Prometeram-nos uma bazuca. Uma avalanche de investimento para modernizar o país, recuperar o tempo perdido e estruturar o futuro. Chamaram-lhe PRR, Plano de Recuperação e Resiliência, e garantiram que este era o momento de viragem. Mas na prática, o que se vê é um plano a tropeçar em si mesmo. Concursos públicos desertos, obras adiadas, fundos por executar. O dinheiro existe, o tempo escasseia, e a realidade é dolorosa.

Os concursos continuam a ser lançados com valores que não fazem sentido em 2025. Parece que alguém acredita que se pode construir hoje ao preço de há dez anos. Os custos aumentaram, os materiais encareceram, os salários subiram — felizmente. Mas os cadernos de encargos continuam a ser escritos numa realidade paralela onde tudo é barato, fácil e imediato. Resultado? As empresas fazem contas e recusam. Porque ninguém quer trabalhar para empatar. Muito menos para perder dinheiro.

O absurdo cresce quando somamos a burocracia, os pareceres infinitos, os prazos impraticáveis. Tudo em nome de um plano que tem relógio a contar. A cada mês que passa, menos margem. Menos execução. Menos futuro.

Convém lembrar uma coisa simples. Construir exige lucro. Exige planeamento. Exige respeito por quem executa. Não há transformação sem remuneração. E enquanto continuarmos a tratar as empresas como se fossem uma peça descartável do sistema em vez de um motor da economia, vamos continuar com projetos de papel e promessas de vento.

Devemos todos recordar que este círculo vicioso no uso dos fundos comunitários está perto do fim. Esta poderá ser mesmo a última oportunidade de usar bem o que temos.

Estruturar o país com visão, preparar o que falta, modernizar o essencial. Só assim poderemos um dia olhar para nós mesmos e dizer: fizemos o que tínhamos de fazer.

Porque quando se desperdiça o futuro, não há plano de resiliência que nos salve da vergonha.

João Figueiredo,
CEO da Carmo Wood Form