O engenheiro aeronáutico Luís Coimbra, que liderou durante três décadas o desenvolvimento técnico da aviação civil e presidiu a NAV Portugal entre 1999 e 2003, criticou duramente a escolha do Campo de Tiro de Alcochete como localização do novo aeroporto de Lisboa. Em entrevista ao jornal 24Horas, Coimbra afirma de forma categórica que “Alcochete é a pior opção de todas”, entre as várias localizações estudadas.

Apesar de o relatório técnico da ANA — Aeroportos de Portugal já ter sido entregue ao Governo, após ouvir mais de uma centena de entidades, incluindo companhias aéreas, NAV, Força Aérea e municípios, Luís Coimbra afirma que nunca foi consultado pela Comissão Técnica Independente (CTI) que conduziu o processo. O antigo dirigente considera haver “interesses alheios ao mundo aeronáutico e aeroportuário” a influenciar a decisão.

Segundo o 24Horas, Coimbra destaca que a necessidade de desminar o Campo de Tiro de Alcochete é um entrave técnico e logístico significativo e entende que o parecer da CTI “não foi uma decisão clara”, mas sim uma escolha provisória.

“Chego forçosamente à conclusão de que o Governo revê a opção Alcochete”, afirma, apoiando-se no facto de ter sido concedido um prazo de quase um ano à Força Aérea para encontrar um novo campo de tiro, o que, na sua ótica, revela sérias hesitações quanto à viabilidade da atual localização proposta.

Para o ex-presidente da NAV, existem alternativas mais racionais e económicas, como Rio Frio ou Ota, que permitiriam uma execução mais célere e com menor impacto orçamental. Coimbra defende que essas opções implicariam menos responsabilidade para o Estado ao nível dos investimentos em infraestruturas terrestres e construção aeroportuária.

Na mesma entrevista, Luís Coimbra acusa ainda que há pressão sobre a Força Aérea para libertar o terreno de Alcochete, o que corresponderia, segundo ele, a um desejo antigo do concessionário de operar na zona, mesmo perante sérios problemas ambientais.

Caso a solução de Alcochete perca, Coimbra admite um plano de recurso: a utilização da pista do Montijo, já existente e paralela à do Aeroporto Humberto Delgado, separada por apenas 10 quilómetros. No entanto, sublinha que isso seria apenas aceitável em caso extremo, alertando: “Depois não há novo aeroporto nenhum — isso seria um desastre para Lisboa.