O sol já se punha quando os portões do Estádio Constantino Marques Duarte começaram a receber uma corrente humana de camisolas verde e branco, cachecóis e sorrisos. Fermentelos estava em festa — e não era uma festa qualquer. O Sporting Clube de Fermentelos completava 95 anos e a vila respondeu em peso: mais de 2.500 pessoas juntaram-se para um jantar que ficará gravado na memória coletiva.

As mesas, alinhadas lado a lado sobre o relvado, davam ao estádio ares de sala de gala ao ar livre. Do barulho das conversas ao tilintar dos copos, da música ambiente aos abraços que se repetiam, tudo revelava orgulho e pertença. A moldura humana era tão impressionante que até quem está habituado a grandes eventos ficou surpreendido.

O grito de ambição: uma academia no centenário

No palco sob o relvado, o presidente Fernando Sampaio não deixou passar o momento:

“É um dia marcante para a história do Sporting Clube de Fermentelos e não só para o concelho, para o distrito e até para o país. Não é vulgar fazer uma festa de aniversário ao ar livre e juntar quase 2.500 pessoas. É um orgulho enorme.
Fiz o pedido que tinha de ser feito: que no centenário possamos inaugurar a nossa aldeia desportiva. Queremos um complexo junto às escolas, que sirva não só o clube, mas também a comunidade escolar. Esse projeto é fundamental para o futuro do clube, para solidificar a nossa posição no Campeonato SABSEG e, quem sabe, dar o salto para os nacionais.”

O público respondeu com aplausos prolongados. Era o primeiro de muitos momentos em que a noite misturou celebração e compromisso.

Câmara Municipal recetiva ao desafio

Em declarações Jorge Almeida, presidente da Câmara Municipal de Águeda, que se deixou contagiar pela energia no relvado:

“Encontrar hoje o estádio repleto com mais de 2.500 pessoas é extraordinário. Este é o único clube que tem formação totalmente gratuita, e isso traz-lhe muitos jovens. O atual campo está saturado e precisamos de pensar em criar outro espaço para treinos e formação.
Quando a comunidade sente esta necessidade e a apresenta de forma clara, a Câmara tem de estar disponível para ajudar. Vamos analisar e, se for justa e necessária, trabalharemos para que aconteça. O SC Fermentelos merece condições à altura. Esta festa mostra a dimensão e o valor deste clube — e é difícil imaginar o que será o centenário.”

Uma vila que se supera

O presidente da Assembleia Municipal, Filipe Almeida, falou com franqueza sobre a surpresa que sentiu:

“Achei que era impossível encontrar um cenário destes a nível distrital. Esta moldura humana é motivo de orgulho para Fermentelos e para o concelho. Poucos exemplos existem assim, mesmo fora do concelho.
A vila tem um associativismo muito forte, e o SC Fermentelos é um exemplo disso. A formação gratuita merece todo o nosso respeito. Criar uma aldeia desportiva seria um passo natural. Quem sabe, no centenário, possamos estar a inaugurá-la.”

Primeiros passos para a nova casa

Carlos Lemos, presidente da Junta de Freguesia de Fermentelos, revelou que a máquina já está em movimento:

“É um orgulho ter o estádio cheio, é a nossa forma de estar. Já identificámos terrenos da Câmara, atrás da escola, onde existe o nosso ginásio. O objetivo é criar infraestruturas para a formação sem tirar este campo daqui.
O SC Fermentelos é o cartão de visita da freguesia. Vamos trabalhar para que, no centenário, possamos ter uma festa ainda maior e um complexo a servir os nossos jovens.”

Orgulho da Associação de Futebol de Aveiro

Olga Silva, presidente do Conselho de Justiça da AFA, trouxe a perspetiva de quem conhece bem o peso do SC Fermentelos no panorama distrital:

“Chegar aqui e ver esta moldura humana é um orgulho, não só para Fermentelos mas para toda a AFA. Poucos clubes conseguem reunir tanta gente num aniversário. Este clube viveu momentos bons e menos bons, mas soube sempre recuperar.
A subida ao SABSEG foi um motivo de grande satisfação. A formação gratuita, acessível a todos, é um bem para a comunidade, tanto a nível desportivo como social. Poucos clubes podem orgulhar-se de o fazer. O SC Fermentelos é um verdadeiro membro da família da AFA, e hoje estamos todos de coração cheio.”

Um treinador focado em estabilidade

O treinador Hugo Oliveira olhou para o futuro com ambição, mas também com realismo:

“O objetivo é fazer uma época tranquila, sem os sobressaltos de outros anos. Este clube, com esta moldura humana, merece estar noutros patamares.
A formação gratuita é um orgulho, mas também um desafio: com tantos atletas e apenas um campo, o espaço começa a ser curto. Sei que o presidente tem um projeto para resolver isso, e acho que Fermentelos o merece. Só assim podemos dar o salto.”

Uma noite que foi muito mais do que um jantar

O jantar prolongou-se entre conversas, fotografias e recordações. As luzes do estádio criaram um cenário quase cinematográfico: crianças a correr entre as mesas, antigos jogadores a reencontrarem colegas, adeptos a partilhar memórias.

Quando as cadeiras começaram a esvaziar, ficava a sensação de que a noite não terminava ali. Para muitos, esta foi a primeira página de um novo capítulo — um que se quer escrever até 2030, com a inauguração da academia e o centenário como ponto alto.

O SC Fermentelos não é apenas um clube. É uma comunidade. E nas palavras que se repetiram em todos os discursos, estava uma certeza: Fermentelos é diferente — e é nessa diferença que reside a sua força.