
As eleições autárquicas de 2025 em Águeda revelam um panorama preocupante ao nível das freguesias: menos listas, repetição de protagonistas e um défice claro de mobilização cívica. Se em anos anteriores a pluralidade partidária e a competição política ainda alimentavam algum entusiasmo local, este ano o cenário apresenta-se marcado por candidaturas únicas, escolhas limitadas e uma sensação generalizada de “gestão de sobrevivência” por parte dos partidos.
Apenas seis freguesias com verdadeira disputa
Das 15 freguesias do concelho, só seis terão três ou mais listas. Em contrapartida, três freguesias apresentam candidaturas únicas, o que significa que os eleitores vão votar apenas para confirmar o nome já anunciado. O caso mais simbólico é o de Aguada de Cima, uma das freguesias mais populosas do concelho, que terá apenas uma lista a sufrágio. A mesma realidade repete-se em Borralha e em Castanheira do Vouga, onde regressam antigos presidentes de Junta, praticamente sem oposição.
Noutros seis territórios há apenas duas candidaturas, o que limita a escolha do eleitorado e coloca a democracia local em terreno cada vez mais estreito.
No extremo oposto, as freguesias de Águeda e da União de Trofa, Segadães e Lamas do Vouga assumem-se como os espaços mais disputados, ambas com cinco listas apresentadas. São nestes locais que se espera uma campanha mais viva, com debates de ideias e confronto político mais evidente.
Regresso de figuras conhecidas
Entre os nomes em destaque surge Paulo Seara, que regressa à corrida pela presidência da Junta de Águeda, enfrentando concorrência de peso como Nuno Cardoso e José Luís Sá Pereira. Esta freguesia é apontada como uma das mais simbólicas, pela tradição de disputa renhida e pela representatividade no concelho.
Renovação forçada em oito freguesias
Apesar do aparente marasmo, o ato eleitoral garante alguma renovação: oito freguesias vão ter novos presidentes de Junta. A mudança deve-se sobretudo à não recandidatura de atuais autarcas ou ao limite legal de mandatos, o que abre espaço à entrada de novas caras. Entre elas, destacam-se Agadão, Aguada de Baixo, Aguada de Cima, Belazaima do Chão, Macinhata do Vouga, Préstimo e Macieira de Alcoba, Recardães e Espinhel e ainda a União de Trofa, Segadães e Lamas do Vouga.
Partidos em ritmos diferentes
No plano partidário, o Juntos por Águeda (PSD/MPT) apresenta-se como a única força política com listas para todos os órgãos autárquicos: Câmara, Assembleia Municipal e Assembleias de Freguesia. Este esforço demonstra capacidade de mobilização e estrutura interna, ainda que assente numa coligação que procura consolidar o poder já detido.
Em contrapartida, o Bloco de Esquerda limita-se a concorrer aos órgãos municipais, sem qualquer lista nas freguesias, um sinal claro da fragilidade local da estrutura bloquista. Já a CDU apresenta-se apenas em quatro freguesias, muitas vezes com os mesmos candidatos repetidos entre listas municipais e de freguesia, numa tentativa de racionalizar recursos humanos e manter presença mínima.
Democracia em modo automático
O que poderia ser visto como pluralismo e diversidade acaba por se traduzir, na prática, num défice de vitalidade democrática. Em muitas freguesias, o ato eleitoral aproxima-se de uma formalidade burocrática, onde os cidadãos votam em candidatos únicos ou em opções muito limitadas.
Especialistas em ciência política sublinham que a participação cívica ao nível das freguesias é um termómetro fundamental da saúde democrática local. A incapacidade dos partidos em renovar quadros e mobilizar cidadãos levanta dúvidas sobre a representatividade real destes processos.
Conclusão: sinais de alerta em Águeda
Com menos listas, candidatos repetidos e várias freguesias entregues a eleições de lista única, as autárquicas de 2025 em Águeda revelam mais as fragilidades da democracia local do que a sua vitalidade. Se em alguns territórios ainda se antevê uma disputa acesa, na maioria a sensação é de eleição em piloto automático, marcada mais pela falta de alternativas do que pelo entusiasmo do eleitorado.