
A Rede Viária de Moçambique (Revimo), responsável pela exploração de mais de 670 quilómetros de estradas no país, registou prejuízos de 2,8 milhões de euros em 2024, consequência direCta da violência pós-eleitoral, segundo o relatório e contas agora divulgado.
O documento detalha que, durante as manifestações que se seguiram às eleições gerais de 9 de Outubro, as infra-estruturas concessionadas à Revimo, incluindo praças de portagem e sistemas de cobrança, foram alvo de bloqueios, vandalização e incêndios, com danos significativos nos centros de manutenção de Maputo e Gaza.
A gravidade da situação obrigou a empresa a suspender operações em 13 das 16 portagens sob sua gestão, devido à ausência de condições mínimas de segurança. O impacto foi humano e económico: 418 colaboradores directos e 1.004 indirectos, maioritariamente jovens, viram-se afetados pela interrupção das actividades, num quadro que ilustra a vulnerabilidade de infra-estruturas críticas em momentos de instabilidade política.
Apesar do cenário adverso, a Revimo encerrou o exercício com um lucro líquido de 736 mil euros – ainda assim, uma queda de 65% em comparação com os resultados de 2023. O desempenho foi penalizado não apenas pela violência política, mas também por eventos naturais extremos no primeiro trimestre e pelo aumento dos custos de manutenção. Entre os factores que mais pressionaram as contas esteve o arranque do projecto de manutenção especializada da ponte Maputo-KaTembe, uma das maiores obras de engenharia do país.
O episódio reflete as consequências económicas da crise política em Moçambique. As manifestações de 2024 foram a maior contestação eleitoral desde 1994, lideradas pelo candidato Venâncio Mondlane, que continua a não reconhecer os resultados oficiais.
A contestação popular, além de abalar a confiança institucional, atingiu directamente uma das áreas mais estratégicas para o desenvolvimento, as infra-estruturas viárias.