O movimento Juntos pelo Cercal, no concelho de Santiago do Cacém, alertou para eventuais problemas respiratórios de moradores devido a um incêndio numa fábrica de 'pellets' durante vários dias, mas as autoridades afirmaram desconhecer casos de doença.

Num comunicado intitulado "Não conseguimos respirar", o movimento cívico manifestou o seu "descontentamento e solidariedade" para com os residentes da vila de Cercal do Alentejo, no distrito de Setúbal, que "há mais de duas semanas, estão a suportar as consequências da má gestão de uma fábrica de 'pellets'" de madeira.

Em causa está um incêndio que deflagrou naquela fábrica, na Zona Empresarial de Cercal do Alentejo, no dia 21 de julho, e que se propagou para o exterior, provocando um incêndio rural.

A situação, no interior da fábrica, só foi debelada a 31 de julho, 10 dias após o alerta para o incêndio, que ocorreu após a explosão de um silo, com as chamas a propagarem-se à madeira armazenada no espaço exterior da fábrica e a uma zona rural contígua.

Segundo o movimento, a vila de Cercal do Alentejo "está muito próxima e sempre exposta às consequências" de "fatores nocivos" oriundos da zona industrial.

"O incêndio foi agravado pela presença de madeira armazenada no exterior que tem causado emissão constante de um fumo altamente tóxico", alegou.
Segundo o Juntos pelo Cercal, "nestas últimas duas semanas, vários residentes, têm acusado problemas nas vias respiratórias e nos olhos, além de estarem incertos sobre as condições de segurança e de saúde nas suas localidades".

"Não tivemos conhecimento de casos a nível de afluência aos cuidados de saúde"

Contactada esta quinta-feira pela agência Lusa, fonte da autoridade de saúde do litoral alentejano disse não ter recebido, até agora, "relatos de casos de doença relacionados com problemas respiratórios devido a este incêndio, mas sim de preocupação".

"Não tivemos conhecimento de casos a nível de afluência aos cuidados de saúde relacionados com problemas respiratórios devido a este incêndio", afirmou.

A autoridade de saúde deslocou-se ao local, a 31 de julho, após uma queixa ligada à "emissão de fumos que estavam a ser expandidos, resultantes do incêndio", tendo, nessa altura, sido desenvolvida "uma resposta de intervenção, em conjunto com outras entidades, inclusive a empresa, com ativação de reforços e meios", disse a mesma fonte.

Essa intervenção permitiu que "a emissão de fumos tenha sido eliminada em menos de 48 horas" , sustentou.
E, acrescentou, "de acordo com a ficha técnica do material que estava a arder, constatou-se que não há compostos químicos adicionais, apenas madeira".

"Não me parece que haja aqui um problema que leve a comunicados"

Também contactado pela Lusa, o presidente da Câmara de Santiago do Cacém, Álvaro Beijinha, confirmou a existência de "alguns e-mails de pessoas a manifestarem preocupação relativamente à duração do incêndio e a acusar as entidades responsáveis de não agir".

"Esses mails tinham mais ou menos o mesmo padrão, o que é normal porque estamos a falar de um incêndio que esteve ativo durante muitos dias naquela fábrica, que comprime madeira para criar energia, aparentemente, limpa", disse.

Segundo o autarca, "a autoridade de saúde esteve a acompanhar a situação" e "não relatou qualquer situação de saúde pública".

Além de entender a preocupação de "quem, porventura, estivesse a sentir os efeitos do fumo do incêndio", o autarca considerou que, caso existisse um problema de saúde pública, a autoridade teria agido "de forma diferente".

"Compreendo a preocupação, mas não me parece que haja aqui um problema que leve a comunicados, a não ser que, em ano de eleições, certos movimentos que já estiveram ativos há quatro anos queiram criar aqui um ruído à volta de uma coisa que, efetivamente, não existe", argumentou.

No comunicado, o movimento Juntos pelo Cercal defendeu a suspensão imediata deste projeto fabril nas condições atuais, a realização de um estudo de impacto ambiental sobre a saúde humana e ecossistema, independente e público, e a garantia de participação da população nas decisões que afetam o território.

Com Lusa