Foi inaugurada esta sexta-feira, em Viana do Alentejo, a 4.ª edição do Festival de Ilustração e Criatividade em Olaria (FICO), que decorre até domingo entre a Praça da República e o castelo. A iniciativa, promovida pela Câmara Municipal, aposta na fusão entre arte contemporânea e tradição oleira local.

O certame inclui workshops criativos, exposições, Feira de Cerâmica e Olaria, concertos e residências artísticas, reunindo artistas como Mariana a Miserável, Mantraste, Bernardo Carvalho, Kruella, Joana Lourencinho Carneiro, Mariana Malhão e Júlio Dolbeth. A programação inclui ainda momentos musicais com Edu Miranda Trio, Milton Gulli, Tiago Bettencourt e Cantadores do Alentejo.

Para o presidente da Câmara Municipal de Viana do Alentejo, Luís Miguel Duarte, o FICO tem como objetivo essencial a revitalização da cerâmica local: «É um festival criado já por este executivo no sentido de promover a olaria cerâmica do concelho de Viana do Alentejo». O autarca sublinhou ainda a importância da inovação: «Agarrámos no tradicional e no moderno para conquistar pessoas mais novas, para conquistar outras aberturas», acrescentando que «este é exatamente um festival criativo com essa intenção».

A estratégia passa por manter os elementos identitários da tradição, mas com abertura à experimentação. «Fazemos questão sempre de manter o que é tradicional, mas temos de ir mais além do que tradicional. E para quê? Para este artesanato não desaparecer do nosso concelho», disse. Luís Miguel Duarte realçou ainda a adesão crescente: «Este festival está a ganhar umas dimensões muito boas, com gente de fora do concelho também a participar. Boas perspetivas para este festival».

O presidente da Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo, José Manuel Santos, destacou o papel diferenciador do festival no panorama cultural regional: «Não há nenhum outro evento no Alentejo como este. É um festival que parte de uma componente ativa, ligada às residências artísticas, aos workshops cerâmicos». E acrescentou: «Há uma permeabilidade dos oleiros de Viana que é muito importante, em deixarem que a inovação os ajude a criar outro tipo de peças que hoje são mais procuradas pelo mercado».

O responsável pelo turismo regional sublinhou ainda a ligação entre cultura e economia: «É um evento que, também do ponto de vista turístico, creio que pode ganhar aqui um novo elã». Nesse sentido, apontou o impacto da nova unidade hoteleira prevista para a vila: «A abertura de um hotel em Viana do Alentejo pode trazer também uma dinâmica interessante do ponto de vista da atração de pessoas». Para José Manuel Santos, este tipo de iniciativas deve ser reforçado: «O Alentejo tem um potencial grande neste tipo de eventos e eu até acho que este evento, pelas suas características, pode crescer ainda mais. Para um nicho de mercado, o Alentejo vende muito bem».

Feleciano Agostinho, um dos dois oleiros ainda em atividade em Viana do Alentejo. Para o artesão, o festival é parte de uma missão contínua: «É uma luta antiga que felizmente já estamos há quatro anos a fazer, que é a de transmitir que ainda há dois oleiros em Viana, que sou eu e o meu pai, e trazer novas técnicas, novas abordagens, novas visões da olaria».

O oleiro considera que o FICO representa uma mudança de atitude perante a prática oleira: «Não podemos só ser visitas há 50 anos. Temos de voltar a fazer. Posso fazer de uma maneira diferente, posso fazer de melhor maneira? Posso». E completa: «Quanto mais contacto com outros colegas de profissão, mais eu aprendo e tenho uma nova visão. Há regras que nós não abdicamos, mas não paramos no tempo».

O artesão vê sinais de futuro na nova geração: «Temos ali três stands com três formandos a quem tive o prazer de dar formação. Ainda não estão a 100% nesta profissão, mas já estão a mostrar peças espetaculares. Dei-lhes as bases principais». E recorda a identidade própria da cerâmica local: «A nossa pintura é diferente das outras, tem um azul diferente, um riscado completamente diferente. Estamos identificados em qualquer lado, o que nos enche de orgulho».

Sobre os desafios atuais da profissão, destacou os impactos económicos recentes: «A coisa que me ficou mais cara foi a guerra da Ucrânia. Estou a comprar produtos 75% mais caros. E não consigo refletir esse custo no cliente final». Ainda assim, sublinha a resiliência do setor: «Os oleiros têm uma grande vantagem: são muito criativos. Temos de arranjar estratégias diferentes para conseguir amortizar o que pagamos a mais».

A 4.ª edição do FICO encerra no domingo às 18h30 com um concerto dos Cantadores do Alentejo. Criado em 2022 na sequência de uma residência criativa entre ilustradores e oleiros locais, o festival afirma-se como um ponto de encontro entre tradição e inovação, alicerçado no património cultural de Viana do Alentejo.