

Que não falte Viktor Gyokeres ao jogo do Sporting. Peça chave para a evolução do modelo de jogo de Ruben Amorim, que passou a complementar uma forma mais direta de superar pressões, o avançado sueco está a ser fundamental para os leões já com Rui Borges e, numa fase de menor envolvimento coletivo, também em virtude da onda de lesões, recuperou esse impacto, bem evidente na vitória diante do Casa Pia (3-1).
Depois de vários jogos condicionado ou mesmo lesionado, o avançado sueco está cada vez mais perto da melhor versão, ganhando duelos pela força física, atacando espaços e oferecendo soluções mais diretas para o jogo dos leões. Sem o sueco, seria difícil imaginar que, a jogar tantos metros longe da baliza, o Sporting fosse tão ameaçador como o foi diante do Estoril Praia e do Casa Pia.
Ambos os jogos tiveram não só um contexto semelhante como roteiros igualmente parecidos. Diante de duas das equipas mais interessantes nesta fase da Primeira Liga, o Sporting defrontou linhas defensivas subidas e com espaço para aproveitar nas costas. Sem Viktor Gyokeres, não haveria nenhum jogador no plantel dos leões (Conrad Harder tem outra capacidade em diagonais mais perto da área) capaz de ser tão ameaçador recebendo bolas e atacando espaços perto da linha de meio-campo.

Em Alvalade Pedro Álvaro fez um jogo individualmente repleto de erros e, em Rio Maior José Fonte e João Goulart estavam, desde o início, condenados a sofrer perante a potência escandinava. Além do que melhora no jogo do Sporting, há uma dimensão algo desvalorizada no jogo de Viktor Gyokeres pela forma como obriga a adaptações e a ajustes constantes ao adversário.
Defender demasiado baixo, com linhas juntas e reduzindo espaços, oferecendo a iniciativa do jogo ao Sporting, permitindo à bola chegar perto da baliza é jogar ao sabor da ampulheta, esperando que o tempo passe mais rápido do que os grãos da areia a cair indicam, e abdicando de qualquer objetivo na frente. Subir linhas e cortar possibilidades ao Sporting para sair curto aumenta o espaço nas costas para as corridas do sueco que consegue segurar bola ou partir para a frente e ultrapassar adversários.
É neste contexto que nasce o segundo golo do Sporting contra o Estoril Praia e contra o Casa Pia. Diante dos gansos, é por demais evidente uma terceira dimensão do jogo do sueco que também não tem os elogios devidos em muitas alturas. É certo que Viktor Gyokeres será sempre mais impactante quanto maior for a força física para superar duelos e quanto mais potente for a aceleração e a procura do espaço, mas o sueco está bem longe de ser um jogador sem recursos individuais para desequilibrar.
Mesmo não tendo a irreverência e a panóplia de dribles de um extremo puro, muito menos a fineza em espaços curtos de um 10 às antigas, Viktor Gyokeres tem recursos individuais para, em cenários de transição, fazer estragos. A mudança de velocidades e a capacidade de usar os dois pés permitem ao número 9 do Sporting resolver lances de forma praticamente individual.
O Sporting atingiu, pela primeira vez na era Rui Borges, a marca de três vitórias consecutivas, duas delas com o patrocínio de Viktor Gyokeres. Se quando tudo estava bem era demasiado redutor dar ao avançado da máscara os créditos todos pela sintonia com que era praticado o futebol pela turma de Alvalade, nesta fase da temporada, a influência do ponta de lança é ainda maior.
Quando chegou a Portugal no verão de 2023, Viktor Gyokeres estava repleto de um mar de dúvidas naturais face ao desconhecimento da realidade competitiva do Championship e da etiqueta de 24 milhões de euros colocada na fatura da compra do passe do sueco. Muito mudou desde aí, mas o reconhecimento de que Portugal está perante um dos mais entusiasmantes avançados na última década é praticamente unânime.
A Suécia tem destas coisas e, muito em breve, será ao som de Bara Bada Bastu que Viktor Gyokeres será propagado em edits na Internet com compilações dos melhores momentos do sueco. Desde 1998 – ano de nascimento do avançado – que os nórdicos não levavam uma música à Eurovisão na sua língua natural e, numa demonstração de alguma surpresa, assim o fizeram. Um pouco como a chegada do sueco ao Sporting: tinha todos os ingredientes e as desconfianças para ser olhado de lado, mas revelou-se um verdadeiro sucesso.
BnR na Conferência de Imprensa
Bola na Rede: O Sporting nos últimos 2 jogos defronta equipas com uma linha defensiva subida e em ambos conseguiu acionar o Gyokeres na profundidade. Qual a influência que tem o sueco na preparação de um jogo com estas características, fazendo o comparativo ao período em que o Gyokeres esteve lesionado ou condicionado?
Rui Borges: Não fugimos à importância do Viktor [Gyokeres]. É impossível fugir à importância do Viktor por tudo o que dá à equipa e transmite aos colegas e aos adversários. É um fenómeno. É fenomenal, tem tudo: técnica, força, velocidade. É impressionante. Sinceramente, e já dizia isso antes de trabalhar com ele, acho que é dos melhores avançados que passou pelo nosso campeonato. É clara a importância dele na nossa equipa, seja com blocos altos, seja com blocos baixos. É muito importante por tudo o que dá. Não adianta dizer muito mais do que isso, a importância dele é grande e isso é claro e bem demonstrativo da sua capacidade de fazer golos. A equipa sente isso, sabe disso e agarra-se um bocado a isso nalguns momentos. Faz parte. Enquanto equipa temos características coletivas e individuais e temos de saber aproveitar aquilo que cada um dá. O Viktor, o Trincão, o Quenda, o Geny, principalmente a malta da frente. Há diferença em jogar com o Morita porque tem capacidade e uma leitura de jogo muito à frente. Também já o dizia antes de ser treinador dele. É um jogador que me encheu o olho quando o defrontei, o Morten [Hjulmand] igual. Por tudo o que tem sido o passado deles no clube, para lá da qualidade individual, são jogadores muito importantes no processo do clube.
Bola na Rede: O Casa Pia tentou frequentemente atrair o Sporting à esquerda para chegar pela direita, com o Larrazabal em profundidade. Nesta estratégia, o que foi valorização dos jogadores do Casa Pia, o que foi tentativa de explorar o adversário e o que faltou para uma melhor definição dos lances?
João Pereira: É o que disse. Havia uma estratégia. Queríamos nalguns momentos entrar entrelinhas com o Miguel [Sousa] como terceiro médio, falso extremo a aparecer nas costas dos médios, um bocadinho à semelhança do que fazia o Nuno Moreira. Era a nossa estratégia e a partir daqui algumas profundidades alternadas com o [Leonardo] Lelo. Sabendo que o [Ricardo] Esgaio tem sido competente naquela posição, não é uma posição natural do Esgaio e às vezes falha na orientação dos apoios. Queríamos atrair o Sporting para entrar na profundidade. Mais importante foi aquilo que disse, e é uma excelente análise nesse sentido, faltou definição. O futebol é isto e quando jogamos contra equipas grandes temos de ser concretizadores. O resultado estava 2-1 e aos 45 minutos há uma bola que era algo estratégico da nossa parte. Se repararem, foi um autogolo, mas há uma exploração do espaço que, no início da segunda parte, tentámos explorar o mesmo espaço. Faltou verticalidade para o conseguirmos explorar e tivemos o lance do [José] Fonte. Se marcássemos – e é o “se” – a história podia ter sido diferente. Tivemos de ir atrás do resultado. Ficámos expostos no segundo golo e é algo que não pode acontecer, principalmente contra uma equipa que tem o Gyokeres na frente. Na minha opinião é o melhor avançado a atuar em Portugal. Não podemos permitir isso nem sofrer da forma como sofremos um golo de canto aos 10 minutos. As equipas ditas pequenas não podem sofrer golos de bola parada contra os grandes e nós sofremos. Fomos incompetentes nesse momento e na forma como não conseguimos equilibrar. Depois tivemos um penálti que ainda não pude confirmar. Há várias discussões, eu ainda não pude confirmar e honestamente não vou falar sobre isso.