
Entre os dias 27 de julho e 4 de agosto, cerca de 30 jovens das paróquias de Oliveira de Azeméis, Santiago de Riba-Ul e outras paróquias do concelho e da vigararia liderada pelo padre José Manuel Lima participaram no Jubileu dos Jovens em Roma , evento que reuniu mais de 1 milhão de jovens provenientes de 146 países. A participação dos jovens locais foi uma resposta ao convite do Papa Francisco durante a Jornada Mundial da Juventude de 2023, em Lisboa, que incentivou os jovens a aprofundarem a sua fé e o seu compromisso com a Igreja.
A dezembro de 2024, deu-se início à jornada que foi o Jubileu dos Jovens 2025, em Roma. Jubileu este que se enquadra no ano jubilar que decorre de 24 de dezembro de 2024 e que terminará a 6 de janeiro de 2026, organizado pelo falecido Papa Francisco e executado pelo recém-eleito Papa Leão XIV. Sob o comando de um grupo de responsáveis animadores e com a ajuda e encorajamento por parte de padres e paróquias de Oliveira de Azeméis e de Santiago de Riba-Ul, surgiu a ideia, sonhou-se com a visita, surgiram planos e eventualmente foi posta a mão à obra.
O caminho não foi fácil, foi necessária muita devoção tanto por parte dos jovens e respetivas famílias como dos responsáveis, muitas reuniões, organização e venda de muitas atividades e brindes para angariação de fundos que patrocinassem esta peregrinação. Foi necessária também alguma preparação espiritual. Crescer na fé, unir o grupo e preparar a “mochila” – analogia muito utilizada ao longo da semana – de modo a que os peregrinos se tornasse verdadeiramente Peregrinos de Esperança.
O azeméis.net reuniu três testemunhos.


Pde. Amaro Ferreira
A preparação para um evento deste porte é dispendiosa e exige muito planeamento. Por isso, a participação começou a ser organizada com um ano de antecedência, o que permitiu que todos os detalhes logísticos, financeiros e espirituais fossem cuidadosamente preparados. Este é, sem dúvida, um grande esforço que merece ser reconhecido. Em primeiro lugar, agradecemos aos jovens que participaram, mas também àqueles que, por diversas razões, não puderam ir. O agradecimento estende-se às famílias, às instituições que deram apoio, aos animadores dos grupos de jovens que dinamizaram as atividades e, especialmente, aos párocos, o P. Zé Manel e o P. Ricardo, que delegaram no P. Amaro a responsabilidade de acompanhar espiritualmente o grupo durante a peregrinação.
O grupo local ficou alojado em estilo acampamento nos pavilhões da “Fiera di Roma”, onde estavam cerca de 25 mil jovens, maioritariamente de Portugal, mas também de muitos outros países. Durante a semana, os jovens participaram em eventos organizados pela comissão do Jubileu, como a Missa de Abertura na Praça de São Pedro e os Dias da Cidade, onde viveram momentos de oração, cultura e partilha. No dia 2 de agosto, o evento culminou com uma grande romaria de 1 milhão de jovens até Tor Vergata, onde ocorreram a Vigília e a Eucaristia de encerramento, presididas pelo Papa Leão XIV.
Além das celebrações litúrgicas, o grupo local teve a oportunidade de fazer um circuito de peregrinação pelas quatro basílicas das Portas Santas de Roma: São Pedro, Santa Maria Maior, São João de Latrão e São Paulo Extramuros. Um dos momentos mais significativos foi a Eucaristia privada celebrada na cripta da Basílica de São Pedro, junto ao túmulo de São Columbano, o que marcou profundamente a experiência espiritual de todos os participantes.
Os jovens também exploraram o património cultural de Roma, com visitas ao Coliseu, Panteão, Fontana de Trevi, Praça Navona e igrejas como Santa Inês e Santo Inácio. A visita ao Museu do Vaticano e à Capela Sistina foi outro destaque, permitindo aos jovens apreciar a grandiosidade artística e religiosa do Vaticano.
Apesar do calor extremo, com altas temperaturas durante toda a semana, o grupo manteve-se firme, realizando os trajetos a pé, de comboio, autocarro e metro, com entusiasmo e espírito de comunhão. Cada passo da peregrinação foi uma afirmação da força da juventude e da fé que une os jovens de todo o mundo.
O Papa Leão XIV, na Eucaristia de encerramento, também lançou um novo desafio aos jovens, convocando-os para a Jornada Mundial da Juventude em Seul, na Coreia do Sul, de 3 a 8 de agosto de 2026, um convite que certamente inspirará mais gerações de jovens a se engajarem na sua missão cristã.
Este Jubileu dos Jovens foi muito mais do que uma simples viagem. Foi uma experiência transformadora que deixou uma marca profunda nos jovens de Oliveira de Azeméis, São Tiago de Riba Ul e nas demais paróquias participantes. Agora, de regresso a casa, retornam com um espírito renovado, prontos para partilhar o que viveram com as suas comunidades. O Jubileu reforçou os laços de fé entre os participantes e os conectou a uma rede global de jovens comprometidos com a construção de um mundo cheio de esperança, pois, como sublinhou o Papa: “Jesus é o amigo que sempre nos acompanha”.
André Costa
“Durante a semana, o tempo foi gerido com destreza por parte dos representantes e, mesmo estando longe do centro da cidade ou encontrando dificuldades nos transportes que se encontravam atulhados de gente de todos os países do Mundo, conseguimos visitar todos ou quase todos os pontos principais da cidade e realizar todo o tipo de experiências religiosas, humanas e devotas.
Quanto aos locais visitados, pudemos ir à Basílica de São Pedro onde partilhámos uma eucaristia presidida pelo Padre Amaro e dois párocos de São Paulo nas grutas do Vaticano, a Praça de São Pedro onde assistimos à missa campal com direito a aparição do Papa Leão que nos encheu de emoção e alegria com o seu sorriso e discurso inaugural, a Basílica de Santa Maria Maior, a Basílica de São João de Latrão, o Coliseu, a Fontana di Trevi, diversas praças e ainda os museus do Vaticano e a Capela Sistina, onde a beleza nos “tirou as palavras da boca” e nos aqueceu o coração e a alma. Pudemos ainda usufruir de alguns momentos de relaxe e lazer na praia de Ostia onde se sentiu um verdadeiro espírito de união de grupo.
Quanto às experiências espirituais, efetuámos a passagem nas portas santas da cidade, momentos de oração individual em cada basílica ou igreja de Roma, momentos de oração coletiva ao acordar e ao deitar, com partilha de sentimentos, preces e gratidão, organizados pelo Padre Amaro, e até momentos de solidariedade na entrega de alimentos e algum conforto e carinho a pessoas sem-abrigo que se encontravam nas imediações da praça de São Pedro. Participámos ainda de uma vigília presidida pelo Papa Leão, de uma noite ao relento em Tor Vergatta e de uma missa matinal no dia seguinte.
Tudo isto foram apenas os atos físicos, os momentos reais da semana, mas na verdade, este jubileu, foi muito mais que isso, foi um combinado de sentimentos que só quem esteve lá pode sentir.
Vivemos alegria nos cânticos entoados pelo grupo, pelos coros ou acompanhados pelos grupos dos mais diversos países e continentes, comoção na passagem do Papa, na entrega de alimentos aos mais necessitados e nos abraços partilhados no final da vigília em Tor Vergatta, amor uns pelos outros, pelo próximo e por Deus que torna este tipo de eventos possível, humildade ao ver a quantidade e diversidade de culturas e povos que se juntam por amor a Ele, confiança em assumir a nossa fé e vontade de espalhar a Palavra aos que não a acolhem, esperança em que o mundo possa ser guiado por aqueles jovens para o tornar um lugar melhor e, acima de tudo, fé em todos os momentos, em todas as palavras e em todos os gestos realizados em comunhão com os outros.
Esta fé que nos permitiu também caminhar sem nunca desistir mesmo estando alojados na Feira de Roma a muitos quilómetros do centro de Roma ou tendo de esperar em longas filas até para ir à casa de banho ou carregar o telemóvel, que nos permitiu tomar banho de água gelada, por vezes quando já o sol se tinha posto, que nos permitiu não ter medo no meio das multidões das ruas, dos transportes ou dos pavilhões onde dormíamos, que nos permitiu comer o mesmo pequeno-almoço e frequentar os mesmos supermercados e restaurantes de fast food durante toda a semana sem enjoar, que nos permitiu ter paciência quando o cansaço se apoderava de nós e que nos permitiu, no fundo, sobreviver a esta semana caótica mas que ficará certamente marcada na memória de todos pela positiva.
Sendo sincero, antes da semana e ao longo de toda a preparação receei que, por ser um dos jovens mais velhos, pudesse fartar-me ou não me enquadrar, mas sei agora que o amor de Deus une tudo e todos e levo de Roma não apenas 19 amigos mas também mais 11 da paróquia de Santiago e mais os conhecidos que se fizeram pelo caminho, como por exemplo, o Cardeal Américo Aguiar. Receei em vão pois esta semana foi das melhores experiências da minha vida e, tal como as JMJ, veio aumentar a minha fé, a minha vontade de ser melhor, de ser feliz e de fazer os que me rodeiam ainda mais felizes.
Resta-me agradecer a todos os que peregrinaram comigo, em especial aos 30 membros do nosso grupo, às nossas paróquias, aos Padres Amaro e José Manuel por dinamizarem esta atividade e aos nossos familiares que nos acompanharam e auxiliaram no processo. Rezo também para que esta semana não se apague da memória mas sim estimule uma melhoria a nível mundial e aguardo ainda por novas oportunidades como esta, porque agora, mais do que nunca, sou um Peregrino de Esperança.”
Inês Maria Silva
“Foi, no verdadeiro sentido da palavra, uma peregrinação, com todos os seus altos e baixos, todos os seus momentos difíceis e cansativos, conjugados com os momentos de alegria e emoção, sempre com o foco na fé, o objetivo principal.
No que toca ao alojamento e alimentação, a organização e logística italiana deixou a desejar. Ficamos alojados na Feira de Roma, a 21km da Cidade do Vaticano – Todas as manhãs tínhamos que fazer um caminho de 30 minutos até ao transporte mais próximo. Nesta feira, estavam milhares de jovens de vários países no mundo. Apesar dos 14 pavilhões existentes na Feira, apenas 9 estavam em uso, e cada um albergava cerca de 1400 pessoas. As luzes apagavam à 01h, acendiam às 05h e o barulho, como é inevitável com tão grande número de pessoas, era contínuo. Os banhos eram em chuveiros de água fria, alguns bastante degradados e, principalmente no fim da semana, sem deixarem escorrer água, ao ar livre e com algumas filas de espera. A questão mais complicada foi o carregamento dos telemóveis: Por cada pavilhão existia uma mesa com triplas ligadas umas às outras, que era onde os carregamentos poderiam ser feitos. Nunca podíamos deixar os telemóveis e carregadores portáteis sozinhos, devido ao risco de que alguém os roubasse ou estragasse, como chegou a acontecer. Esta questão era particularmente importante, dado que a logística de alimentação era toda feita online, na site do peregrino, único sítio onde tínhamos acesso aos vouchers que trocávamos pelas refeições nos restaurantes e supermercados aderentes. Ainda no que toca à alimentação, não eram muitos os pontos aderentes, principalmente no centro de Roma e, por isso, as refeições acabaram por ser “ao improviso”, compradas nos supermercados.
No entanto, sabíamos para o que íamos: Uma peregrinação não é uma viagem turística, num hotel com tudo incluído e com todos os confortos e comodidades que desejamos. Assim, não foram estes constrangimentos que impossibilitaram o cumprimento do nosso objetivo, o de crescermos na fé. Esse objetivo, posso dizer com toda a certeza, foi cumprido.
Visitamos os monumentos mais importantes de Roma – Praça de S.Pedro – onde tive, inclusivamente, possibilidade de assistir à eucaristia – os museus do Vaticano, a Basílica de Santa Maria Major – onde está sepultado o Papa Francisco – a Basílica de S.Pedro e as suas grutas, onde pudemos presenciar uma eucarística privativa celebrada pelo Padre Amaro – a Fontana di Trevi, a Basílica de S.João de Latrão, a praia de ostia, entre outros. Em todos eles, ainda que monumentos de interesse turístico, pude ter os momentos de introspecção e oração privada, de uma forma muito pessoal e, de certa maneira, diferente daquela a que estou habituada.
Toda a semana colmatou com a Vigília e Eucaristia, celebradas pelo Papa Leão XIV, em Tor Vergata na noite de 02 de Agosto e manhã de 03 de Agosto. Apesar da longa caminhada, dormida no chão, da chuva e da confusão, foi um momento de extrema importância – A comunidade cristã de jovens de todo o mundo, unida ao Santo Papa, em oração pelos mais necessitados, pelos que neste planeta se encontram em guerra, pelas intenções que cada um tem no seu coração.
No entanto, sem dúvida que o momento de maior emoção para mim em toda a semana foi, na noite após a eucaristia em Tor Vergata. Nesse dia, decidimos ir entregar a comida que nos tinha sido oferecida, mas que não tínhamos aberto aos sem-abrigo na Praça de S.Pedro. Aí, ouvi histórias de pessoas que tiveram as suas vidas destruídas num dia e que se encontram em situações não dignas. Nesse dia, para mim, consolidou-se toda a semana e a ideia de que a missão ainda estava a começar, que ainda há muito caminho a percorrer para fazer do mundo um lugar melhor.
Peregrinar é caminhar. É caminhar lado a lado com os outros, num caminho que deve ser feito de entre ajuda, de apoio, de muita oração e fé. É uma partilha de culturas e de diferentes experiências de vida. Cada passo que damos torna-se um caminho mais próximo à descoberta da nossa verdadeira missão. Assim, apesar dos constrangimentos e dificuldades, e muito devido ao grupo que me acompanhou, nesta semana senti-me, verdadeiramente “Peregrina de Esperança”, e recordei muitas vezes a frase que o Papa Francisco, mente e coração que sonharam este Jubileu, apesar de não estar fisicamente entre nós, disse durante as Jornadas Mundiais da Juventude de 2023: “Na igreja há espaço para todos. E, quando não houver, por favor façamos com que haja, mesmo para quem erra, para quem cai, para quem sente dificuldade. Todos, todos, todos”. Rezei e rezo para que o ambiente vivido nesta semana de Jubileu dos Jovens seja transposto para todo o mundo, mesmo para aqueles locais que parecem submergidos pelas trevas, mesmo para aquelas pessoas que ainda não encontraram o rumo a dar a sua vida. Apesar de terminada a semana, o sentimento que fica é o de que a missão está apenas a começar, nunca a terminar.”