
A crise na habitação está a atingir Oliveira de Azeméis. O que antes parecia um problema das grandes cidades, como Porto ou Lisboa, tornou-se realidade no centro de uma cidade onde cada vez mais pessoas sentem dificuldades em encontrar casa — sobretudo os mais jovens. A Azeméis TV/FM foi à rua ouvir os moradores. Os testemunhos são claros: os preços estão altos demais, há poucas opções para arrendar e muitas casas continuam fechadas, sem utilização.
“Sim, estão bem elevados, cada vez mais”
Para Maria, a situação é evidente: “É sim, na minha opinião sim. Ainda para mais conforme os salários das pessoas, sim, estão bem elevados, cada vez mais.” Quando questionada se conhece alguém com dificuldades, responde prontamente: “Sim, principalmente para alugar. Depois também conforme procuram T1, T2, e há sempre essa dificuldade. Há muita dificuldade em arranjar casa.”
Maria também sentiu o impacto na própria família: “Os meus pais procuraram para alugar pois era difícil encontrar para arrendar, víamos sempre valores elevados.” E deixa um reparo direto sobre a quantidade de imóveis sem uso: “Sim, completamente. Sempre que passo na rua e vejo alguma dessas situações, penso nisso, porque podia ajudar muitas pessoas.”
“Estão um bocadinho inflacionados, sim”
Luísa Lima admite que não está neste momento à procura de casa, mas tem a perceção clara do que se passa: “É sim. Eu neste momento não estou propriamente à procura, não é? Mas do que ouço falar, sim. Estão um bocadinho elevados, tendo em conta o nosso custo de vida. Acho que não está propriamente alinhado. E Oliveira de Azeméis é um centro urbano, ok, mas não é Porto nem Lisboa. Acho que sim, estão um bocadinho inflacionados, sim.”
Quando questionada se conhece casos reais: “Sim, principalmente pessoas que estão sozinhas. Em casal ou com amigos é mais fácil fazer essa procura e conseguir, mas uma pessoa sozinha, sim, é praticamente impossível.” Sobre a própria situação, explica: “Estou a alugar um apartamento com o meu marido e temos noção que a renda que pagamos é baixa, tendo em conta a realidade atual. O nosso senhorio tem vindo a aumentar todos os anos, simbolicamente, mas tem vindo a aumentar. Mas sabemos que é um caso raro.”
Luísa também repara nos imóveis vazios: “Sim. Eu notei que, entretanto, aqui em Oliveira, a requalificação de edifícios tem acontecido mais recentemente, mas acho que pode ser melhorado, sem dúvida.”
“Demais. É um absurdo.”
Para Adriana, não há meias palavras: “Demais. É um absurdo.” Diz que conhece “várias pessoas com dificuldades em arranjar casa” e acrescenta: “Eu mesma estou a sentir na pele.”
Sobre preços médios, Adriana responde com segurança: “A habitação? Eu acho que 300 euros, no máximo 400.” Para uma casa, não para um quarto. E quando questionada se acredita que existe especulação imobiliária em Oliveira, diz: “Sim.”
E sobre os imóveis vazios? “Sim, com certeza. Tenho reparado nisso: muitas casa s abandonadas, fechadas... e muitas pessoas precisam de uma moradia. E há poucos recursos.”
“Considero que sim”
Guilherme Rodrigues também concorda que os preços estão demasiado altos: “Sim, considero que sim. Conheço até alguns amigos meus. Está muito difícil. Demorou algum tempo para encontrar uma casa e acho que os preços não ajudam.”
Embora diga não ter sentido diretamente esse impacto, reconhece: “Muita gente que eu conheço sim.” E sobre os edifícios desocupados, é claro: “Sim, sim. Aqui mesmo no centro de Oliveira temos muitas casas assim.”
“É muito complicado”
Daniel Oliveira, estudante da Universidade de Aveiro, dá o testemunho de quem tenta começar uma vida adulta num contexto hostil. “É muito complicado. Normalmente os preços das casas e de habitações são muito elevados, e a procura também é muito elevada. Portanto, também justifica um bocado o preço.”
Explica que tem família em Oliveira de Azeméis, mas que muitos colegas enfrentam dificuldades: “No caso da universidade, têm que pagar preços muito elevados para morar. Por exemplo, em Coimbra, que não podem estar a ir e a vir todos os dias, têm que pagar preços muito elevados. Outros, por acaso, têm mais sorte e podem pagar preços mais baixos, mas normalmente são preços elevados.”
Questionado sobre como se sente perante uma renda de 600 ou 700 euros, diz: “Honestamente não sei muito bem. Diria que é muita procura no geral que justificaria esse preço, mas não sei explicar muito mais.” E assume a frustração: “Pois, é muito complicado, porque deveríamos ter um salário muito mais alto para conseguir pagar estas habitações, o qual não é realista com a situação atual.”
A realidade da habitação em Oliveira de Azeméis, contada por quem a vive, é inequívoca: preços acima das possibilidades, rendas incompatíveis com os salários, escassez no mercado de arrendamento e prédios fechados a ocupar espaço que podia ter vida.
Entre os jovens, há um sentimento comum de desmotivação: trabalhar ou estudar já não basta para ter uma casa.
“Devia haver mais apoio, mais fiscalização, mais opções. Viver na nossa terra não devia ser um luxo”, disse Maria. É uma frase simples mas que carrega o apelo de toda uma geração.
