
O aviso veio de quem sabe o que diz e enviado por um canal adequado para chegar aos jovens. Agora, falta ver se terá resultados. Em causa está o alerta lançado ainda este mês de agosto pelo chanceler alemão, Friedrich Merz, através do YouTube, para que os jovens não dependam apenas das reformas garantidas pelo Estado e comecem a investir de forma regular pequenas quantias no mercado acionista. Um conselho que mereceu duras críticas por parte dos fortes sindicatos germânicos.
O poderoso sindicato dos metalúrgicos IG Metall, segundo o jornal “Financial Times”, classificou a proposta do chanceler alemão como "desconectada da realidade e perigosa". É que, segundo a estrutura representativa dos trabalhadores, “em vez de promover planos de previdência privada baseados em ações, ele [Friedrich Merz] deveria fortalecer o problemático sistema de reformas”.
O sistema público de reformas alemão foi fundado no século XIX (1889), pelo então chanceler Otto von Bismarck, tendo sobrevivido a guerras e crises, mas, sublinha o jornal britânico, “enfrenta agora um desafio ainda maior, à medida que a força de trabalho envelhece e diminui”.
Até 2036, a Alemanha terá 19,5 milhões de reformados, enquanto, recorda o “Financial Times” citando o Instituto de Pesquisa Econômica de Colônia (IW), apenas 12,5 milhões de jovens trabalhadores terão ingressado no mercado de trabalho. O que representa uma queda de 9% na força de trabalho. E, em 2040, serão necessários 100 trabalhadores alemães para sustentar 41 reformados, em comparação com os atuais 30 que são necessários atualmente, segundo as previsões do IW.
Novo subsídio para os mais jovens
Entretanto, o governo alemão prometeu a atribuição de um novo subsídio, vocacionado para crianças entre 6 e 18 anos. Assim, a partir de 2026, os pais poderão solicitar 10 euros por mês para investir num plano de poupança mensal em ações para seus filhos. Os fundos deste investimento regular ficarão reservados até que os jovens atinjam a idade de reforma.
Embora, o problema afete outros países da UE - com os estados-membros a aplicarem uma média de 12 por cento do PIB em programas públicos e muitos, como Portugal, a enfrentarem também um forte declínio demográfico -, o “Financial Times” recorda que “o caso alemão é particularmente grave”. "A cada ano, cerca de um quarto do orçamento federal — € 117,9 mil milhões em 2024 — é usado para tapar buracos no sistema de segurança social”. E, “com as políticas atuais, esse ónus deverá aumentar”, segundo as previsões de 2024 do Tribunal de Contas.