Viagens eróticas feministas. Uma nova forma de turismo que começou a emergir a partir do momento em que a educadora sexual Mariana Fonseca decidiu unir a sua área profissional ao amor por viajar.

Foi em dezembro de 2024 que a jovem de 28 anos, natural de Sintra, lançou o primeiro destino na sua página de Instagram: Amesterdão.

Três mulheres juntaram-se a Mariana Fonseca e, de 15 a 18 de março deste ano, partiram numa aventura na qual puderam explorar o tema da sexualidade e erotismo de uma forma diferente. Para tal, visitaram o Museu da Prostituição, o Museu do Sexo e ainda fizeram uma tour dinâmica sobre a história da comunidade LGBTQIA+.

Depois de Amesterdão, seguiu-se Barcelona, entre os dias 3 e 6 de maio. Na cidade, cinco mulheres - a contar com a educadora - visitaram o Museu Erótico, o Museu da Arte Proibida, viram um Drag Show num bar queer e ainda realizaram uma tour pelo antigo Red Light District de Barcelona.

Com este projeto, Mariana Fonseca pretende dar a conhecer "novos lugares, pessoas e culturas" e, acima de tudo, desconstruir mitos e promover a educação sexual de uma forma "dinâmica e divertida". Todas as viagens são organizadas e guiadas pela própria.

O Lifestyle ao Minuto entrevistou a jovem que já apresenta um vasto currículo. Além de ser educadora sexual e menstrual, é também formada em Psicologia Comunitária, organiza workshops e outros eventos, e tem ainda um podcast intitulado 'Sexo e Outras Coisas'. Assume-se como uma mulher feminista e aliada à comunidade LGBTQIA+, e acredita profundamente que "a educação pode mudar o mundo".

Notícias ao Minuto Mariana Fonseca© Educadora Sexual e Menstrual

O que a fez querer tirar um curso de Educação de Fertilidade Consciente e, mais tarde, um mestrado em Psicologia Comunitária?

Na faculdade, fui para psicologia, pois sempre me pareceu uma área interessante - perceber como funciona a mente das pessoas - mas sem ter nenhuma perspetiva concreta do que queria fazer. Mais tarde, escolhi o mestrado em Psicologia Comunitária, pois é uma área que se dedica à procura de soluções para os problemas das comunidades na atualidade e sempre tive este lado ativista de querer criar mudança e contribuir para uma sociedade mais justa.

A área da educação menstrual surgiu através do digital e comecei a perceber que há imensa coisa que não sabemos sobre o nosso próprio corpo. Depois fui evoluindo para a educação sexual de forma mais geral, focando também muito na diversidade e feminismo.

O que a fascina no mundo da educação sexual?

O que me fascina é o facto de ser algo tão natural, mas ao mesmo tempo tão tabu. E ver que quando abordamos o tema de forma natural, todos ganhamos com isso.

Sente que este tema ainda não é devidamente debatido nos espaços públicos? Por que acha que isso acontece e o que considera importante fazer para mudar isso?

Ainda não é devidamente debatido nos espaços públicos precisamente por ainda ser um tema tabu. É importante que comecemos a dar-lhe a devida importância e a reconhecer os profissionais da área: investir na educação sexual nas escolas, principalmente, é urgente.

O que a levou, em 2020, a criar uma página de Instagram que explorasse as questões da sexualidade (e não só)?

O que me levou a criar a página foi perceber que esta é uma área muito importante, na qual há pouco conhecimento. Comecei a imaginar-me como educadora menstrual, juntando assim a minha paixão pela educação e pela mudança social com um tema que me despertava muito interesse.

Como e quando surgiu a ideia de organizar viagens eróticas feministas?

A ideia das viagens surgiu numa consulta de psicoterapia. Desde 2022 que as viagens fazem parte da minha vida e a minha psicóloga levantou a ideia de juntar as viagens com a educação sexual. Fez-me todo o sentido e comecei a trabalhar nisso.

Quando apresentou a ideia ao público, qual foi a reação? Houve, ou tem havido, comentários negativos?

A ideia foi muito bem recebida pela minha comunidade e fechei o primeiro grupo num fim de semana. Quando as viagens começaram a ter maior visibilidade para além da minha comunidade no Instagram, houve bastantes comentários ignorantes e ofensivos, infelizmente, o que só demonstra que o tema ainda é muito tabu para a comunidade em geral e há muito desconhecimento sobre o mesmo.

O que se faz numa viagem erótica feminista? E o que é que não pode mesmo faltar para que se tenha uma experiência completa?

Nas viagens visitamos museus ligados ao tema da sexualidade e erotismo, sex shops feministas, fazemos tours que exploram a história queer ou feminista das cidades, assistimos a Drag Shows ou espetáculos eróticos, entre outras coisas. Acho que o que não pode mesmo faltar é mente aberta e vontade de explorar temas e lugares novos!

A quem se destinam estas viagens e qual o principal objetivo das mesmas?

As viagens destinam-se a pessoas maiores de 18 anos que tenham curiosidade em relação aos temas da sexualidade e erotismo e que se identifiquem com os valores feministas e de inclusão sexual. O objetivo é aprender sobre o tema da sexualidade de forma descontraída e dinâmica, conhecer pessoas com interesses e valores semelhantes e experienciar a viagem (física, emocional e intelectual).

Qual a importância de existirem viagens eróticas feministas? O que considera crucial esclarecer?

Acho que estas viagens são importantes para descontruir mitos, tanto sobre o tema da sexualidade como sobre outros países e culturas. Algo que considero importante esclarecer é que ir numa viagem erótica não significa ir para fazer sexo. O objetivo das viagens é educação, debate e reflexão sobre sexualidade e erotismo.

Atualmente, é possível viajar consigo para Barcelona e/ou Amesterdão. Porquê estas cidades?

Amesterdão foi o primeiro destino em que pensei, devido à sua ligação ao tema do trabalho sexual, que é ainda muito polémico. Já lá tinha estado e tinha gostado imenso de perceber mais sobre o assunto, então queria levar mais pessoas a fazê-lo e transmitir-lhes também o meu conhecimento sobre o tema. Para além de que a cidade é maravilhosa e a cultura holandesa é muito mais livre quanto a questões de sexualidade e inclusão.

A ideia da viagem a Barcelona surgiu principalmente pela existência do museu erótico de Barcelona e também por uma experiência da Erika Lust, uma produtora de pornografia ética feminista, que entretanto já não está disponível, infelizmente. Mas percebi que era uma cidade ótima para explorar esta temática!

Tenciona acrescentar mais algum destino à lista brevemente? Se sim, quais?

Sim, tenho vários destinos que gostava de explorar dentro desta temática. Tenho andado a pensar em Praga e Londres, vamos ver…

Qual o feedback de quem já viajou consigo?

Tenho recebido feedback muito positivo. As pessoas dizem que se sentem num ambiente seguro, sem julgamentos e com gargalhadas pelo meio, o que me deixa muito feliz, pois é exatamente esse o ambiente que idealizo para as viagens - seguro e descontraído. Algo que também mencionam é a partilha que acontece entre todas, nomeadamente sobre os temas da sexualidade, e as aprendizagens e reflexões que levam das viagens. Ler essas palavras dá-me uma sensação de objetivo cumprido.

Quando irão decorrer as próximas viagens e como é que as pessoas se podem inscrever?

As próximas viagens serão novamente a Amesterdão e Barcelona. A de Amesterdão será de 13 a 16 de setembro e o investimento é de 275€. Este valor inclui a visita ao museu do sexo e ao museu da prostituição, um mystery pubcrawl no red light district, a visita a uma sex shop feminista, uma tour sobre a história LGBTQIA+ da cidade e um espetáculo erótico.

A viagem a Barcelona será de 18 a 21 de outubro e o investimento é de 225€. Inclui a visita ao museu erótico de Barcelona e ao museu da arte proibida, visita a duas sex shops feministas, um drag show e um pubcrawl + tour pelo antigo Red Light District de Barcelona.

As viagens são em pequeno grupo (4-6 pessoas). Está também incluída toda a organização e acompanhamento da minha parte, antes e durante a viagem, tal como a reserva dos voos e alojamento, no entanto o pagamento destes é feito à parte, uma vez que depende do lugar de partida para a viagem e do tamanho do grupo. As inscrições podem ser feitas por mensagem privada, através do meu Instagram.

Além da página de Instagram e das viagens, tem um podcast. O que gostaria de criar no futuro e de que forma espera que o seu trabalho quebre os tabus relacionados com a sexualidade?

Vou criando novos projetos de forma natural, ideias não faltam, neste momento quero continuar a investir nas viagens, pois é algo que gosto muito de organizar. No futuro não sei, mas podem esperar sempre coisas inovadoras dentro da área da educação sexual.

Clique na galeria acima e veja as imagens das últimas viagens eróticas feministas organizadas por Mariana Fonseca.

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