
Entrevista a Carlos Alves, candidato da Iniciativa Liberal. Vice-coordenador do núcleo local do partido, Alves afirma que “está na hora de virar a página do socialismo e acelerar Almada” e acusa o atual executivo de ter conduzido o concelho à “estagnação”.
P: Quem é o Carlos Alves?
Tenho 40 anos e sou doutorado em História de Arte. Trabalho na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e sou casado. Tenho um filho e vivo em Almada há cerca de 8 anos.
P: Qual foi o primeiro contacto com a política?
O meu contacto com a política vem desde casa. Sempre se falou de política em casa, sempre foi um tema aberto. Apesar denunca ter tido uma militância partidária, tive uma atividade cívica. Participei noutros órgãos de assembleias. Sempre houve esse espírito crítico, e uma visãosobre o estado da política local, que me permitiu desenvolver consciência política e chegar a esteponto.
P: Qual é a ligação a Almada? Porquê ser candidato?
Eu nasci em Viseu e escolhi Almada para constituir família. A motivação para esta candidatura prende-se por devolver aos almadenses a confiança na Câmara Municipal da Almada. Na Iniciativa Liberal, temos registado um distanciamento, um divórcio, entre os almadenses e a Câmara. Há um constante registo de queixas que não são esclarecidas pela Câmara, que não são esclarecidas pela instituição.
Desde a queixa que nós fomos ver no portal da Câmara, desde a queixa do contentor de lixo que está cheio e que não é limpo, do contentor que não é lavado, das ervas que estão na rua… Basta assistirmos às reuniões de Câmara e vemos as constantes reclamações da população a pedidos que não são respondidos, sobre o licenciamento, sobre esclarecimentos muito básicos.
Num segundo aspecto, entendemos que Almada tem um potencial de desenvolvimento muito grande. Temos que agarrar nesse potencial e levá-lo para outro patamar que permita ao concelho da Almada e aos almadenses viverem em Almada, terem as famílias, poderem encontrar emprego, atrairmos investimento. Aliarmo-nos à atração de empresas tecnológicas e de inovação, que permitam reter o capital humano que é formado todos os anos em Almada.
Almada estagnou, e essa estagnação deve-se, essencialmente, a 50 anos de uma governação socialista. Numa primeira fase uma governação da CDU, e nos últimos 10 anos, uma governação socialista.
P: Como é que a Iniciativa Liberal se tem estabelecido em Almada?
Nos últimos dois anos e meio temos trabalhado em proximidade com a população. Temos falado com bombeiros, com a GNR, Polícia Marítima, PSP. Falámos com as associações locais, visitámos as unidades locais de saúde, as escolas. Temos feito esse trabalho de contactar com as instituições para percebemos quais são as necessidades, para arranjarmos as verdadeiras soluções. E é por isso também que queremos avançar com esta candidatura, para ajudarmos as instituições dentro daquilo que são as competências do município.
P: A iniciativa liberal tem uma palavra que acompanha-vos sempre: “liberdade”. Como é que a extinção do Wemob poderia trazer mais liberdade?
Essa é uma das nossas bandeiras no que diz respeito à mobilidade. Entendemos que termos uma empresa municipal que controla exclusivamente os estacionamentos e é uma empresa rentista e monopolista, que todos os anos absorve milhões de euros por parte do município de Almada. Nós queremos abrir esse mercado à concorrência. Queríamos apostar na extinção da Wemob, mas recolocar, quer os funcionários, quer os meios disponíveis, ao serviço da Polícia Municipal.
Essa liberdade também é fundamental porque há recursos económicos que estão associados à Wemob que podem ser canalizados para outros serviços mais essenciais para a população, quer seja para a recolha urbana, da higiene urbana, quer seja para a reabilitação do parque escolar.
Mas também dar liberdade de escolha dos estabelecimentos de ensino, dos postos de tratamento na saúde, para aos cidadãos para poderem escolher onde querem ser tratados e onde querem colocar os seus filhos. Porque muitas das vezes eu posso ter uma escola à frente da minha casa e o meu filho não pode frequentar aquela escola porque não está dentro do agrupamento onde ele pode ficar. Esse não pode ser o critério para definirmos o ensino.
Vamos incentivar a criação quer de um cheque de ensino quer de um cheque de creche. Almada tem um grave problema de colocação dos meninos no pré-escolar com a escassez de creches.
P: Como é que estes cheques iriam funcionar? Têm pensado quantas pessoas iriam abranger? Como seria em termos de valores?
Não temos noção do volume de crianças que possam ser abrangidas, mas uma vez estando nós no executivo, e percebendo qual o orçamento que está alocado a cada uma dessas áreas, nós conseguiríamos chegar a uma verba que pudesse ajudar as famílias a comparticipar uma parte do pagamento da escola, quer seja no privado, quer seja no setor cooperativo.
P: Falam também em acordos com entidades sociais e privadas. De que forma é que esses acordos vão garantir o acesso e a qualidade?
Nós temos 40 mil utentes sem médicos de família. Eu próprio, quando mudei, esperei 3 anos para ter um médico de família. Não somos contra o SNS, nós queremos que o SNS continue a funcionar, mas queremos também que o serviço privado, possa ajudar a resolver os problemas de saúde dos almadenses. Nós vemos cada vez mais os seguros de saúde aumentarem, nós vemos cada vez mais os almadenses a procurarem alternativas ao SNS. Isso é um indicador de que algo está a falhar.
No entanto, queremos também fazer com que a saúde seja mais de proximidade e de prevenção. Também estaremos atentos à execução do PRR para a aplicação dos Centros de Saúde, quer do Feijó, quer da Costa da Caparica, que estão em execução. Queremos acompanhar de perto porque são duas unidades fundamentais para aquela população, algumas mais idosas, que não se pode deslocar a Almada.
Trabalharmos também no sentido de recuperar a unidade de saúde da Trafaria e pensarmos numa unidade de saúde familiar que da Charneca e da Sobreda, porque são das áreas e das freguesias mais populosas de Almada e que necessitam dessas valências.
Queremos também recuperar as unidades móveis de saúde para fazermos precisamente essa política de proximidade, podermos chegar aos sítios mais distantes do concelho e trabalharmos as questões da prevenção e dos rastreios.
P: O que é o mais urgente a fazer, o que é que falta fazer?
Tudo. Na educação, temos que trabalhar no sentido de dar as condições às crianças para poderem ter as melhores escolas, quer seja da eficiência energética, quer seja nos balneários, quer seja das acessibilidades de internet e do digital. Um exemplo claríssimo é a Escola dos Caranguejais, que não tem condições, como um balneário sem água quente para os miúdos poderem tomar um banho a seguir a uma aula de educação física. Vi notícias que nos falam de questões relacionadas com a segurança física do parque escolar. Queremos pegar em recursos financeiros que estão em certas gorduras (da Câmara) que podem ser cortadas e transferir isso para melhorarmos o parque escolar, dentro da ação da contratação de mais funcionários para as escolas não poderem fechar.
Também está no nosso programa a medida que nós designámos “creche via verde”. É conseguirmos aligeirar os processos de licenciamento para entidades públicas ou privadas poderem construir mais creches em Almada.
P: Nos últimos meses têm sido publicadas algumas notícias sobre as 1000 pessoas que vivem em barracas. Sentem que há dificuldade no acesso à habitação? E o que é que poderia ser feito para melhorar?
Para a Iniciativa Liberal de Almada, é fundamental a construção de mais habitação pública para contornarmos essa questão do florescimento dos bairros e das barracas. É uma situação degradante para a população que lá vive e para o nosso concelho. Ou seja, queremos trabalhar com o departamento do urbanismo, com as forças de segurança, para criarmos uma habitação pública digna que permita dar qualidade de vida a essa população e atribuirmos as casas às pessoas que realmente necessitam.
Fazermos essa habitação pública com mais casas e atribui-las, mas de uma forma responsável. Ou seja, nós atribuímos as casas e as pessoas são responsáveis por essa habitação e pela forma como a gerem. Depois temos que fazer um levantamento do património público de Almada e percebemos quais são as casas que estão abandonadas e quais é que podem ser utilizadas, quer do ponto de vista de residências estudantis, quer do ponto de vista de venda. Arrendar casas às famílias, que queiram viver no centro de Almada, e reabilitar algum desse património.
Depois temos que estimular o mercado. Se queremos baixar o preço das habitações, não é com o controlo de rendas, não é por decreto, é com mais construção. Nós temos que duplicar ou triplicar a construção em Almada. Temos queixas de famílias que querem construir casa em Almada. Demoram pelo menos dois anos para ter um projeto aprovado. Não pode acontecer. Reduzirmos as taxas de IMI para o mínimo legal que for necessário. Isentarmos algumas das famílias, que querem viver no centro de Almada, do pagamento de IMI.
P: Falam também sobre a rede inteligente de monitorização urbana. Consideram que pode levantar problemas em termos de privacidade, ou seja como é que pensam proteger ou assegurar a privacidade dos dados?
Podemos fazer uma monitorização da rua e termos um sistema inteligente com recorrência à inteligência artificial, sensores, que detectem anomalias e que permita fazer a recolha da movimentação ou da alteração que possa existir na rua. Isso dentro daquilo que são também as regras da lei da proteção de dados que estão em vigor. Esse é um trabalho que nós temos de fazer com as forças de segurança para conseguirmos fazer esse trabalho de monitorização.
Também trabalharemos em consonância com as forças de segurança para que possa haver uma polícia ou um policiamento de proximidade que as pessoas também possam sentir que a polícia está ali no bairro, que está na rua. Esse trabalho terá que ser sempre feito em conjunto e nunca partindo nós sem ouvirmos quem está no terreno, e das reais necessidades.
P: Em relação à PSP falam também sobre a requalificação das infraestruturas. De que forma é que estão a pensar requalificar as infraestruturas?
A requalificação das esquadras é uma competência do Estado Central, mas nós se tivermos imóveis do Estado, imóveis públicos, podermos colocar esses imóveis à disponibilidade também das forças de segurança, para poderem instalar uma esquadra de proximidade, poderem ter um posto, se assim for, do entendimento também das forças de segurança. Esse é sempre um trabalho que tem que ser feito com as forças de segurança e depois com o Estado Central.
Nós temos de ter aqui também uma proatividade, não podemos estar a ver a esquadra da PSP com condições indignas para os agentes e não pressionarmos o Estado Central para garantir que as condições sejam melhoradas. Nós garantimos, de certeza, essa proatividade e essa pressão junto do Estado Central para melhorar as condições.
P: Até ao momento a Iniciativa Liberal já iniciou algum contacto com os bombeiros ou com a PSP para saber o que estão a sentir neste momento?
Estivemos recentemente na esquadra da PSP do Pragal e vimos isso ao vivo. Da mesma forma que falámos com algumas das corporações de bombeiros e sentimos também essa necessidade de requalificação de instalações. Um aspecto muito importante, mais vocacionado para os bombeiros, que nos falam da revisão dos contratos – programa entre a Câmara e as associações de bombeiros. Esse é um dos aspectos fundamentais que tem que ser revisto no futuro para garantir a sustentabilidade dos bombeiros.
P: Quais são as principais medidas para revitalizar o comércio local e os mercados?
Temos que apostar, dinamizar esse comércio, dinamizar esses espaços, primeiro com as acessibilidades depois com a melhoria também das infraestruturas. Alguns mercados necessitam urgentemente da melhoria dessas infraestruturas e incentivarmos também os comerciantes a aderirem a um programa mais digital. Muitos não têm essa facilidade da digitalização, mas nós podemos trabalhar com os comerciantes no sentido de criarmos uma aplicação ou um site em que diz o determinado número de comerciantes e em casa podem solicitar determinados produtos. Basta chegar ao mercado e recolher.
Cada vez mais se fazem as compras online, porque é que não devemos levar esse conceito das grandes superfícies para um mercado local? Sabemos que alguns desses comerciantes podem não ter essa habilidade, mas nós podemos ajudar, podemos dar a formação, podemos agilizar essa ponte entre o mercado tradicional e os comerciantes.
P: Por um lado pode também afastar as pessoas do convívio dentro do mercado?
Não creio que possa haver esse distanciamento entre as pessoas. Tem que se deslocar lá para fazer o levantamento da encomenda. Aqui é a questão de facilitar a escolha e ter o produto já disponível.
P: Querem tornar o Madan Parque um “verdadeiro centro de inovação”. Como é que isto seria feito?
Isto seria feito em conjugação com a universidade. Conseguirmos ter espaços de incubação de novas empresas. Espaços de incubação para jovens, que acabam de sair da faculdade, poderem criar os seus spin-offs, criarem as suas startups. O Madan Parque pode ser o ponto de partida para essa incubação de empresas, apesar das que já lá estão, de facilitarmos e darmos condições para que isso ainda possa progredir.
Podemos também ampliar e trazer outras empresas, de cariz tecnológico, que possam aproveitar os alunos que saem ano após ano da universidade, da FCT, neste caso, e ter ali um centro de inovação e de emprego para os jovens terem os primeiros empregos. Sabemos que é uma área altamente competitiva, uma área que gera salários bastante elevados e é um capital que não podemos perder.
Estamos a perder um capital humano que pode ficar retido, basta darmos as devidas condições. E isso passa por dentro daquilo que é a fiscalidade da camarária, como a redução da derrama, do IRC. Reduzirmos para que essas pequenas empresas, startups, spin-offs possam dar os primeiros passos rumo às pequenas tornarem-se médias, às médias tornarem-se grandes.
P: Em vários municípios a IL e o PSD têm formado coligações, porque não em Almada?
Não avança por uma simples razão. Nos últimos 8 anos o PSD esteve numa coligação ou num apoio ao executivo socialista e portanto para a IL nós tivemos a combater, digamos de certa forma, no bom sentido, toda a política que PS e PSD estavam a aplicar no Concelho. Esta política dos últimos 8 anos conduziu-nos à estagnação, portanto o PSD, de certa forma tem a culpa no estado em que a Almada chegou aos dias de hoje. Não fazia qualquer sentido irmos com o PSD numa eventual coligação. Há 4 anos apoiou o PS e agora íamos numa coligação com o PSD. O trabalho que nós temos feito nos últimos 2 anos e meio vai também a um encontro daquilo que é a nossa visão e da nossa perspectiva de afirmação dos ideais liberais no Concelho de Almada. Foi por isso que decidimos concorrer sozinhos a estas eleições.
P: Fala em “devolver Almada” aos cidadãos. Sente que Almada não é dos cidadãos?
Almada é dos cidadãos. Devolvermos Almada do ponto de vista da resposta que o município tem que dar às solicitações do dia-a-dia. Há um portal onde se faz uma queixa porque há um buraco na rua, onde as ervas estão estão crescidas, porque há lixo e não há uma resposta. Quando o cidadão não se sente representado há esse divórcio. Perde a confiança em quem devia estar a gerir a cidade nas questões mais básicas que é da recolha do lixo, da limpeza das ruas, do arranjo da calçada… Essa transparência com o municípe é que vai devolver Almada aos almadenses, porque se sentem abandonados. Estamos numa cidade onde vemos o lixo, onde vemos que está ao abandono.
E a resposta em tempos úteis às solicitações das pessoas. Um dos casos mais recorrentes é ficarem sem resposta aos emails que enviam para saber de um processo simples de licenciamento. Se calhar podem dizer que temos poucos recursos humanos, mas nós estamos atualmente num conceito de smart cities, a trabalhar esses conceitos de tecnologia, digitalização e tudo o que está associado ao desenvolvimento das cidades. Nós podemos aprender, e aplicar novos modelos, para o desenvolvimento dessa resposta e dessa proximidade, que tem que ser quase instantânea, à população.
P: O que seria mais favorável neste cenário seria melhorar os canais de participação que já existemou aplicar outros que possam ser mais eficazes?
Melhorar e aplicar outros que reduzam os tempos de resposta e que criem esta confiança e proximidade com o municípe. Percebemos, em toda essa cadeia de comunicação, o que é que está a falhar, o que é que podemos introduzir para melhorar. E termos um portal, está no nosso programa, onde as pessoas podem acompanhar, quase ao dia, como é que está o seu processo e isto cria essa confiança e esta proximidade com a população.
Dentro dessa desburocratização, pensando na população que não tem a literacia digital, criamos balcões de atendimento para estarmos mais próximos da população para conseguirmos dar essa resposta às necessidades do passeio, do processo que está por responder. Temos aqui um balanço entre aquilo que pode ser digital, e pensarmos numa população que não tem acesso ao digital e nós estamos também próximos.
P: Que balanço fazem destes anos do PS à frente da Câmara de Almada?
É um balanço negativo. Conduziu-nos à estagnação. Almada precisa do desenvolvimento, precisamos de atrair mais empresas, precisamos de atrair investimento para construirmos mais casas, criarmos mais emprego para que a população fique no concelho. A população, ao ficar no concelho, está a criar riqueza, a dinamizar a economia local, e a desenvolver Almada.
As pessoas não têm que ter medo. Temos que escolher entre o socialismo e a CDU, que nos vão dar mais quatro anos de estagnação e de manutenção de todos os problemas que falámos. E a alternativa está na Iniciativa Liberal, para podermos acelerar Almada, rumo a um nível de desenvolvimento, de prosperidade. Para que as famílias possam escolher Almada para viver, para ter os filhos, porque as escolas são boas, porque a saúde é boa, porque tem infraestruturas que permitem prosperar.