No momento em que entramos em contagem decrescente para a grande festa dos 40 anos da BLITZ, na Meo Arena, em Lisboa, a 12 de dezembro – com concertos de Xutos & Pontapés, Capitão Fausto, Gisela João e MARO –, pedimos a músicos, promotores, jornalistas, radialistas e outras personalidades que vão ao baú resgatar memórias de quatro décadas de história, deixando-nos, também, uma mensagem para o futuro.

“Tenho agora 54 anos, portanto, quando tinha 16 ou 17, havia um tipo da turma que comprava o BLITZ e os outros todos liam”. É desta forma que Pedro Fradique, diretor de comunicação e um dos programadores do clube lisboeta Lux Frágil, recorda os seus primeiros tempos de leitor do BLITZ, quando o jornal surgiu em 1984, muito antes de se tornar colaborador, “no final de 1992, 1993, por aí”. “Nunca houve grande coisa antes. Eu não apanhei o ‘Musicalíssimo’ nem essas coisas. Lembro-me de haver uma publicação que coexistiu com o BLITZ algum tempo, que era o ‘LP’, da Manuela Paraíso, mas na cultura adolescente dos anos 80, a época em que a vivi, era isso”.

O que mais destaca dos primórdios do BLITZ, é “a ligação entre as pessoas”. “Lembro-me de papar [a secção] ‘Pregões e Declarações’ e as críticas de concertos eram uma coisa fundamental: lias ou porque tinhas ido e querias saber como aquilo era visto ou, muitas vezes, porque nem tinhas ido e querias saber o que tinha acontecido”, recorda, “por razões históricas, estou muito ligado ao jornal. Quando passa a revista, é outra coisa. Ganham-se umas coisas, perdem-se outras, também”.

“Durante algum tempo, o BLITZ é, no panorama da imprensa, ou o que lhe queiramos chamar, um ovni, uma coisa diferente”, continua, “havia o ‘Se7e’, havia outras coisas, mas o BLITZ era, assumidamente, outra coisa, e acabava por ser um agregador de pessoas com interesses comuns. Os concertos que havia nessa altura eram muito poucos. Encontrava-se toda a gente, porque havia três concertos por ano”. Recordando a escrita cáustica de alguns jornalistas, reflete: “claro que houve sempre críticas. Há sempre quem ache que podia ser mais assim, mais assado, mas isso é como tudo. É o facto de existir que permite que se debata o que pode ser ou não ser”.

Elege a palavra “liberdade” para descrever aqui que sentiu quando colaborou com o BLITZ na década de 1990: “liberdade total. Uma das primeiras coisas que fiz quando comecei a colaborar foi sobre um concurso de música moderna que tinha havido em Lisboa. Escrevi um bocado a arrasar e recebi logo uma carta do manager da banda vencedora… um escândalo”. Fradique salienta ainda as diferenças entre o panorama musical de hoje e de há 40 anos para falar sobre aquilo que poderá ser o futuro da publicação: “há uma militância na vida de melómano que é completamente diferente em 1987/88 e em 2024. Manter uma certa independência de espírito e não estar completamente no pacote do que é previsível, é o mais importante”.