
Nas últimas semanas podem ter passado pelo seu feed nas redes sociais imagens, vídeos e textos “a puxar ao like” que foram inteiramente produzidos por inteligência artificial. Os incêndios florestais em Portugal, com imagens comoventes de corporações de bombeiros e de resgates de cidadãos, foram um prato cheio para quem ganha a vida a criar estas ‘falsificações’, que têm um nome técnico ainda sem tradução em português: AI Slop.
Os “criadores” pedem reações ou comentários em apoio a bombeiros, soldados ou mesmo profissionais de saúde enquanto obtêm receitas por parte de plataformas como Facebook, Instagram ou TikTok à medida que as publicações viralizam.
João Santos Pereira, professor da Universidade Católica Portuguesa e especialista em Inteligência Artificial, explica no podcast “O Futuro do Futuro” o que é, afinal, esta ‘AI Slop’, “Conteúdos produzidos em grande quantidade, com uma carga emocional muito forte. A ideia é assegurar que os algoritmos das redes sociais, e da internet em geral, dos motores de busca e tudo o mais, peguem naqueles conteúdos - vídeos, imagens, textos, músicas - e os coloquem no topo, porque as pessoas vão carregar”. Explica o sucesso desta produção de IA “porque as pessoas querem sentir aquela emoção mais forte”, e estes são conteúdos feitos com base em dados anteriores, presentes nas próprias redes sociais, que mostram o tipo de imagem ou texto a que as pessoas reagem de forma mais intensa.
O facto de serem conteúdos enganosos fará com que, em breve, sejam rejeitados pelos utilizadores? O docente tem dúvidas, porque considera que a racionalidade se desliga quando usamos redes sociais: “Quando estamos a fazer scroll numa rede social, desligamos a mente racional e ficamos apenas à procura daquela ‘comida emotiva’ que nos dá prazer imediato”, explica.
No episódio em que conversa com Pedro Miguel Coelho, do Expresso, dá algumas dicas para detetar este tipo de conteúdo, e explica que a solidão, com a desagregação das comunidades, é uma das explicações para as pessoas estarem cada vez mais agarradas a estes conteúdos que despertam as emoções e instintos mais primários.
A conversa completa pode ser ouvida no episódio desta terça-feira (5) de “O Futuro do Futuro”, disponível nos sites do Expresso, da SIC e da SIC Notícias e nas aplicações de podcasts.