Joaquim Luís Costa opinião Vale do Sousa TV
Joaquim Luís Costa
Licenciado em Ciências Históricas, mestre e doutor em Ciência da Informação. Historiador.

Há quem defenda que a História se repete e há quem pense o contrário. Porém, deveríamos dar mais atenção ao passado para a tomada de decisões.

Há autores que defendem que a História se repete. Friedrich Hegel (1770-1831), filósofo germânico, entre os séculos XVIII e XIX, dizia que se repetia sempre, pelo menos duas vezes. Há outros que dizem que um acontecimento vai estar ciclicamente a suceder-se porque ainda não se aprendeu com o anterior e só quando aprendermos – muitas vezes da pior maneira – é que deixará de se repetir porque já se retirou (finalmente) um ensinamento. Em oposição a esta teoria, há autores que defendem que a História não se repete, porque não há eventos iguais ou análogos.

Escrevo sobre este assunto devido ao que se tem passado sobretudo nas últimas décadas no mundo, na Europa e em Portugal. Tomemos alguns exemplos.

Em 1929, os Estados Unidos da América passaram por uma grave crise financeira, que começou em Wall Street, e que mergulhou o país numa profunda pobreza nos anos de 1930. Ficou conhecida como “Grande Depressão”. Mas, 53 anos antes, em 1873, tinha acontecido uma crise económica que atingiu fortemente todo o planeta, especialmente os grandes blocos económicos de então (os Estados Unidos e a Europa), que durou mais de duas décadas, à qual se deu o nome de… “Grande Depressão”! Mais perto da nossa realidade, entre 2008 e 2013, tivemos outra crise financeira, que depois passou a económica, e ainda hoje sentimos as consequências. Resumindo, outra “Grande Depressão”!

Por falar em finanças, Portugal teve, oficialmente, oito bancarrotas, na sua maioria por culpa nossa. Há historiadores que dizem que o único rei que não teve problemas financeiros foi… D. Afonso Henriques! Pergunto: será que já aprendemos a lição ao fim de tantas bancarrotas?

Em 1918, o mundo assistia ao surgimento da Pneumónica ou Gripe Espanhola que, em dois anos, causou mais mortes que a Peste Negra na Idade Média. Curiosamente, praticamente um século depois, em 2019, surgiu a COVID-19 e todos nós sabemos como foram as nossas vidas!

Outro exemplo é a atitude da Europa de empurrar assuntos “com a barriga”, como é o caso da defesa. Depois, temos de forçadamente agir quando outros países nos obrigam. Todavia, há muito tempo que tínhamos sinais (ou acontecimentos históricos) que, mais ano menos ano, a Europa seria encurralada militarmente… Contudo, só decidimos pensar em agir quando um país invadiu um outro – e que sinalizava essa intenção, pelo menos, desde 2014 – e a grande potência ocidental que nos assegurava proteção decidiu desviar o seu foco para a região da Ásia-Pacífico, embora soubéssemos, também há alguns anos, dos seus novos interesses.

E o que dizer do preconceito e da hostilidade contra pessoas de outras culturas e origens? Não são de agora e, do ponto de vista histórico, nunca acabaram bem.

Não sei se, de facto, a História se repete e, se sim, quantas vezes. Sei que há acontecimentos semelhantes, mas não iguais. Também sei que aprendemos pouco com o passado! Daí a importância da disciplina de História para o dia-a-dia. Se lhe déssemos mais atenção, porque há a tendência para ser desvalorizada, certamente que certos acontecimentos não seriam tão idênticos a outros que já ocorreram no passado!

Para aprofundamento do tema, sugiro o livro Condenados a repetir a História, de Bill Fawcett, editado, em 2014, pelo Clube de Autor. Boa leitura!