Duas empresas portuguesas vão ficar a controlar o capital da Martifer, outra empresa portuguesa fundada por dois irmãos, os quais foram resistindo a vários sobressaltos de contextos económicos e financeiros.

Fundada em 1990, a Martifer tinha um foco: a indústria metalúrgica, mas com o tempo, virou-se para a indústria naval.

Entrou para a Bolsa em 2007 com um plano estratégico de crescimento que acabou por não correr tão bem como estimavam os seus fundadores, os irmãos Martins: Carlos e Jorge Martins, a quem mais tarde se juntou a Mota-Engil.

Com 1500 trabalhadores, é hoje um grupo industrial que opera nas áreas da Construção Metálica, da Indústria Naval e das Renováveis.

O grupo controlado pelos irmãos Martins – I'M SGPS – com 38,01%, e pela Mota-Engil com 37,50%, tem 12,21% do capital disperso e o restante em mãos de outros acionistas com capital acima dos 2%, como os irmãos Martins, a nível pessoal.

Esta semana, um novo ciclo de vida fez com que as ações da Martifer fossem suspensas devido à oferta pública de aquisição (OPA) da Visabeira, que celebrou um acordo tripartido com a Mota-Engil e os irmãos Martins, no âmbito do qual se desfaz a parceria de 18 anos com o acionista de referência Mota-Engil.

Chegados a este ponto, a Visabeira Industrial deverá ficar com 37,5% do capital, o mesmo que detinham a Mota-Engil e os irmãos Martins com 25% do capital.

Na realidade, a Visabeira Industrial já havia celebrado um acordo com os acionistas de referência em outubro de 2024, perante o qual teria já 23% do capital do grupo.

Neste contexto, esta quarta-feira, anunciou à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) a concretização do acordo parasocial e as suas condições, que passam pelo anúncio da OPA.

No comunicado à CMVM são referidas as condições, entre as quais o preço.

A contrapartida da Visabeira Industrial é “igual ou ligeiramente superior ao preço médio ponderado das Ações apurado em mercado regulamentado nos seis meses imediatamente anteriores à data da publicação deste Anúncio Preliminar (a saber, é de €2,057 por Ação – arredondado para cada acionista, se necessário, para o cêntimo imediatamente superior – ou de €2 por Ação, consoante tais seis meses incluam ou não a presente data", como referido no comunicado enviado à CMVM.

A Martifer regista desde 2017 resultados positivos. Em 2024, o resultado líquido ascendeu a 23 milhões de euros, um aumento de 16,8% face aos 19,7 milhões de euros reportados em 2023.

Douro Azul ajudou negócio
Em tempos não muito longínquos, a Martifer chegou a ter Mário Ferreira como acionista (2021), superando os 4% do capital.

Neste momento, o dono da Douro Azul é apenas cliente, não constando agora entre os acionistas qualificados, e, como é sabido, esta atividade naval contribuiu para a redução da dívida do grupo durante vários anos.

É neste contexto que Mário Ferreira (acionista da TVI), através da sua Mystic Cruises, já era o grande cliente da Martifer, por via dos Estaleiros Navais da WestSea, em Viana do Castelo, geridos pelo grupo Martifer. É aqui que a Mystic Invest, a “holding” do dono da Douro Azul, constrói os seus navios.

O novo acionista do norte
A Visabeira é um grupo fundado em 1980, tem sede em Viseu e atua nas áreas das Telecomunicações e Construção. E, tal como tantas outras empresas, “consolidou o seu core business e alargou a sua área de atuação a diversos setores”, entre os quais o da energia, indústria e turismo, seguindo uma estratégia de internacionalização. Está em 18 geografias e comercializa os seus produtos para mais de 134 nações.

A Mota-Engil é mais antiga, fundada em 1946 em Amarante, dedica-se à construção e tem no seu ADN uma ligação forte a Angola, onde abriu no ano em que foi fundada. Está presente em 28 países, em três continentes: Europa, África e América Latina, e opera não só na construção, como nas áreas de engenharia, ambiente, energia e concessão de transportes.