
A maioria das pessoas estaria a mentir se dissesse que a palavra 'cancro' não as assusta. Juntamente a esse medo vêm algumas generalizações comuns, incluindo a de que o cancro do pulmão afeta apenas fumadores. No entanto, uma nova investigação descobriu que aquilo que come pode aumentar o risco de cancro de pulmão em 44%.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o cancro do pulmão "é a principal causa de morte relacionada com cancro em todo o mundo, sendo responsável pelas maiores taxas de mortalidade entre homens e mulheres".
Há décadas que se sabe que o tabagismo é o principal fator de risco para este tipo de cancro. Tanto nos EUA como no mundo, aproximadamente 85% dos casos de cancro do pulmão são causados pelo consumo de tabaco, seja através de cigarros, cachimbos ou charutos.
Outras causas bastante conhecidas incluem fumo passivo, poluição do ar e exposição a produtos químicos como amianto ou gases de escape de diesel. Mas novas investigações revelam que a sua dieta também pode ser um importante fator de risco.
O que diz o novo estudo
Um novo estudo, publicado no jornal Thorax, concluiu que uma maior ingestão de alimentos ultraprocessados (AUP) está relacionada a um risco aumentado de cancro do pulmão.
Para chegar a essas descobertas, os investigadores analisaram os dados de saúde de mais de 100 mil pessoas com idades entre os 55 e os 74 anos, entre 1993 e 2001. "Os diagnósticos de cancro foram monitorizados até ao final de 2009 e as mortes por cancro até ao final de 2018", pode ler-se num comunicado de imprensa.
Os participantes responderam a questionários de frequência alimentar e dividiram o que comeram em quatro categorias:
- Não processado ou minimamente processado;
- Continha ingredientes culinários processados;
- Processado;
- Ultraprocessado.
Exemplos de alimentos ultraprocessados incluem gelados, assados, salgadinhos, cereais, massa instantânea, sopas e molhos pré-cozinhados, refrigerantes e cachorros-quentes. No entanto, os três alimentos ultraprocessados mais consumidos foram:
- Carnes (11%);
- Refrigerantes diet ou com cafeína (pouco mais de 7%);
- Refrigerantes descafeinados (quase 7%).
A equipa descobriu que os participantes que consumiram mais UPFs tinham 41% mais probabilidade de serem diagnosticados com cancro do pulmão do que aqueles que consumiram menos. "Especificamente, tinham 37% maior probabilidade de serem diagnosticados com cancro do pulmão de células não pequenas (CPCNP) e 44% maior probabilidade de serem diagnosticados com cancro do pulmão de pequenas células (CPPC)", afirma o comunicado.
"O processamento industrial altera a matriz alimentar, afetando a disponibilidade e a absorção de nutrientes, além de gerar contaminantes nocivos", explicaram os autores, observando que os materiais de embalagem provavelmente também desempenham um papel. Os investigadores acrescentaram ainda que a acroleína, um componente tóxico do fumo do cigarro, pode ser encontrada em salsichas grelhadas e caramelos.
"Essas descobertas precisam de ser confirmadas por outros estudos longitudinais de larga escala em diferentes populações e cenários. Se a causalidade for estabelecida, limitar as tendências de ingestão de UPF globalmente pode contribuir para reduzir a carga do cancro do pulmão”, concluíram.