O velório do arquiteto Nuno Portas, que morreu no domingo aos 90 anos, vai decorrer hoje ao fim da tarde, em Lisboa, com as exéquias marcadas para terça-feira, seguidas de cortejo rumo a Vila Viçosa, anunciou a agência funerária.

Em comunicado, a agência Servilusa revelou que o velório decorre hoje, entre as 18:30 e as 22:00, no auditório do complexo paroquial da Igreja do Sagrado Coração de Jesus, em Lisboa.

Na terça-feira, às 12:00, decorrem as cerimónias fúnebres, seguidas de cortejo para o cemitério de Vila Viçosa, concelho natal do arquiteto.

Destacado pensador, investigador e impulsionador de políticas habitacionais e urbanísticas em Portugal e no estrangeiro, Nuno Portas recebeu projeção internacional, sobretudo em Espanha e no Brasil.

Nuno Rodrigo Martins Portas, uma das figuras de referência na cultura portuguesa, nasceu em 23 de setembro de 1934, em São Bartolomeu, concelho de Vila Viçosa, distrito de Évora, e dividiu-se ainda muito jovem entre as paixões pelo cinema e pela arquitetura.

Com uma carreira multifacetada, Portas conciliou atividade académica, produção teórica, intervenção cívica e prática profissional, após ter concluído o curso de arquitetura em 1959, nas Escolas de Belas Artes de Lisboa e do Porto.

O percurso profissional haveria de iniciar-se dois anos antes, em 1957, na Rua da Alegria, em Lisboa, no ateliê de Nuno Teotónio Pereira (1922-2016), considerado um dos mais notáveis arquitetos portugueses da sua geração, e um dos exemplos de admiração que Nuno Portas citou várias vezes, em entrevistas.

Paralelamente, Nuno Portas tornou-se figura ativa no meio cultural, associando-se à revista Arquitectura, da qual foi diretor, e onde publicou textos distinguidos, nomeadamente com o Prémio Gulbenkian de Crítica de Arte em 1963.

Desde cedo, demonstrou uma preocupação constante com os direitos dos cidadãos à habitação digna e à cidade, o que transpareceu na defesa de modelos cooperativos de habitação e na criação do Serviço de Apoio Ambulatório Local (SAAL), quando foi secretário de Estado da Habitação e Urbanismo, em 1974.

“Toda a minha atividade política esteve sempre ligada ao meu papel como arquiteto”, sublinhou, em entrevista à RTP, na qual sublinhou a importância de estes profissionais estarem atentos às desigualdades e às necessidades reais das comunidades, defendendo que aprofundassem os conhecimentos no campo da antropologia e sociologia.

A carreira docente teve início na Escola de Belas Artes de Lisboa, onde lecionou a cadeira de Projeto entre 1965 e 1971. Em 1983, integrado no corpo docente da Escola de Belas Artes do Porto, participou na fundação da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, onde viria a tornar-se professor catedrático em 1989.

Depois, com estatuto de professor jubilado, manteve influência intelectual na academia pelo seu legado, do qual faz parte a estruturação do primeiro mestrado em Planeamento e Projeto do Ambiente Urbano.

Trabalhou com as Nações Unidas, a União Europeia e o arquiteto espanhol Oriol Bohigas (1925-2021) em projetos para o Rio de Janeiro, como o Plano de Frente de Mar e o Plano de Recuperação da Zona Central da cidade. Em Cabo Verde, contribuiu para o enquadramento legislativo do urbanismo.

Na esfera política, foi nomeado secretário de Estado da Habitação e Urbanismo após o 25 de Abril, nos três primeiros Governos Provisórios (1974-1975). Nesta função, liderou uma profunda reforma do setor, promovendo cooperativas de habitação, o SAAL, e lançou os fundamentos dos atuais Planos Diretores Municipais. Em 1990, exerceu funções como vereador do urbanismo na Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia.

Entre as distinções que lhe foram atribuídas, contam-se a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique e o Prémio Sir Patrick Abercrombie da União Internacional de Arquitetos.

Nuno Portas recebeu, com o arquiteto Nuno Teotónio Pereira, o Prémio Valmor, em 1975, pelo projeto da Igreja do Sagrado Coração de Jesus, em Lisboa.