A Empresa de Água e Eletricidade (EMAE) anunciou, há dias, que será obrigada a implementar racionamento de energia durante dois meses, após a Tesla STP – empresa turca responsável por parte da produção de electricidade em São Tomé e Príncipe – suspender unilateralmente o contrato de fornecimento. O episódio expõe a fragilidade da segurança energética do país e levanta questões sobre soberania, dependência externa e sustentabilidade financeira.

De acordo com o diretor da EMAE, Raúl Cravid, a decisão da Tesla apanhou de surpresa as autoridades, uma vez que decorriam negociações para a regularização da dívida estatal, com a participação directa do primeiro-ministro, Américo Ramos. “Não havia motivos para a Tesla agir da forma como agiu”, afirmou o responsável, citado pela Lusa.

O Governo havia realizado um primeiro pagamento de 240 mil euros para reduzir a dívida acumulada. Ainda assim, a Tesla suspendeu o fornecimento na última Terça-feira, 19, após impor um ultimato que exigia novo pagamento, de valor não revelado, no prazo de apenas 24 horas.

A dívida total do Estado à Tesla STP ronda actualmente meio milhão de euros mensais, um peso significativo para as frágeis contas públicas de São Tomé e Príncipe. Perante este quadro, Cravid apelou à intervenção do “defensor do Estado” para rever ou revogar o contrato vigente.

O dirigente acusou ainda a empresa turca de violar princípios de boa-fé contratual e de agir de forma autoritária, colocando em causa a soberania do país. Sem citar nomes, insinuou que interesses políticos externos estariam a influenciar a Tesla STP, deixando implícita uma referência ao ex-primeiro-ministro Patrice Trovoada.

“Uma empresa não pode fazer refém um país. É preciso que todos nós comecemos a pensar no país a sério”, afirmou Cravid.

A crise expõe vulnerabilidades estratégicas na matriz energética são-tomense, excessivamente dependente de acordos externos e de soluções de curto prazo para suprir défices estruturais. Para já, a população enfrenta 60 dias de cortes programados, com efeitos directos sobre a economia, o sector privado e a vida quotidiana.