O que leva um engenheiro eletrotécnico, com um MBA pelo INSEAD, e uma carreira em ascensão em empresas multinacionais a deixar tudo para criar um projeto próprio de cariz social? Para Pedro Pinto de Almeida foi o “sentido de propósito”. Depois de vários anos a construir um currículo global em empresas como Bain & Company ou a WireCo, nas áreas de estratégia e desenvolvimento de negócio, deu um “salto de fé” e trocou o emprego seguro, num cargo de direção, pelo desafio de fundar um projeto de caráter social na área da educação.

Em 2021 fundou a Teach for Portugal, uma organização não governamental (ONG) focada em combater as desigualdades na educação e alavancar o aproveitamento escolar de alunos em comunidades carenciadas, num país onde “37% dos alunos têm apoios sociais”, aponta o co-fundador e CEO. A meta de Pedro Pinto de Almeida é só uma: “garantir que o código postal de uma criança não dita as suas oportunidades na vida, nem define o seu futuro”. Para isso, a Teach for Portugal coloca mentores nas escolas a apoiar o trabalho letivo dos professores. Nas turmas onde esta colaboração professor-mentor existe, explica, “a média global da turma é 26% superior”.

Natural do Porto e filho de pais com uma carreira construída na docência, o CEO da Teach for Portugal, para além de lecionar durante a universidade e de ter feito carreira em multinacionais da consultoria, à distribuição alimentar ou indústria, em Portugal, Espanha, Reino Unido e Estados Unidos, fez voluntariado em Angola, onde deu aulas de inglês em comunidades mais vulneráveis. E acabaria por ser essa experiência a transformar-lhe a vida.

Pedro Pinto de Almeida, co-fundador e CEO da Teach for Portugal, durante as gravações do podcast
Pedro Pinto de Almeida, co-fundador e CEO da Teach for Portugal, durante as gravações do podcast Nuno Fox

“Percebi que nascemos todos iguais, mas não nascemos todos com as mesmas oportunidades”, realça, acrescentando que "o sítio onde nascemos, numa rua ou na rua em frente, pode ter um condicionamento muito alto sobre o que podemos escolher ser, viver, ganhar, os problemas de saúde e expectativas de vida". Quis mudar a realidade e avançou para criar uma ONG. Mas o caminho não foi fácil, desde logo no financiamento.

"Pedir dinheiro para experimentar um projeto, testar uma ideia é sempre o mais difícil. A maioria das coisas falham, é o mais natural. Mas precisamos de as poder testar porque as que continuam, são então as que de facto têm impacto", diz Pedro Pinto de Almeida, lamentando quem em Portugal o capital semente (seed funding) para testar projetos seja quase inexistente.

Por de pé a Teach for Portugal exigiu resiliência: “duvidei de mim, não do projeto e do seu potencial, porque eu sabia o impacto que podia ter”, aponta. Além do financiamento, uma das dificuldades de viabilizar projetos sociais é agregar as pessoas que podem fazer a diferença. “A estrutura de talento de uma organização social tem de ser muito superior à do setor privado, mas a capacidade financeira para competir com os salários do privado é pouca”, reconhece.

Cátia Mateus podcast O CEO é o limite
Cátia Mateus podcast O CEO é o limite Expresso

O CEO é o limite é o podcast de liderança e carreira do Expresso. Todas as semanas a jornalista Cátia Mateus mostra-lhe quem são, como começaram e o que fizeram para chegar ao topo os gestores portugueses que marcaram o passado, os que dirigem a atualidade e os que prometem moldar o futuro. Histórias inspiradoras, contadas na primeira pessoa, por quem ousa fazer acontecer. Ouça outros episódios: