Os pagamentos continuam a evoluir para formatos mais rápidos e digitais, impulsionados pelo avanço da tecnologia e das novas soluções para os consumidores. O uso do contactless e das transferências imediatas tem crescido ano após ano, enquanto os levantamentos em dinheiro se tornam cada vez menos frequentes, tanto em quantidade, como em valor.

Segundo o Relatório dos Sistemas de Pagamentos, em 2024, os instrumentos de pagamento eletrónicos representaram 99,8% das operações processadas no Sistema de Compensação Interbancária (SICOI), enquanto os pagamentos em papel (cheques e efeitos comerciais) continuam a perder relevância, ficando abaixo dos 0,2% do total - em valor processado, contudo, representaram quase 7%.

O documento, publicado esta quinta-feira pelo Banco de Portugal (BdP), revela que o SICOI, responsável por processar pagamentos de retalho como cartões, transferências, débitos diretos e cheques, voltou a registar um crescimento significativo no ano passado, ao atingir 4,7 mil milhões de operações, num valor global de 776,7 mil milhões de euros.

Trata-se de um aumento de cerca de 11% no número de pagamentos e de 5% no valor transacionado, face a 2023. Contas feitas, num ano que se fez de crescimento para a economia portuguesa, os consumidores realizaram 12,8 milhões de pagamentos eletrónicos por dia, no montante de 2,1 milhões de euros. A média por operação foi de 165 euros.

A assinalada preponderância dos métodos digitais não surpreende, uma vez que têm vindo a crescer anualmente desde 2013, com exceção do período da pandemia. No ano passado, os portugueses levantaram dinheiro com menos frequência e em valores mais baixos do que no ano anterior.

Desta forma, os cartões bancários mantiveram-se como o meio preferencial dos consumidores, registando um total de 4,2 mil milhões de operações, o que corresponde a 89,5% do número de pagamentos no SICOI. Não obstante, ressalva o supervisor, o crescimento em quantidade (5,8%) foi o mais baixo desde 2018, o que poderá indicar uma certa estabilização do seu uso.

O valor total das compras com cartão foi de 120,4 mil milhões de euros, um aumento de 9,3% face a 2023. As compras online com cartões nacionais também subiram de forma significativa: 37,2% em quantidade e 38,3% em valor. Destaque para as transações contactless, que aumentaram 24% em número e 26,9% em valor, representando mais de metade (56,7%) das compras presenciais - antes da pandemia, não passavam dos 8%.

Num quadro geral, as transferências cresceram 24%. Mas, as transferências imediatas, que permitem a movimentação de dinheiro entre contas em tempo real, embora representem ainda uma fatia pequena na categoria, cresceram 46,4% em quantidade e 47,2% em valor, o que demonstra uma adoção acelerada por parte dos utilizadores, sobretudo particulares. O valor médio destas operações foi de 1506 euros, acima de 2023.

O BdP explica que este fenómeno foi influenciado não só pela regulamentação europeia - os bancos passaram a ser obrigados a oferecer transferências imediatas sem custos superiores às transferências normais-, mas também por iniciativas nacionais, como o novo serviço de confirmação de beneficiário e o SPIN.

Em causa está um sistema que permite fazer transferências utilizando o número de telemóvel ou o Número de Identificação de Pessoa Coletiva (NIPC), e que conta, atualmente, com 403 mil associações ativas entre um identificador e um IBAN, sendo 17 mil de empresas e 386 mil de clientes particulares. O banco central assegura que este sistema ajudou a reduzir as fraudes por manipulação do ordenante (esquemas como o “olá, pai. olá, mãe”).

Os débitos diretos, por sua vez, mantiveram uma utilização estável, continuando a ser amplamente utilizados para o pagamento automático de despesas regulares, como rendas, serviços públicos ou telecomunicações. Em média, cada consumidor fez 22,8 pagamentos por débito direto ao longo do ano passado, num valor total médio de 4000 euros por pessoa.

No que diz respeito à segurança, o banco central diz que a taxa de fraude nos pagamentos eletrónicos em Portugal manteve-se em níveis reduzidos, com os débitos diretos a apresentarem um dos menores índices. Por outro lado, enquanto as transferências a crédito registaram 16 fraudes por milhão de operações, os cartões bancários tiveram a maior incidência (129 fraudes por milhão de operações).