesse contexto, uma questão que surge com frequência é: como é que as seguradoras vão suportar os prejuízos causados pelos incêndios? É comum pensar-se nos danos materiais — casas, veículos — que possuem cobertura. Mas a floresta, esse património que, na sua maioria, não tem uma proteção financeira equivalente? Aqui reside um problema grave: a maior parte dos seguros agrícolas cobre apenas uma pequena fração da produção, e os seguros específicos para a floresta ainda são limitados e insuficientes. No mercado, apenas uma seguradora oferece uma apólice que cobre até 25 hectares — uma extensão que, na maioria das nossas propriedades, é insuficiente para cobrir uma mancha significativa de floresta.

Esta limitação deixa os proprietários completamente desprotegidos diante de um prejuízo quase total quando as suas árvores e terrenos ardem. A ausência de um sistema de proteção florestal estruturado, acessível e eficaz, é um dos fatores que contribuem para o abandono da floresta e do interior do país. Com poucos mecanismos de apoio financeiro, muitos proprietários acabam por negligenciar a manutenção e a prevenção, contribuindo para o crescimento de matagais e florestas desordenadas que, ciclicamente, ardem e se tornam uma ameaça ainda maior.

A necessidade de criar um sistema de proteção que funcione de forma clara, eficiente e sustentável é premente. Um mecanismo que ofereça uma verdadeira proteção aos produtores florestais, incentivando a prevenção e a manutenção, sem que o risco de prejuízos catastróficos leve ao colapso das seguradoras. Afinal, incêndios de grande dimensão representam perdas que, na prática, nenhuma seguradora consegue suportar sem prejuízos irreparáveis ou até falências.

Mais do que nunca, é fundamental refletir sobre o abandono do interior e das áreas florestais. Essa negligência cria um círculo vicioso: a floresta desordenada, sem cuidados, torna-se uma bomba-relógio que, ao arder, destrói tudo à sua passagem, perpetuando a vulnerabilidade e o risco. E, neste cenário, quem sofre mais são os próprios proprietários e comunidades locais, que veem as suas vidas e patrimônios serem destruídos sem uma rede de proteção adequada.

Em suma, estamos diante de uma questão que exige ação urgente e estruturada. É imprescindível repensar a nossa gestão florestal, criar mecanismos de proteção acessíveis e eficazes, e promover uma cultura de manutenção preventiva. Só assim poderemos quebrar este círculo vicioso de incêndios e abandono, protegendo o nosso património natural e as comunidades que dele dependem. O tempo de agir é agora.