Mário Centeno, prestes a abandonar a liderança do Banco de Portugal, concedeu esta sexta-feira uma entrevista à RTP onde respondeu frontalmente às críticas que marcam os últimos dias do seu mandato. Numa conversa conduzida por Vítor Gonçalves, o ainda governador rejeitou qualquer favorecimento pessoal nas nomeações recentes e dirigiu palavras duras aos jornalistas que noticiaram o caso.

“As pessoas que fizeram essas notícias não têm currículo para entrar no Banco de Portugal. Para entrar no Banco de Portugal não se pode ter média de 10”, disparou Mário Centeno, em reação às suspeitas sobre os cargos atribuídos a Álvaro Novo, seu chefe de gabinete, e Rita Poiares, diretora-adjunta do Departamento de Estatística — esta última casada com Ricardo Mourinho Félix, ex-secretário de Estado durante o mandato de Centeno como ministro das Finanças.

O tema das nomeações no final de mandato tornou-se uma das principais polémicas à volta do atual governador, que está de saída para dar lugar a Álvaro Santos Pereira. Ainda assim, Centeno garantiu que as escolhas foram feitas com base no mérito e afastou qualquer conotação familiar ou partidária.

Sobre Rita Poiares, recordou que “foi promovida pelos últimos três governadores do Banco de Portugal”, recusando qualquer associação com o cargo político do marido. “Ela não pode ser tratada como ‘a mulher de’”, afirmou, frisando a independência e o percurso profissional da responsável.

Quanto a Álvaro Novo, Centeno justificou a sua permanência com a necessidade de garantir a continuidade dos trabalhos no gabinete do governador: “Tem que funcionar sempre, independentemente de quem lá esteja.”

A entrevista foi também marcada por uma nota sobre o futuro político de Centeno, que não descartou um eventual regresso à política, tendo em conta as especulações que o apontam como potencial candidato à liderança do Partido Socialista.

Com o mandato prestes a terminar, Mário Centeno escolheu a RTP para responder diretamente às acusações, encerrando o ciclo com declarações firmes e um tom crítico face ao que considera ser uma campanha desinformativa conduzida por certos setores da comunicação social.