A presidente do Banco Central Europeu (BCE) admitiu nesta quarta-feira que a política de tarifas implementada por Donald Trump vai travar o crescimento da economia europeia no terceiro trimestre. Falando em Genebra, no Conselho Empresarial Internacional do Fórum Económico Mundial, Christine Lagarde afirmou: “Acordos comerciais recentes aliviaram, mas certamente não eliminaram, a incerteza global”, acrescentando que “um índice de incerteza da política comercial global caiu para quase metade em relação ao pico registado em abril, mas permanece bem acima da média histórica”.

Segundo Lagarde, “a economia da zona euro mostrou-se resiliente no início deste ano perante um ambiente global desafiante”. Isso deveu-se principalmente a dois fatores: em primeiro lugar, a economia europeia orientada para a exportação beneficiou da antecipação global, crescendo mais do que o esperado no primeiro trimestre. Em segundo lugar, o motor de sustentação da economia tem sido o consumo privado e o investimento. Além disso, o mercado de trabalho continua robusto: a taxa de desemprego — de 6,2% em junho — pouco variou ao longo do último ano, enquanto a população ativa continuou a aumentar.

A líder do BCE destacou que o acordo celebrado entre a União Europeia e os Estados Unidos (com tarifas alfandegárias médias de 15%) ficou aquém do cenário mais grave considerado pelo BCE. “O acordo comercial estabelece uma tarifa média efetiva estimada entre 12% e 16% para as importações de bens da zona euro pelos EUA. Essa tarifa média efetiva é ligeiramente superior — mas ainda próxima — das premissas utilizadas nas nossas projeções de base em junho passado”, acrescentou Lagarde.

“O resultado do acordo comercial está bastante abaixo do cenário severo de tarifas norte-americanas superiores a 20% para produtos da zona euro, previsto nas projeções de junho. Ao mesmo tempo, a incerteza persiste, já que as tarifas setoriais sobre produtos farmacêuticos e semicondutores continuam indefinidas”, referiu a presidente do BCE, acrescentando que “a equipa do BCE terá em consideração as implicações do acordo comercial UE-EUA para a economia da zona euro nas próximas projeções económicas de setembro, que orientarão as nossas decisões nos meses seguintes”.