
Um agente da PSP, atualmente acusado de homicídio e sequestro de dois imigrantes marroquinos em Olhão, utilizava as redes sociais para difundir mensagens de ódio e publicações de teor xenófobo. Entre os conteúdos partilhados estavam vídeos do líder do Chega e informações falsas sobre benefícios atribuídos a estrangeiros em Portugal.
O caso remonta a março do ano passado, quando o agente e um colega da esquadra de Olhão foram chamados a um supermercado para travar desacatos. Apesar de a proprietária não ter apresentado queixa, o Ministério Público descreve na acusação que ambos os polícias algemaram os homens, desviaram o trajeto em direção à esquadra e levaram-nos para uma estrada isolada, a cinco quilómetros do local.
Nesse ponto, as vítimas terão sido alvo de agressões violentas, incluindo pancadas na cabeça e no rosto. Um dos homens, Aissa, de 26 anos, estava algemado e não conseguiu defender-se. Ficou em estado crítico, internado nos cuidados intensivos do Hospital de Faro, onde morreria 19 dias depois, devido a múltiplas fraturas no crânio, face e coluna.
Ambos os polícias encontram-se suspensos de funções e aguardam julgamento em liberdade. A acusação inclui crimes de homicídio e sequestro, e a família da vítima exige uma indemnização de 1,6 milhões de euros, a ser paga pelos agentes e pelo Estado.
A defesa aponta como motivação para o crime o ódio contra imigrantes, citando dezenas de publicações deixadas pelo agente nas redes sociais. Recorde-se que, segundo o Estatuto da PSP e a lei da segurança interna, os polícias estão obrigados à neutralidade política e imparcialidade, dentro e fora do serviço.
A PSP já reagiu, considerando “graves” os factos descritos na acusação e confirmando que ambos os agentes estão alvo de processos disciplinares internos.